Seus olhos estavam fechados.
E ela quis mantê-los assim.
Obstringia-os mais a cada instante
Enquanto travava a guerra
Que havia se tornado.
O vazio a torturava
O silêncio a corroía internamente
Mas ela sempre soube que seria doloroso
E por mais lancinante e temível que a escuridão se fizesse
Era melhor do que sentir
Era melhor do que lembrar.
Seu corpo, marcado por memórias
Reagia com impulsão
Aos toques do passado
Aos sabores que não disseram adeus
Ela não queria pertencer àquilo
Ela nunca pediu
Mas, enquanto suas palavras, mentirosas, a faziam negação
Seu paulatino caminhar a conduzia
Sutilmente
À destruição que se materializou
Em você.
Era repulsivo e vicioso
Cortante
E perigosamente convidativo.
O sorriso seco que escapou de seus gélidos lábios
Carregava mais lembranças do que ela poderia suportar
Feridas abertas e invisíveis faziam morada
Ocupando e revirando
Os pensamentos mais pacatos
E estrondosos.
O pânico que visitava suas noites
Já não causava tanto efeito
Já não a incomodava
Porque, honestamente
Todo sofrimento que circundava seus dias
Havia se tornado habitual.
Ela não abriu os olhos naquele dia
Ela não sentiu
Ela não lembrou
Mas ainda estava ali
Atingindo-a e machucando-a
E nunca mudaria.
A névoa da noite a envolveu com cautela
E ela se rendeu à infinidade temporal daquele momento
Que logo se tornaria mais uma memória frívola e confusa
Apenas
Como
Você.
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Intrinsic
Poetry[FINISHED] Estava ali. Bem ali. No meio de toda aquela balbúrdia de pensamentos e palavras No meio do caos Do seu próprio caos Enquanto todo o resto havia se esvaído entre seus dedos como pó, como água Aquilo foi agarrado com força por suas gélida...