Tudo começou no final de abril. Quer dizer, começou muito antes disso, não sei dizer quando começou de verdade. Não era ódio, não, o que ela sentia antes do começo. Era um sentimento estranho. Isso foi lá pra fevereiro, início de março, talvez. Minha memória é curta.
Pra mim, começou em abril. Nessa época, ela já sabia muito bem que ele tinha um abraço de nuvem. Sabia também que seu cabelo era macio e que ele tinha cheiro bom. Gostava dele, sim... mas não eram amigos, nunca chegaram a ser. Parte do sentimento estranho persistia, ainda. Não a parte ruim. Talvez uma certa curiosidade... com certeza, a necessidade de atenção.
Era aniversário dela e ela estava febril. Jogava com os amigos no bar um jogo monótono e sóbrio demais.
"Beije alguém", era a instrução.
Quem?
Ele.
A instrução não era pra ela, e ela sentiu um bocadinho de inveja, que jamais admitiria. Ele não estava no jogo: não estava sóbrio. Parado, de pé próximo à roda, segurava um copo numa mão e um cigarro na outra. Ou não, talvez eu esteja inventando. Como eu disse, minha memória é curta, eu não me lembraria de tantos detalhes.
Ela viu outra garota se levantar (era aniversário dela, também) e, confiante, se aproximar dele e lhe beijar. Ele correspondeu sem hesitar, o que a surpreendeu.
"Isso parece bom...", ela pensou, "preciso experimentar, um dia."
A outra garota interrompeu o beijo e voltou ao jogo. Ele estendeu a mão como se perguntasse: "é só isso?", mas deixou pra lá. O jogo prosseguiu sem ritmo nem graça, mas, na cabeça dela, a ideia estava plantada.
"Um dia eu vou fazer isso..."
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Versos sobre a Lua
RomanceUma coleção de escritos salgados de lágrimas que me ajudaram a lidar com essa paixão não correspondida. Mais prosa do que os versos prometidos, mais de mim do que da própria Lua. Mais pra mim do que pra você. DEDICATÓRIA: A esse ser que me jogou pra...