Capítulo 8

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-Brandt
Abro os olhos, um raio de sol entra pela fresta da janela e atinge o meu rosto me fazendo acordar já amaldiçoando a pessoa que fez essa persiana, olho para o lado e Harry está ali, dormindo, o cabelo bagunçado e as mãos debaixo da cabeça.

Me levanto e vou ao banheiro, jogo uma água no rosto, minha cabeça está latejando, a memória do que aconteceu ontem me deixa frustrada e feliz ao mesmo tempo.

Pego as minhas roupas que estão jogadas no chão, visto e depois calço o meu sapato, queria agradecer novamente tudo o que Harry fez por mim na noite passada, mesmo depois de eu ter sido totalmente idiota, mas não acho que agora é o momento certo, até porque um "obrigada" não é suficiente e eu não conheço outra forma de expressar a minha gratidão.

Pego a minha bolsa e tento fazer silêncio, a roupa que Harry me emprestou está dobrada sobre a pia do banheiro, a minha casa não é tão longe daqui, ir a pé não vai ser um problema.

_Não vai se despedir? -Harry diz com a voz mais rouca que o normal assim que eu abro a porta do quarto.

_Não queria te acordar. -Respondo envergonhada por ser pega saindo dessa forma.

Ele esfrega os olhos e senta na cama.

_Eu levo você para casa.

_Não, eu quero caminhar um pouco, volta a dormir.

_Vai para a escola hoje?

_Talvez. -Digo e sorrio, deixando-o sozinho em seguida.

Desço as escadas e consigo ver Kelsey e Louis na cozinha, fecho a porta do apartamento com cuidado, o dia está escuro, há poucas pessoas na rua, ando 2 quadras e os meus pés doem, tiro o sapato e o levo na mão.

Foi bom ficar com Harry, mesmo que tenhamos apenas dormido, na verdade eu realmente esperava que algo fosse rolar, já que tudo entre nós acontece tão rápido, nem parece que o conheci há menos de uma semana, é como se já tivéssemos nos encontrado em outra vida.

Acendo um cigarro e acelero os meus passos, o verão está acabando e o frio está cada vez mais presente. Tento ligar para Edward mas ele não atende, espero que tenha uma boa justificativa, confiei a minha fuga noturna nele que com certeza deve ter deixado o celular no silencioso.

Finalmente avisto a minha casa, olho em meu celular e são 05:48 AM, tento abrir a porta mas está trancada, ligo novamente para Edward e ele não atende.

Me encosto na porta e fico calculando quanto tempo falta para a minha mãe sair para trabalhar, muito tempo, mas não há outra solução.

_Entra. -A minha mãe abre a porta, tira o cigarro da minha mão e o joga no chão.

Respiro fundo e rezo, essa pode ser a ultima vez que tenho a oportunidade de respirar ou rezar.

Passo pela porta, a casa está uma bagunça, alguém revirou isso de cabeça para baixo, os móveis estão quebrados, o sofá fora do lugar e até mesmo a televisão está no chão.

Ela vira de frente para mim e me da um tapa forte na cara que me faz perder o equilíbrio e cambalear para trás.

_Não fala nada, só pega as suas coisas e sai daqui. -Ela diz entredentes e aponta para a mala cor de rosa no canto da sala, a única coisa intocada no cômodo.

_O que? Mãe, o que está acontecendo? O que aconteceu aqui?

_Mãe? Você tem coragem de me chamar de mãe? -Ela grita e bate o pé no chão.- Você é uma drogada, vagabunda, não foi assim que eu te criei, não quero ninguém assim debaixo do meu teto.

_Deixa eu explicar...

_Não quero ouvir nada, achei isso no seu quarto. -Ela diz e joga um pacote de LSD em cima de mim.- Foi isso o que eu te ensinei? Sua vaca! -Ela grita e me da outro tapa.

O ar frio entrando pela porta faz o meu rosto arder e as minhas pernas tremerem, eu tenho 17 anos, estou cansada de ter que aturar isso, de ter responsabilidades que não deveriam ser minhas, estou no meu limite.

_Você nunca me ensinou nada! -Eu digo e ela franze a testa.

_Eu sempre te dei tudo, nunca deixei faltar nada e é isso o que ganho em troca. Você fugiu de casa, olha a roupa que está usando, ainda envolveu os seus irmãos nisso.

_Eu dormi fora, sai escondido, fumei, que adolescente nunca fez isso? Por que você não pode ser normal só por um segundo? Me castiga, tira o meu celular, me proíbe de sair, me bate se você quiser! Agora me expulsar de casa, isso tá indo longe demais mãe.

_Você é igual ao seu pai, não valoriza nada que fazem por você, não tem reconhecimento por nada. -Ela grita e movimenta o braços freneticamente.

_Eu não sou igual ao meu pai.

_Você é pior, tudo o que fez a vida inteira foi me dar desgosto.

_Desgosto? Quem é que cuidava do Edward e do Troye enquanto você bebia? Quem ia te tirar do meio das brigas que você arrumava nos bares? Quem convenceu o meu avô a te dar parte da clínica? Quem te ajudou a sair do vício? Fui eu mãe, como ainda diz que te dei desgosto.

Ela abre a boca para falar mas fecha em seguida, meu coração está acelerado de uma maneira surreal, eu não acredito que estou gritando com ela da mesma forma que ela grita comigo, não quero ser assim, não quero me igualar a ela.

_Eu nunca mais quero olhar para a sua cara. -Ela diz e sobe as escadas.

Só percebo o quanto eu estou chorando quando o meu cabelo começa a grudar em meu rosto, puxo a mala para fora de casa e fecho a porta.

O que eu vou fazer agora? Para onde eu vou?

Sento no chão ao lado da porta e jogo a cabeça contra a parede, aquela festa de ontem não valeu tudo isso, eu estou, literalmente, sem teto.

_Alô?

_Niall, eu preciso de você.

_Rose? O que aconteceu?

_Por favor, vem me buscar.

Encerro a chamada e mais lágrimas caem pelo meu rosto, um misto de raiva e tristeza fazem meu coração pesar tanto que eu mal aguento no peito.

Fecho meus olhos com força, a minha cabeça dói insuportavelmente. O dia em que fui diagnosticada com fobia social estava sozinha no psiquiatra, eu só pensava no quão pior a minha mãe me trataria se soubesse que sou diferente, por isso nunca contei para ela. Eu deveria poder contar algo desse tipo para a minha própria mãe, perguntar sobre garotos ou as maldades da vida mas tive que aprender tudo sozinha e manter segredo, meu pai foi embora e levou com ele a mãe que eu poderia ter tido.

Pego mais um cigarro, estou tremendo tanto que mal consigo acende-lo. Posso negar o quanto quiser mas eu já sabia que isso iria acontecer algum dia, já estava me preparando, mesmo que involuntariamente.

A vida é um caminho de espinhos e eu estou descalça e não sei como me proteger.

Niall chega e eu ainda estou largada no chão, acabada, em estado deplorável. Durante o percurso ele insiste para saber o que aconteceu mas eu não digo nada, não ainda. Ele me leva para casa dele, Maura, sua mãe, está sentada na sala e me olha feio quando passo apoiada em seu braço, ele me leva para o quarto, eu ainda estou chorando e não sei se vou conseguir parar hoje.

Deito na cama, Niall está claramente falando algo enquanto anda ao redor do quarto mas eu não quero ouvir. Acendo outro cigarro e ele fica na minha frente, movimentando os braços em sinal negativo, eu viro a cabeça para a parede e tento me lembrar de quando a minha vida virou essa bagunça.     

***

ArabellaWhere stories live. Discover now