Capítulo 20

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- Beleza. A gente come alguma coisa aqui e amanhã se programa prá alguma coisa.
- Fechado.

Assim fizemos. No bar rolava uma MPB ao vivo, bem aconchegante e gostosa. Pedimos uma bebida e ficamos conversando e ouvindo juntos. Foi aí que ele passou...

Por incrível que pareça, eu fui o primeiro a notar.
Era alto. Devia ter por volta de 1,90. Moreno escuro, quase mulato. Cor da terra. Tinha o cabelo raspado em máquina zero, traços fortes. Corpo magro que se revelava definido em sua camiseta justa e coxas lisas e torneadas. Usava um short curto, como o que Dani gostava de exibir.
Ele passou por nós, fez um movimento com a cabeça e soltou um sorriso discreto, mas bonito. Dentes branquíssimos.

Sentou-se do outro lado do bar, de frente prá gente. Notei que me olhava.

- Vou ficar com ciúme Bruno.
- Bobo... Não precisa.
- Gostou dele ?
- Poxa Dani, é presença né?
- É sim... Bonito. Gostoso.
- Eu que vou ficar com ciúme agora.
- E ele não pára de olhar. Prá você.
- Prá mim ?
- Bruno...
- Vc tá viajando...

Desconversei e tratei de retomar o papo com ele, e prestar atenção na música. Mas aquela bela espécie de certa forma remoía minha imaginação.

- Bruno ?
- Oi...
- Olha só...
- Fala Dani.
- Essa presa é sua! Sua vez rapaz.

Eu o encarei. Seu olhar era sério. Aquele...

- Vc tem certeza?
- Toda...
- Ok... Amanhã.

Estávamos prestes a dormir, quarto apagado, de pé na sacada vendo a noite linda, o mar lá embaixo, Salvador ainda correndo e acontecendo lá embaixo. Observávamos também o movimento lá na piscina, ainda com algumas pessoas sentadas no deck e conversando. Elas com certeza não nos viam.

- Poxa seu amarelão. Vc devia ter ido falar com o gato...
- Prá que a pressa? Vai ter tempo.
- Porra Bruno, esse hotel é imenso. E se vc não o encontrar mais. E se ele for embora?
- Caramba... Parece que vc tá mais preocupado que eu. Se ele for embora, paciência. Mas tenho quase certeza que ele não vai, e que a gente vai se topar de novo...
- Vamos ver...
- E olha só. Ainda não sou escolado como vc não. Preciso me preparar. E se eu levar um fora?
- Eu pego ele na rua...
- Hehehehe... Que bravinho.
- Deixa de ser bobo Bruno. O cara deu o maior mole...
- Então... Vamos ver, ok ? Deixa rolar.
- Beleza. Mas fica mais esperto viu?
- Pronto... Era só o que me faltava...

Nós fomos dormir por volta de 1h, não sem antes ainda abordar o assunto. Ele me garantiu que queria repetir a experiência do Rio, mas que eu seria o "caçador".
Me senti meio mal, mas mais uma vez a vontade de ver aquilo acontecer era real e clara prá mim. Mais uma vez me surpreendi com minha mudança, e com a forma que encarava essa situação.

- Dani?
- Oi insone...
- Me promete uma coisa...
- Fala zumbi...
- Se vc não quiser mais, quando não quiser mais, me fala...
- Vc tá falando do quê ?
- Desse lance... Uma terceira pessoa.
- Bruno... Eu só não vou querer mais se vc não for a "primeira" pessoa do lance... Do contrário, tô dentro velho. Adoro.
- Seu puto.
- Sou sim. Seu putinho favorito...
- Convencido.
- Chega moleque. Dorme agora... Amanhã vamos precisar estar cheios de energia.

Ele passou o braço pelo meu peito, encostou seu rosto no meu e me beijou suavemente.

- Dorme bem...
- Vc também.

Dormi uma noite perfeita.

No dia seguinte estávamos no salão do café da manhã quando ele apareceu.
Estava tão bonito quanto, numa bermuda branca que realçava sua cor do pecado. Passou propositalmente pela nossa mesa com o mesmo balançar da cabeça, sorriso leve e foi se sentar ao fundo do salão. dessa vez de lado.

- Bruno, não vai deixar escapar heim...
- Sossega Dani. Já falei. Se vc me encher o saco, desencano.
- Ok. Não tá mais aqui quem falou.
- Hehehehe... Fácil assim!

Durante o café trocamos olhares furtivos. Ele acabou antes de nós, passou mais uma vez pela nossa mesa e saiu em direção à piscina que ficava ao lado. Como todo o salão era de vidro, notei que ele se encostou na mureta que separava a área da piscina das rochas onde o mar arrebentava e ficou lá, de vez em quando nos buscando com o olhar.
Me levantei.

- Me espera aqui.
- Oba... Boa sorte.

Atravessei o salão e fui'de encontro a ele. Só havia mais um casal na área externa, mas do lado oposto a onde ele estava e estavam entretidos tirando fotos. Cheguei firme por fora e uma gelatina por dentro... Foda ser um aprendiz...

- Opa...
- E aí !
- Beleza cara? Prazer, Bruno...
- Valeu Bruno. Cauã.

Até o nome era bonito!

- Vc é daqui Cauã?
- Não velho. Bom, sou nascido aqui mas morando em Recife. E vc?
- São Paulo.
- Terra boa...
- É... Correia louca, mas boa.
- Fica até quando?
- Até Segunda.
- Eu também...

Um silênciosinho chato...

- É seu namorado?
- É sim. E vc, tá sozinho?
- Tô. Tenho namorada lá mas ela não pode vir...
- Sei.

....

Eu tinha que conseguir!

- Então cara... Não tá a fim de colar no nosso quarto hoje mais tarde?

Ele sorriu um sorriso lindo.

- Hum... Podemos fazer diferente. Pode ser no meu?
- Pode... sem problema.
- Estou no 1709
- Legal. Te dou um toque no telefone, por volta de umas 19h. Pode ser?
- Pode, mas só uma coisa...
- Fala...

Não acreditava que tinha sido tão direto... Nem tão difícil foi!

- Bruno... Te espero por volta das 19h. Sozinho.

Voltei pro salão atordoado. E decidido.

"Te espero por volta das 19h. Sozinho."
Aquilo ficou martelando em minha cabeça. Dei uma enrolada básica indo até ao banheiro antes de voltar à mesa do café e encarar Daniel.
Caraca, porque me enfiava nessas paradas?
O que ele diria ou pensaria disso?
Melhor inventar uma história e dizer que não tinha rolado ou contar a verdade?
E se ele topasse com o cara e soubesse a verdade? Poderia achar que escondi algo dele ?

Voltei prá mesa e ele estava com a ansiedade estampada em seu rosto.

- E aí? Como se saiu?
- Acho que bem.
- Olha só... Me conta tudo. Vai rolar ?
- Hum... Não. Não vai rolar Dani...
- Porra velho, eu jurava que ele jogava no nosso time.
- E até joga. Mas impôs umas regrinhas que não curti...
- Conta... conta!

Na sua cara de safado ele já imaginava mil coisas... Toparia todas elas...

- Dani. Vamos subir e te conto tudo.
- Beleza.

Nós subimos e me recostei na poltrona, perto da janela aberta. Ele se sentou no chão.

- E aí, ele quer brinquedinhos?
- Não Dani. Ele quer uma coisa a dois.

Ele ficou sério.

- Só um de nós? Só você ?
- É. Só eu.

Notei em sua expressão que ele estava confuso. Decepcionado também.

- E você topou Bruno?
- Claro que não Dani... Não respondi nada, fui pego de surpresa, mas é óbvio que não vou.

Ele olhava pro horizonte. Olhar fixo no mar azul lá embaixo.

- E porque não Bruno ?
- Como ? O que vc quer dizer ?
- Porque vc não vai? Vc curtiu ele, não curtiu? Ele te curtiu também. Se tiver vontade, vai firme...
- Daniel... Não tô entendendo nada cara...
- É isso que tô te falando velho. Se quiser, vai de boa. Eu já fiz isso contigo né?
- Já ?
- Com a Ana cara... Não é a mesma coisa?
- Não Dani... Completamente diferente.

Eu estava quase com raiva. Não acreditava que ele estava aceitando, quase propondo aquilo...

- Como assim diferente Bruno?
- Dani... Vc me disse que foi seduzido cara. Era sua ex namorada. Era uma mulher. Vc caiu no jogo dela, se arrependeu depois e veio me contar.
- Não sei se é tão diferente assim.
- E vc acha que o fato de vc ter cometido esse deslize com ela me permite te pagar com a mesma moeda? Não acha que depois será sua vez, e assim a gente entra numa roleta russa?
- Eu não vou querer te pagar com a mesma moeda. Vc também está me contando, antes ainda. Não é traição.
- Daniel...!

Ele se levantou e veio em minha direção. Sentou-se no chão entre minhas pernas. Me olhava bem fundo nos olhos.

- Bruno... Não estou dizendo que quero que vc vá. Só estou dizendo que entenderia se vc fosse.
- Lembar o que vc me disse quando te pedi para me dizer quando vc não estivesse mais a fim dessas paradas?
- Me ajuda...
- Porra!
- Ah, vai... Falei muita coisa!
- Vc me disse que só deixaria de gostar se eu não fosse a primeira pessoa do lance a três, ou a quatro... E agora me propõe te tirar da jogada, e fazer algo sem vc, sem que vc seja a parte principal dessa nossa brincadeira.
- Ei, ei... Não estou te propondo nada.

Eu estava assustado. A reação dele tinha me surpreendido mesmo.

- Dani... Me diz uma coisa.
- Fala...
- Se fosse vc. Se vc tivesse curtido ele, e ele tivesse feito a proposta. Se vc tivesse vindo até mim, e eu tivesse reagido dessa forma que vc reagiu, e te "liberado" para ir fundo se quisesse...
- Hã...
- Você iria?

Ele me olhou mais uma vez. Levantou-se e se encostou na sacada, de frente prá mim.
Eu tinha medo da resposta.

- Você quer a verdade?
- Sempre.
- Eu ficaria muito tentado. Mas não. Não iria.

Ufa!

O RAPAZ DA GUARITAWhere stories live. Discover now