Com amor, Ella.

Cap. 2

Ross me ajudou a pular o portão, nos colocando rapidamente para dentro do parque que eu tanto temia.

- Pra onde vamos primeiro? - O moreno perguntou animado - Vamos direto ao ponto, ou, vamos "investigar" o local antes?

O rapaz deu uma gargalhada começando a andar para mais dentro do parque, já eu, sem achar outra opção, o segui, com muito receio.

Tinha me prometido que nunca entraria ali de novo! Por que você não se trancou no carro, Ella?!

Porque você ainda quer ter as respostas, você é tão egoista, que quer encontrar alguém para depositar essa culpa que se acumulou em seu peito...

Balancei a cabeça, tentando não ouvir essa voz que insiste em sussurrar em meus ouvidos. Estou cansada de ouvi-la.

- Podemos não fazer nada do que você falou e ir comer algo?

Sussurrei, tentando abafar meus pensamentos. Uma brisa fria passou por mim, fazendo um arrepio subir por minhas costas.

- Essa opção não está nos meus planos, minha cara!

Tudo estava sujo, muito sujo. As atrações enferrujadas faziam sombras horrendas no chão. Mas, as estátuas de palhaços com um sorriso alegre nos lábios eram os que mais me assustavam.

Lembro-me de ter feito uma brincadeira com ela antes de tudo.

"- Enquanto não chegamos ao carro-céu, vamos fazer uma brincadeira, certo?"

Ela concordou com a cabeça, segurando minha mão animada, com um grande sorriso nos lábios que estavam cor de rosa pelo batom que passara antes de sair de casa, seu vestido branco com detalhes coloridos balançava, enquanto a menina andava pulando. Aquele sorriso sincero... como sinto saudade.

"Tá vendo a estátua de palhaço?"

Perguntei apontando para o grande palhaço risonho, a menina olhou pra mim, concordando novamente

"Eu compro um sorvete pra quem chegar primeiro lá!"

"Mas..."

Ela levou os olhos confusos para a estátua novamente

"Se você ganhar, vai comprar um sorvete pra si mesma?!"

Dei risada balançando a cabeça, ela era muito esperta.

"Não, só vou comprar se você ganhar, mana. Se eu ganhar..."

pensei por uns segundos.

"Vou só ficar feliz por ser a mais rápida. Você não tem o que perder!"

Soltei as últimas palavras começando a correr em meio às pessoas que passavam por ali. A pequena deu risada correndo atrás, gritando meu nome.

Comecei a rir, lembrando de sua risada doce, que saudade que tenho da sua voz, da suas pequenas mãos que sempre seguravam a minha quando andávamos pelas ruas.

- Ella? Você está bem?

A voz preocupada de Ross veio à tona, me puxando de volta pra realidade, fazendo ela, de depende, desaparecer novamente.

As vezes me pego abraçando suas pelúcias, chorando descontroladamente,  me perguntando se ela ainda existe.

- Estou. Só é esse parque... me faz ter lembranças...

Ross andou até mim, passou as mãos em minhas costas já arrepiadas pela brisa, me puxando para um abraço.

Seu corpo maior que o meu me esquentou, fazendo uma onda de segurança passar pelo meu corpo inteiro.

O cheiro de couro da sua jaqueta, misturado com seu perfume amadeirado entrou em meu nariz, fazendo-me alucinar por alguns segundos.

- Eu sei. O som das viaturas da polícia estão ecoando pelos meus ouvidos desde que entramos. É horrível enfrentar o passado.

Enquanto Ross falava, comecei a viajar em seu alito com cheiro de menta, como as meninas que já o beijaram tem sorte, esse rapaz deve beijar bem demais.

Seu peito se enchendo e se esvaziando de ar, encostado ao meu, me fizeram voltar a escutar sua voz.

- Mas, mesmo o passado sendo essa bosta que é, ele é muito importante, porque somos o que somos por causa do passado. Só devemos aprender com ele.

O abracei com mais força, não poderia desabar ali, naquele parque, na frente de Ross Willians Queen, eu só me permito desabar na minha casa. Sozinha.

Mas, quando percebi, já estava falando, já estava chorando.

- Eu só não queria que ela se machucasse - sussurrei - ela não merecia... era só uma garotinha, tinha sonhos...

Uma lágrima salgada desceu pelas minhas bochechas e aquele sentimento de dor e perda, se tornou palpável novamente.

O rapaz entrelaçou seus dedos em meus cabelos ainda amarados com o elástico, eu afundei mais minha cabeça em sua jaqueta de couro, tentando esconder minhas lágrimas que insistiam em sair dos meus olhos castanhos.

- Ela está bem melhor agora.

- Ela não está mais aqui por minha causa.

A frase saiu dos meus lábios em um sussurro.

Ross me soltou do abraço, me lançando um olhar de confusão misturado com raiva, suas sobrancelhas curvas me fizeram estremecer.

- Por favor, Ella. Por favor me diga que não se culpa pela morte dela!

Tirei meus olhos do moreno, fitando o chão sujo.

"Claro que me culpo, Ross! Foi eu quem a trouxe aqui naquele dia! Se não fosse por mim, ela ainda estaria aqui. Comigo."

Descartei aquela explicação da minha cabeça, não queria falar nada. Então, apenas concordei com a cabeça, silenciosamente.

Sua mão foi para meu queixo, o levantando calmamente, me forçando a olhar em seus olhos. Seus lindos e esverdeados olhos.

- Você era uma ótima irmã. A trouxe para se divertir, tenho certeza que não a traria se soubesse o que aconteceria.

Uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha, o rapaz a limpou com seu polegar, me fitando com um pequeno sorriso de canto.

- Por que tá sorrindo?

Perguntei, minha voz saiu baixa, parecia mais um sussurro.

Ross balançou a cabeça, levando as mãos para minha nuca. Entrelaçando seus dedos em meus cabelos escuros. Me puxando lentamente para mais perto. Fazendo nossos lábios se encostarem por alguns segundos.