Um chá diferente uma vez por semana

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Estava de tardezinha, quase noite, quando Damien pediu para o taxista parar o carro do lado da entrada do prédio. Apenas conferiu o endereço no celular mais uma vez, antes de pagar os dez dólares. Número duzentos e vinte e três. Era aquele prédio velho, mesmo, do século passado, um daqueles bem largos, que não tinha mais do que três andares e nenhum elevador.

Saiu do automóvel pelo banco de passageiros, que estava para o lado da calçada, após já ter guardado o celular no bolso da calça. O táxi foi embora, sem uma única palavra do motorista, assim que ele fechou a porta. Só ali fora realmente parou para analisar o estado lamentável dos tijolos da construção: estavam sujos, e provavelmente aquele cinza não era a cor original deles. Ainda assim, o estilo no prédio não era feio, apenas bastante diferente dos demais.

Havia só uma porta velha alguns degraus acima do chão, com um porteiro eletrônico ultrapassado de parede. Damien subiu os quatro degraus e procurou o número no interfone por alguns segundos, apertando o botão quadrado do lado dos dígitos zero trinta e um e demorou apenas alguns instantes para receber uma resposta. A voz do outro lado do interfone era a mesma do telefone na noite anterior, estava um pouco alterada por causa do aparelho antigo, mas dava para reconhecer.

Alô?

— É o Damien.

Pode entrar, está aberto. — Respondeu de um jeito que parecia ser genuinamente alegre, mas poderia ser só impressão sua.

Damien girou a maçaneta da porta e empurrou-a. Era como se aquele pequeno hall tivesse parado no tempo, porque tudo, até o cheiro no ar, tinha jeito de coisa velha. A lâmpada incandescente pendurada no teto mais zunia e esquentava do que realmente iluminava o local. Subiu os lances de escadas, todos os andares eram exatamente iguais uns aos outros, inclusive o terceiro e último, todos com o piso de madeira e as paredes cobertas por um papel de parede descascado que parecia ser o mesmo desde que levantaram prédio.
Não que fosse sujo, só era muito, muito velho.

Como todos os outros andares, nesse havia uma bifurcação e seis portas, três em cada lado, contando a partir das escadas do meio. Damien foi até a primeira do lado esquerdo e procurou a campainha, mas não havia uma. Sentiu como se aquele lugar realmente fosse um pedaço de um outro século, porque, puta merda, para não ter nem uma campainha...

No final, apenas bateu três vezes na porta. Não esperou muito. Foi uma questão de segundos, nem deu tempo de abaixar o braço e um loiro já tinha aberto a porta para o lado de dentro. Ele era um homem baixo e franzino. Cabelo amarelo, um amarelo forte, com aspecto dourado, que parecia não ver uma tesoura há bastante tempo. Usava algumas roupas cafonas, que o lembrava um pouco de como as pessoas do século passado se vestiam, mas havia uma perfeita mistura do velho com o moderno, um estilo curioso e próprio.

Ele deu um sorriso gentil e educado — havia um pequeno diastema separando os dois dentes da frente — e falou:

— Boa tarde, Damien. Entre, o chá está quase pronto.

— Boa tarde...

O loiro deu espaço, Damien entrou e ele fechou a porta. O apartamento cheirava a algum chá que desconhecia, mas não era ruim. O lugar tinha um jeito rústico, com os móveis de madeira escura, o sofá com estampa de flores no meio da sala e o papel de parede amarie azul claro, cujos pequenos detalhes em relevo mal se viam, se ele não se aproximasse o suficiente. Aquilo tudo combinava, lembrava um pouco a casa dos seus avós, lembrava-o de quando costumava visita-los com sete ou oito anos de idade, antes de eles morrerem. Mas, diferente da casa dos seus avós, não havia fotos em lugar nenhum, apenas uma pintura de um girassol emoldurada, colocada acima de uma cômoda de madeira, estranhamente vazia. Tentou pensar em que tipo de pessoa Phillip era, mas não era como se isso importasse muito.

Hora do CháWhere stories live. Discover now