Único - Teste de confiança

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Ir dormir tarde por ficar até altas horas assistindo filme era a morte da minha vida. Eu sabia que precisava acordar 4:40h da manhã, mas ficava querendo assistir mais um episódio ou terminar o filme - o que eu estivesse assistindo - e acabava ficando acordado até uma e pouca da madrugada. Já era normal, porém, isso não queria dizer que eu era acostumado e gostava disso. Quem gosta de dormir menos de 8 horas por dia? Eu que não.

E como toda ação tem sua reação, eu sabia que chegaria um dia - com a sorte que tenho, seria em um dia importante - em que meu corpo pediria arrego e eu iria ficar sem ouvir o despertador. A confirmação de que este dia estava próximo, era justamente o dia de hoje.

Os periquitos da minha mãe estavam cantando muito alto e eu comecei a me remexer, ficando com raiva e despertando do sono somente para brigar. Eu estava prestes a levantar, quando percebi que ainda era dia de semana e eu tinha aula na faculdade.

Procurei pelo meu celular. 5 horas e 12 minutos. Joguei as cobertas para o lado e levantei da cama com pressa. Benditos periquitos, até que tinham servido para alguma coisa.

Corri em direção ao banheiro, arranquei minhas roupas e tomei um banho rápido. Voltei para o quarto e procurei o que vestir, pouco me importado de estar colocando uma calça gasta e uma blusa velha. A regra era usar roupa, não era? Ter estilo ou ficar na moda já era outra história, história essa que eu não estava afim no momento.

Procurei por café, porém, olhei a hora e me desesperei. Eu precisava sair de casa 5:40, então não daria para me alimentar nenhum pouquinho. Um pouco chateado – por ficar sem comer – fui escovar os dentes e pôr meus óculos.

Peguei minha mochila, joguei nas costas, puxei a chave do chaveiro e saí correndo de casa. Assim que fechei o portão, meu ônibus se aproximava. Fiz sinal – mesmo sem estar no ponto – e quase chorei de alegria ao perceber que não iria perder minha condução, porém, lembrei que o ônibus deveria estar cheio e senti vontade de chorar. Era uma inconstância mesmo.

Já não bastava estar sem comida? Ter acordado atrasado? Estar com sono? E daí que eu quem procurava essas complicações? Preciso da minha diversão, se não eu piro na faculdade. A vida se vive só uma vez, não tem o botão de restart para tentar uma nova chance de viver não. Eu sempre arrumava um tempo para me distrair, mesmo que eu soubesse que iria me atrapalhar depois.

Apesar de todo o conflito entre meu pessimismo e otimismo, o ônibus tinha bastante lugar sobrando e eu não precisaria ir em pé. Aquilo era um sonho? Porque se fosse, periquitos, não precisam me acordar não.

Coloquei o fone de ouvido, que eu nem tive tempo de pôr antes de correr para fora de casa, encostei minha cabeça no banco do ônibus e dormi. Só soltaria no ponto final mesmo, não precisava me preocupar.

Depois de um tempo, senti o ônibus parar e o barulho do motor sumir, então percebi que era hora de despertar. Coloquei a mochila nas costas e fiquei na fila, esperando minha vez de descer. Olhei para o relógio e vi que não era tão tarde assim, daria tempo para ir encontrar o tal do meu novo parceiro no projeto de fim de curso. As turmas de canto se misturariam com as de dança, para que um festival fosse feito. Fui sorteado para ficar com um tal de Kim Jongin. Disseram-me que ele era o melhor e fiquei feliz por isso, esperava ser da altura dele.

Minha vez de descer estava chegando. Bocejei, olhei para a hora em meu celular e vi que eu já podia descer do ônibus. Desci um degrau e iria descer o último, quase colocando o pé no chão, quando um rapaz – de mochila nas costas – passou correndo bem na minha frente e fez com que eu me jogasse para trás, afim de evitar um acidente. Na mesma hora, me recuperei e desci do ônibus com pressa.

-YA! VOLTA AQUI E PEÇA DESCULPAS, SEU IDIOTA! EU PODERIA TER ME MACHUCADO! – gritei. Eu não costumava ser assim, mas tinha ficado irritado. Eu podia ter me ferido.

HanabiraWhere stories live. Discover now