Capítulo 3, parte b - Pedro

27 0 0
                                    


— Bom, que pena, mas não vai conseguir o que quer — disse, consternado.

— Não é o que quero, Pedro, preciso disso — Cristal explodiu em lágrimas. Revirei os olhos com o drama, era óbvio que uma infecção e a falta de ferro no sangue não a matariam. Suas palavras, no entanto, foram-me úteis, precisava quebrá-la, Cristal gritara comigo e eu não permitiria aquilo.

— Em primeiro lugar, eu não acho que isso faria diferença para alguém, segundo... — Batidas na porta me interromperam.

— Pedro? — A gravidade da voz de meu pai tirou as palavras de minha boca. Olhei para Cristal e fiz um gesto para que se sentasse na cama e limpasse as lágrimas. Sortuda. Ajeitei a camisa e caminhei para a porta, tentando controlar meus batimentos cardíacos, não era hora de ter o medo infantil. Abri e a expressão dele dizia tudo de que precisava saber, ele ouvira os gritos de Cristal. Gelei.

— O que está acontecendo? — perguntou, indo ao encontro da garota. Os olhos dela encontraram o meus e eu me deixei surpreender. Cristal me dera o controle da situação? Resolvi não questionar e disse ao meu pai:

— Alguns ferimentos de Cristal infeccionaram, ela está com falta de ferro no organismo, Laura pediu quinze dias de afastamento, mas... — comecei mantendo minha voz o mais estável possível. Ele me interrompeu.

— Um mês de repouso, deixe que Gustavo cuide dela, estão no mesmo dormitório. Eles podem comer conosco no restaurante — disse, abraçando-a. Gustavo estava no hotel? A raiva consumiu-me.

— Pai, isso não vai acontecer. Estamos na alta temporada, não podemos nos dar ao luxo de ficar em falta de um, quanto mais de dois! — explodi, perturbado. Respirei fundo, eu não conseguiria nada se gritasse com ele, sabia disso.

— Não está em discussão! — Meu pai estava decidido, eu não tive escolha.

— Nesse caso, mamãe vai receber a localização de Cristal — Cravei meus olhos nos dele, o homem tinha plena consciência de que aquilo era mentira, todavia tratava-se de um jogo de poder e eu ganhara. Os olhos de Cristal, por outro lado, arregalaram-se.

— Não faça isso, senhor, por favor — implorou ela, fitando-me. Senti meu coração amolecer e as palavras saíram de minha boca, sem que eu o percebesse:

— Uma semana e nada mais, Gustavo trabalha — cedi, ainda encarando meu pai. Ele concordou, a dor em seus olhos perceptível, o que me deixou seriamente tentado a gritar. Gritar que eu era seu filho, gritar que eu merecia seu amor, não Cristal. Mas não o fiz. Permaneci calado, imóvel.

Papai saiu e Cristal o seguiu. Antes de fechar a porta, ela sorriu vitoriosamente, sabia que eu cederia. Ouvi o som da porta fechando, enquanto esmurrava a parede e sentia o gesso quebrar sob meu punho. Escravinha.

Limpei o sangue de meus dedos na calça escura, tinha mais com o que me preocupar: Gustavo estava por perto. 

Escrava!Where stories live. Discover now