Capítulo 1

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~3 anos e 50 dias depois~

            O frio que as paredes exalam me faz tremer por inteiro. A sensação já não me era nova, mas acredito que acostumar a algo que faz seu corpo se contrair voluntariamente seja impossível afinal de contas ele está lutando ao máximo para reagir a esse frio. Minha capacidade de não sentir o mesmo foi embora junto aos meus poderes naquela maldita guerra.

1145 dias. Esse é o tempo que estou aprisionada dentro dessa jaula como um animal em seu cativeiro, embora eu sempre tenha achado esse tipo de prisão cruel demais até para um animal. As paredes coladas, a solidão, a escuridão, são capazes de arrancar a sanidade mental de qualquer pessoa à força.

Quando sua vida é interrompida, você é forçada pelo seu próprio cérebro à reviver tudo que vivera antes daquilo, uma espécie de escapismo, a única maneira de se transportar para fora daqui é pela minha imaginação que faz com que tudo que se passara antes da desgraça tivesse sido perfeito fazendo com que eu me sinta o mais culpada possível por não ter aproveitado quanto pude.

Minha mente é uma eterna balbúrdia, que se alterna entre os momentos mais felizes de minha vida, que me correm de culpa, saudade e tristeza, e os momentos mais horríveis que passei antes de entrar aqui.

Se não sabe quem eu sou, está tudo bem, porque eu também não sei mais... Mas, eu costumava ser a Filha da Lua. A rainha de Avaron, filha de Marabella e Edward Rosemberg, irmã mais nova de Lauren e Mary Rosemberg, melhor amiga de Arya Stark e namorada secreta de Luke Johansson. Eu era tudo isso antes da Guerra Sombria... Antes da minha tia, Isabel Rotemberg, junto à minha prima Eleanor e ao meu meio-irmão adotado, Richard Wylfer, invadirem Avaron com suas tropas e destruírem tudo que eu amava. Minha família, meu povo, meu próprio sangue.

Desde então, eu vivo aqui. Presa com uma flor mágica, formada pelo cadáver de minha irmã brutalmente assassinada, que brilha dia e noite me mantendo viva. Não como, não bebo, não faço absolutamente nada. Passei meus últimos 1145 dias deitada num colchão velho lamentando a minha vida. Isabel estava certa sobre algo quando me prendeu aqui, ninguém viria me procurar, todos acreditariam que eu estava morta, até porque, sem meus poderes eu era para estar morta se o corpo de minha irmã não tivesse se transformado nessa flor azul.

Os dias aqui costumam ser os piores possíveis, se assim posso dizer. A prisão nessa caixa de 3 metros quadrados me faz enlouquecer a cada dia mais, a escuridão que ocupa minha vista me faz querer sucumbir à mesma e a falta de esperanças de sair daqui só me faz querer morrer.

Não que eu já não tenha tentado... O espelho do banheiro está quebrado por isso. Porém, foi inútil. Qualquer coisa que me machuque, qualquer hematoma ou corte que apareça em minha pele é imediatamente curado e restaurado, como se nada jamais tivesse acontecido. Nenhuma marca ou cicatriz. Esse é o efeito da flor, me manter viva pela eternidade nessa maldita caixa.

Não há uma janela aqui, mas já aprendi a lidar com a falta de informação que tenho pelo lado de fora. Pelo tremor das paredes, e o altíssimo som que ouço espaçadamente, acredito que esteja caindo o mundo do lado de fora dessa jaula. Absoluta certeza que a chuva está mais forte do que jamais esteve.

Ouço um som vindo do banheiro, é hora do banho. 1 vez por dia a água começa a cair por 2 minutos apenas e para. Tiro a roupa rapidamente e me jogo no chuveiro. Deixo a água gelada bater em mim fazendo meu esguio corpo se estremecer. Com a mão, esfrego meu corpo tentando-me limpar ou pelo menos lembrar-me da sensação de estar viva ainda.

Não há sabonete, ou roupas novas aqui, mas também não com o que se sujar. Como disse antes, ninguém mais acredita que estou viva. Nem mesmo a pessoa que me prendeu aqui. Ninguém deve ter pensado que uma flor cresceria no meio de uma cela de ferro somente pra me manter viva.

A Filha Da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora