A Garota Do Arcanjo | Capítulo Vinte e Nove

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— Foi quando fizemos um projeto de artes, trabalhamos juntas para tentar recriar uma pintura clássica — riu Clarissa, quando entregou a foto para Elisa. As duas apareciam na imagem, ambas completamente manchadas com tintas de todas as cores e sorrindo, sem se importar com a bagunça.

Parecia que haviam saído de algum jogo de paintball, os cabelos loiros de Clarissa estavam manchados de azul e vermelho, Elisa tinha manchas cor-de-rosa por todo o rosto e os cabelos colados por tinta branca. O chão forrado com jornal estava marcado com várias cores e os pés descalços das meninas estavam pintados da mesma forma. Pareciam felizes, ambas exibiam sorrisos sinceros nos rostos manchados de tinta e congelados na fotografia.

— Parece que nos conhecemos há muito tempo — murmurou Elisa, passando a mão pela foto como se pudesse sentir sua textura, adentrar a fotografia e reviver o momento. A expressão animada de Clarissa pareceu se derreter por um segundo, o que fez algo se apertar dentro de si.

A loira havia achado um álbum de fotos na própria estante e separado as fotografias com Elisa, esperando que isso pudesse clarear suas memórias. Clarissa sempre parecia disposta a ajudá-la com seu passado, mas a ruiva não estava tão certa de que aquilo surtia efeito ou de que queria continuar ouvindo histórias sobre a garota que costumava ser antes de aparecer naquele salão sem qualquer memória.

Odiava ver a expectativa no rosto de Clarissa, odiava ver como ela se animava ao falar da fotografia, como se Elisa de repente fosse se lembar daquele momento, como se pudesse recuperar suas memórias se falasse sobre quem a ruiva era. Era aquilo que lhe fazia se sentir mal. Odiava ver a expectativa quebrada nos olhos de Clarissa quando percebia Elisa que não tinha a mínima noção do que ela estava falando, odiava como a loira se animava e esperava que a ruiva retribuísse, mas simplesmente não sentia nenhuma fagulha de emoção quando ela falava sobre o que costumavam a fazer juntas em seu passado perdido.

E também porque Clarissa esperava que Elisa ainda fosse aquela garota da fotografia, mesmo que mal a conhecesse.

— Nos conhecemos desde o ensino médio — respondeu, dando de ombros ao colocar a fotografia junto com a pilha bagunçada em cima de sua cama. Estavam no quarto dela, afinal, e Elisa estava curiosa sobre todos os livros e papéis espalhados pela escrivaninha, mas sentia que seria invasivo perguntar sobre o que ela escrevia. — Muita coisa aconteceu desde então — emendou, com um suspiro baixo. Elisa via que ela tentava controlar sua própria frustração, mas não conseguia.

— Quem é essa? — perguntou, inclinando-se para pegar uma fotografia onde as duas estavam abraçadas em um sofá e havia mais uma terceira garota com um copo descartável azul na mão. Parecia ser uma festa pelas luzes coloridas no fundo, estava usando um vestido curto e brilhante, azul-marinho e as outras garotas também usavam roupas chamativas.

Pelo copo de plástico na mão da terceira garota, podia presumir que ela tomava alguma bebida alcoólica.

— Você realmente não se lembra? Nenhum palpite ou intuição? — indagou Clarissa, como se não pudesse realmente acreditar que houvesse se esquecido totalmente. Elisa olhou mais uma vez para a foto, se esforçando para tentar achar qualquer familiaridade naquele rosto, ciente do olhar cheio de expectativas da loira sobre si.

Voltou-se para ela, tensionando os lábios e movendo a cabeça de forma negativa. Nem mesmo um pequeno palpite de quem era aquela menina na vida das duas.

— Ela é sua prima, vocês moravam juntas — disse, com um ar distante enquanto encarava a foto. Aquilo foi como um soco no estômago. Sua própria família. Não conseguia se lembrar nem mesmo se sua própria família.

Talvez Clarissa tenha percebido sua expressão tensa quando lhe encarou, ou a decepção que sentia enquanto olhava para a foto, mas piscou de forma preocupada.

Delírio | Criaturas CelestiaisWhere stories live. Discover now