Capítulo 11

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Passo o resto da tarde lendo e escrevendo. Tento escrever todos os dias para não perder o hábito e exercitar minha escrita, já que pretendo trabalhar com isso futuramente.

Quando eu estava na sexta série minha professora me emprestou um livro, e no mesmo dia eu o li por completo. E eu me apaixonei perdidamente pela leitura, li todas as obras de Machado de Assis, Pedro Bandeira, Marcos Rey e muitos outros.

Conheci diversos romances e escritores não brasileiros, e me apaixonei mais ainda. Infelizmente eu não lembro mais o nome do primeiro livro que li, mas jamais esquecerei de sua história.

Eu gosto de pensar que os livros me salvaram, eu não sei do que, mas eles me salvaram e ainda continuam me salvando todos os dias. É interessante de pensar o que se passa na cabeça de cada escritor quando escreve algum livro. 

Suspiro e vou até janela dessa vez a fechando por conta do anoitecer, Loris já não está mais encostada lá, talvez esteja lá dentro bebendo.

Após o jantar eu volto para o meu quarto, e converso durante quinze minutos com a minha mãe, não contei a ela sobre minha nova aparência, porque quero que seja uma surpresa para ela, como foi para mim também.

Loris aparece na porta da minha casa as nove e cinquenta da noite, extremamente arrumada. Ela me beija na bochecha e eu sinto a fragrância de seu perfume forte e sexy, combina com seu batom vermelho e seu vestido preto colado, ela usa as mesmas botas de sempre.

– Você ta linda – eu falei, meio hipnotizada e ela sorriu. Pareceu ficar envergonhada.

– E você então, você está demais Liv – ela disse perto, tão perto que eu senti o cheiro da bala de hortelã. Ela abaixou a cabeça e deu uma risadinha – Assim fica difícil de resistir.

Então não resista, falhe.

– Você vai à algum lugar?

– Nós vamos, se arrume. Vou te esperar no bar tá bom? – ela disse – Até mais Liv.

Quando Loris saiu, eu fui direto para o meu quarto e a vi encostada como sempre fica. Ela estava me esperando,  uma garota maravilhosa me esperando. Tomei meu banho e coloquei o vestido novo que comprei.

Um preto básico, que deixou meus seios mais atraentes e eu pensei em tirar. Mas não, eu não vou. Passei uma maquilhagem mais escura que o normal e um batom claro, pra equilibrar.

– Onde você vai assim? – meu pai perguntou surpreso e eu quis rir.

– Eu vou sair – digo e vou até a porta – Com a Loris.

– Certo. Qualquer coisa me ligue e tome cuidado – ele diz e eu assinto saindo de casa.

Quando Loris nota minha presença estou quase terminando de atravessar a rua. Ela sorri para mim e eu consigo ver a devoção em seu olhar enquanto me encara. Eu devolvo na mesma intensidade e ela percebe.

– Você é um combo de coisas boas – ela diz e eu começo a rir.

– Para com isso – dou uma cotovelada nela, quando vem ao meu lado e começamos a andar.

– E ainda é agressiva. Você gosta de atacar ou ser atacada Liv? – ela sussurra no meu ouvido, e as minhas pernas tremem por conta do arrepio.

– Eu prefiro ser atacada – eu respondo olhando para sua boca, e ela passa a língua pelos lábios em seguida sorrindo.

– Eu vou guardar essa informação, é valiosa – ela diz, e entrelaça nossas mãos.

Loris me leva em um museu literário. Quando entramos fico admirada com o design do lugar. É cheio de livros, as paredes são de variadas cores, chama muita atenção.  E o teto é coberto de frases.

– O teto do seu quarto é inspirado no teto daqui? – eu pergunto e ela assente. É umas das coisas mais lindas que já vi na vida.

Loris me leva até outra sala e nessa também está cheia de gente, a vestimenta das pessoas são mais simples como se já fossem íntimos do local. Tem um palco central e uma garota está em cima dele, ela recita alguma coisa e no final todos batem palma.

– Esse lugar aqui é para os amantes de poesia, esse lugar também é seu – Loris diz e nos sentamos.

– Aqui é demais, eu amei – digo empolgada com o lugar.

– Eu quero ver você em cima daquele palco Liv – ela pega na minha mão que está em cima da mesa e deixa um aperto.

– Mas eu não sei o que falar.

– Mas eu sei que você dará um jeito. – ela piscou e eu também, pelo menos tentei.

Um garoto entrou no palco e todos viraram sua atenção para ele.

– Meu nome é Sirhan – ele disse.

– Arrase Sirhan – todos disseram juntos, e eu sorri de animação, que demais.

- Eu estava sentado no meio de um casal - ele começou - Um casal de adolescentes típicos.

ambos mexiam no celular
menos eu, eu não tinha.
eles não conversavam entre si
eu comecei a falar para amenizar o silêncio
e depois eu comecei a observar a cena.
ambos riam para o celular

eu disse

é sério que vocês estão conversando pelo celular? vocês estão do lado um do outro

Eles me olharam
como se fosse loucura o que eu tinha acabado de dizer,
e soltaram uma risada
e eu apenas assenti
sem entender
que tipo de amor é esse.

- Geração avançada - ele disse no final e todos bateram palmas, eu estremeci.

– Isso foi....

– Épico – Loris terminou minha fala.

Uma garota subiu no palco, e suspirou fundo sobre o microfone. Ela estava nervosa.

– Meu nome é Sarah – ela disse, e pude notar sua delicadeza.

– Arrase Sarah – todos nós dissemos. Realmente estava meio cheio a sala.

Vamos lá Sarah, você consegue.

- Eu andei te observando - ela disse firme, olhando no olho de cada um de nós.

você não disse nada sobre isso
mas eu sei o que te aflige
eu sei porque está assim
você finalmente consegue entender
que a infância foi a melhor parte da vida
e que o tempo nunca mais vai voltar
para você sorrir como sorria.

- Quando as crianças crescem - ela diz no fim. E eu limpo a tempo a lágrima que ia escorrer no meu rosto. Ela escreveu verdades sobre todos nós.

Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Where stories live. Discover now