1 - BAILE SANGRENTO

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1 HORAS ANTES

ELLA 

              Há muito tempo, antes mesmo do ser humano erguer castelos e iniciar batalhas, antes do homem conhecer a palavra pecado, o poder existia e andava entre as pessoas através da Promessa, alguns livros de histórias diziam que era uma fonte de poder inimaginável dada pelos deuses para que os seres humanos tivessem seus governantes, algumas lendas diziam que era algum tipo de maldição que perseguia e assombrava os pobres escolhidos que possuíam poder incontroláveis e perigosos. Eu via o medo no rosto dos cidadãos quando desfilava de carro aberto, ou até mesmo os criados que tentavam ao máximo fazer seu serviço o mais depressa possível quando entravam em meu cômodo, isso era um tormento, principalmente, porque entendia seu medo. Além da minha recente transformação, na qual grande parte da população já tenha passado na vida, a perca do controle em horas de pura raiva eram bem evidentes, como a vez em que metade do castelo, supostamente, pegou fogo. No entanto, o dia da minha apresentação havia chegado e, por isso, repetia para mim mesma durante todo o trajeto do meu quarto até o salão de festas que devia manter minha compostura. O vestido, em parte, ajudava nos movimentos graciosos e revelava um grau de inocência e pureza. Um lembrete de quem eu sou. Uma prometida. A portadora celestial. Um bem precioso e cheio de poder, e que, pelo o que parece, todos queriam agarrar. Além de mim, existia cinco prometidos, e apenas um seria o meu futuro marido. Fazia anos que uma menina prometida não nascia, e quando meu primeiro choro atravessou todo o Atlântico, os Reis tramavam para disputar a minha mão para um dos seus filhos. E hoje eu conheceria um deles no qual odiaria para o resto da minha vida.

A cada passo apressado, sentia minhas mãos começarem a formigarem enquanto preparava o sorriso falso para a minha entrada triunfal. Ensaiava com o dia da minha apresentação desde da minha adolescência, entretanto, aquela noite estava sendo péssima. Queria gritar e espernear, matar e trucidar os nossos inimigos, aqueles que gentilmente, entrariam naquela noite em meu lar com aquilo que me prometeram, com aquilo que eu mais amava no mundo. Jurei para minha mesma, que se minha mãe estivesse machucada, mataria um a um. Tenho poder suficiente para isso não?

Lembro como se fosse ontem. Simplesmente desaparecera. Os criados disseram que a viram no jardim antes de sumir. Porque não havia guardas ao seu redor? Eles sabiam os riscos que corríamos com uma guerra sendo travada. Minha mãe era prometida, tinha poderes e mesmo assim não conseguiu escapar das mãos do meu inimigo.

Assim que soube, uma lágrima escorreu de meu rosto e sai do escritório real, passando em frente ao meu quarto e correndo para fora do castelo. Gritei, me transformei sem me importar em tirar o vestido e corri em direção a floresta. Cheguei apenas depois do pôr do sol, e encontrei meu pai com a postura rígida e olhos cravados em vários documentos encima de sua mesa. Ele apenas ergueu o olhar questionador e disse "Se eu perder você também, não terei mais herdeiros apropriados". Nunca iria me acostumar com as paredes frias do castelo, ou a falta de importância que todos tinham com o próximo. Ele havia falado de uma maneira que não se importasse com meu bem-estar, apenas teria que viver para casar, procriar e morrer. Naquela noite em diante não pude dormir, imaginei por quantas coisas ela podia estar passando...

Parei por um segundo antes de continuar em frente. O corredor estava iluminado apenas por alguns carmaços, pássaros amarelos que reluziam luz por livre natureza preso em gaiolas, sempre que passava por ali, eles se encolhiam no canto mais afastado possível da cela. Eles tinham medo de mim. Até pássaros. Dei apenas um sorriso diante da ironia que a minha vida estava se tornando. Usava luvas desde dos 9 anos, não podia tocar em qualquer móvel porque eles viravam cinzas em questão de segundos. Carregava a morte dentro do meu peito, do meu corpo. Dobrei a esquina e olhei através do espelho, no qual observei o penteado que sustentava meus cachos em um coque bagunçado, admirei o vestido verde cheio de renda e esvoaçante completado com o salto alto verde. O decote mostrava mais do queria, ao mesmo tempo, que mostrava certa suavidade. Continuei a andar, depois de fitar o meu desespero nos olhos azuis marinhos.

A entrada triunfal que tanto planejava, teve mais efeito do que imaginei. Assim que passei pelas portas enormes de madeira rústica, todos olharam em minha direção.

Sabe qual é a sensação? Todos calarem a boca no mesmo minuto e olharem para você como se fosse um animal selvagem prestes a perder o controle?

Caminhei lentamente com um sorriso amigável, passando pelos convidados e os cumprimentando com gentileza, e sorri mais ainda quando me aproximei do altar, levantando as barras do vestido. As pessoas cochichavam sobre mim, isso era bem evidente. O modo como olhavam e conversavam comigo, aguardando qualquer deslize para me prender em algum lugar. O Rei e a Rainha são prometidos e conquistaram o povo de uma maneira que nunca conseguira. Sentada no trono, ao lado do meu pai, podia observar todos os convidados. Uma mulher, aparentemente de outro reino, vestia um vestido roxo e encantava a todos no salão com sua beleza afrodisíaca, sua pele negra e impecável trajava um sorriso forçado. Ela realmente não queria estar ali, era palpável esse sentimento de repulsa. Nesse momento, lembro vagamente das aulas de história com meu tutor. Pele negra. Beleza implacável. Ela era uma Amazona. Não devia estar ali, Amazonas não gostavam de ter um rei, eram donas de si mesma. Senti o pânico crescer dentro de mim, mas antes que uma palavra saísse de minha boca, as portas do salão principal se abriram. E ele entrou. Por um momento, meus olhos se arregalaram e nem percebi quando prendi a respiração. E eu o olhei como se fosse devora-lo.



WILLIAM CAHLIDE

Ella olhou como se fosse me devorar. Seus olhos azuis escuros me encararam quando se levantou bruscamente. Parecia um animal selvagem, aguardando o momento certo para abocanhar, trucidar e matar. Entretanto, aquilo jamais poderia assustar alguém como eu. Na verdade, era menor dos meus problemas no momento. O glorioso Rei de Eisen, sentado em seu trono de prata, ostentava uma coroa de pedras preciosas e ouro, trajava uma vestimenta vermelha e uma capa tecida por linhas de ouro. A beleza do seu rosto era estonteante e possuía traços finos e rígidos para um homem de apenas 46 anos. Encarei seu rosto inexpressivo e sorri. Simplesmente sorri de modo casual. Sabia enganar Reis e Rainhas desde de muito novo, era um dom. Andei ao lado do meu pai, Rei de Morrien, que ao invés de possuir cabelos loiros e olhos cinzentos como Benton Mortw, possui traços elegantes, cabelos negros encaracolados e olhos dourados. Eu era uma cópia exata de suas feições e corpo, porém, com o queixo quadrado da minha mãe.

Paramos em frente do rei e nos ajoelhamos. Assim que levantamos, ouvi meus guardas atrás de mim, prontos e aguardando qualquer movimento brusco e levemente perigoso.

Ella havia se sentado, reconheceria aquele rosto em todos os lugares. Cabelos ruivos eram raros, apenas as prometidas tinham esse privilégio.

"Sejam bem-vindo, Rei Cahlide e príncipe William" disse o Rei a nossa frente que se levantou e fico perto o suficiente para nos intimidar e acabou falhando miseravelmente.

Quando Ella se levantou, aparentemente, todos da sala deram um passo para trás enquanto ela se aproximava. Durante os anos em que treinava e aprendia, ouvi histórias de seus feitos, dos poderes incontroláveis e de como suspeitavam que ela matara o irmão quando nasceu. Uma vida pela outra. Diziam que quando Ella chorou pela primeira vez ao nascer, seu irmão caiu no chão no mesmo instante e se contorceu até morrer. Ela percebeu o que havia acontecido mais ignorou. Parecia... acostumada com o medo.

"Quero ver a minha esposa, antes de qualquer pacto" disse o Rei com a voz calma, enquanto Ella nos fuzilava com o olhar.

Mas havia algo errado. Percebi antes de todo mundo, ao mesmo tempo que Ella, que olhou diretamente para uma mulher de vestido roxo que saia do local de maneira discreta. Era uma Amazona, ela sorriu em nossa direção e saiu correndo. E tudo aconteceu muito rápido.




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⏰ Última atualização: Aug 06, 2019 ⏰

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