Uma noite em Paris

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"Que humilhação", era o que seu pai falava.

"Uma sem classe, de fato! Como pôde fazer isso com o meu filho?", resmungava a mãe. Para toda a sua família e amigos, Nicole, a bela mulher que o deixou plantado no altar, era só mais uma megera que planejava lhe dar um golpe, mas que, por fim, acabou sentindo a consciência pesar.
No entanto, ele não pensava assim. Simplesmente, não poderia. Como odiar ou, pelo menos, tentar odiar uma pessoa que tanto ama?

Louis se lembrava perfeitamente de todas as emoções que o tomaram quando a viu pela primeira vez. Inicialmente, sentiu vergonha de sua aparência, estava no escritório há duas horas sentado, só olhando para o teto, pensando no vazio e no esquecimento, quando ouviu leves batidas na porta. Era a mulher mais linda que havia notado. Nicole, era como disse se chamar, a nova secretária do CEO, o seu pai. Estava passando somente para se apresentar e dizer que o pai queria falar com ele.

Louis não conseguiu responder. Teve ciência de sua própria mediocridade. Tão elegante e ele tão desengonçado. Mas ela o notaria, ele se certificaria disso.

Agora percebe que todo o esforço que fez para que ela o amasse como ele a amava, de nada serviu. Era ordinário por dentro, de um jeito que nunca poderia mudar.

Mas ele ainda tinha esperanças.

É por isso que se encontra agora nessa situação ainda mais humilhante do que ter sido abandonado no altar: foi para sua lua de mel sozinho. Não explicou para ninguém o porquê, mas certificou-se de que Nicole soubesse.

No entanto, se Louis imaginasse o quão deprimido se sentiria quando entrasse na suíte presidencial que os pais reservaram para ele no Ritz em Paris, ele teria desistido na hora dessa loucura de viajar sozinho.

Primeiro, tinham aquelas malditas pétalas de rosas vermelhas na cama do casal que, juntas, formavam um coração gigante que tomava quase toda a cama. No mínimo poderia dizer que o pessoal do Ritz se empolgou, mas ele não ligava para o esforço que os funcionários do hotel tinham feito. Estava triste, a ponto de desaparecer na própria tristeza.

Ao lado das rosas, dois champanhes caros estavam apoiados um sobre o outro, um cartão estava localizado perto deles com a frase "Bienvenue aux jeunes amoureux" escrito à mão.

Mas o pior de tudo, foi quando notou algo em cima de um dos criados-mudos ao lado da cama: um amontoado de uns dez convites do seu casamento com Nicole amarrados com uma bela fita branca que se juntava nas pontas para formarem um grande laço.

Ele congelou. Sabia que eram as amostras de convites que Nicole havia pedido pra empresa francesa que havia feito os seus para enviar-lhes como lembrança para a suíte onde estariam.

Louis não sabia o que fazer. Jogava os fora? Guardava-os? Colocava-os longe de sua vista?

Por fim, decidiu que os deixaria onde estavam, não permitindo a si mesmo a tocar neles. E assim o fez, por um dia todo.

A sua primeira noite naquele lugar foi um tormento. Não ousou deitar na cama, não queria desfazer o coração, seria como ver materializado o seu próprio, partido. Acabou escolhendo dormir no chão, longe da cama e longe dos convites. Ligou a televisão para se distrair, e se deparou com O Diário de Bridget Jones dublado em francês, não conseguiu assistir. Desligou o aparelho na hora, não precisava que o mesmo lhe lembrasse o quanto estava All by himself.

Foi então que ele olhou para as garrafas de champanhe, momento em que decidiu a forma perfeita de aguentar aquelas próximas noites, bebendo e muito.

Acordou no outro dia sem se lembrar de quando havia dormido na noite anterior, ficou feliz. Esqueceu-se de sua melancolia e atribuiu isso à bebida. Por isso bebeu mais e mais. Até que algum funcionário que, provavelmente já estava de olho nele a mando de seus pais, contou a estes o nível de bebedeira do rapaz. Logo, a ordem foi clara, o Ritz estava proibido de vender bebidas alcóolicas para Louis. Fato este que finalmente o forçou a sair do quarto na noite seguinte, mas não sem antes finalmente se render à tentação e pegar um dos infelizes convites e colocá-lo em seu bolso.

Uma garrafa de whisky, duas sapatilhas e um convite em ParisWhere stories live. Discover now