Saquinho de pipoca

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Sexta feira

Acordei pela manhã, sentindo-me como uma princesa com uma pitada de glamour, mas ao tentar me levantar da cama, parecia que tinha sido atingida por um combo de atropelamento de caminhões, esmagada por umas cinco pedras de toneladas líquidas diferentes e pisoteada por elefantes sambando em cima de mim.

Com dificuldade, cambaleei até a sala, onde liguei a TV e comecei a assistir, alimentando-me com alguns pães que, de tão duros, pareciam feitos de concreto. Decidi que a única maneira de torná-los comestíveis era transformá-los em torradas na frigideira, usando uma camada generosa de manteiga derretida.

Enquanto eu degustava essa iguaria gourmet, peguei meu celular e comecei uma troca de mensagens com minha amiga Beverly. Enquanto fazia isso, olhei para a janela e, para minha surpresa, vi um balão vermelho flutuando lá fora. "Isso é estranho", pensei, levantando uma sobrancelha.

─ Oh não, esqueci o pão na frigideira! ─ gritei, entrando em pânico e correndo para a cozinha.

Ao chegar lá, o pão já estava quase uma torrada carbonizada, mas mesmo assim, decidi encarar o desafio culinário e o comi, afinal, não se desperdiça pão neste lar. A fome ainda persistia, então, com uma sensação de desespero, abri a geladeira apenas para encontrar uma garrafa de água e um bilhete carinhoso da minha mãe dizendo que a luz da geladeira estava queimada. "Nunca têm nada nessa diacho!", suspirei, enquanto fechava a porta com desgosto.

Decidi que uma ida urgente ao supermercado era necessária para comprar miojo e, na loja, naveguei direto para o corredor das deliciosas massas instantâneas. Peguei o sabor meu irmão caipira, porque ele é uma galinha, literalmente. Mas de repente, o assaltante que eu havia cruzado caminhos no Rio de Janeiro decidiu transformar o supermercado em seu palco.

─ TODO MUNDO NO CHÃO, PORRA! ISSO AQUI É UM ASSALTO! ─ Ele gritou, agitando a arma ameaçadoramente.

─ Grita mais baixo caralho, ninguém aqui é surdo não, porra!! ─ Respondi, devolvendo o grito.

─ Ei, quer morrer!? Sua piranha! ─ Disse ele, com raiva.

─ Filho da... ─ ouvi a arma engatilhando ─ Sua mãe, que é uma senhora incrível, e eu tenho todo respeito por ela! ─ em seguida, contra-ataquei, deixando todos intrigados.

─ Essa maconheira emo é corajosa! ─ alguém comentou em um sussurro.

O ladrão, irritado com minha resposta inusitada, apontou a arma para mim. Sem pensar duas vezes, corri para a seção de produtos de higiene e me escondi ao lado dos preservativos da pequena farmácia.

O ladrão permaneceu na seção ao lado, então tive uma ideia. Empurrei uma prateleira de produtos de higiene em cima dele. Em seguida, agarrei um desodorante Rexona e, com ousadia, arranquei as calças do assaltante.

─ Mexeu com a piranha errada, seu desgraçado! ─ Falei, segurando o Rexona, e enfiei-o no lugar apropriado.

Ele soltou um grito estridente enquanto eu dançava funk freneticamente em cima dele, com o pé pressionando o Rexona onde o sol não brilha. Realmente, Rexona não te abandona, e o ladrão aprendeu isso de uma forma inusitada.

No final, tive que arcar com os prejuízos pelos produtos danificados quando derrubei a prateleira sobre o ladrão. Voltei para casa, toda lascada, sem dinheiro e com os cartões de crédito fumegando. Sabia que minha mãe, quando chegasse em casa, não ficaria apenas furiosa pelos estragos no mercado e pelo dinheiro gasto, mas também pela "maneira peculiar" como enfrentei o assalto.

Com o capuz do meu moletom preto da BTS cobrindo minha cabeça e as mãos enfiadas nos bolsos, saí de casa. Chutei algumas folhas e pedras na rua, perdida em meus pensamentos e tropeçando na calçada graças à minha miopia desgraçada. Acabei em um lugar desconhecido.

Quando olhei à minha frente, percebi que estava diante da casa do Pennywise, o palhaço aterrorizante, que me aguardava como se fosse um fã dedicado.

─ Olá, minha doce pipoca. ─ Ele disse, com um sorriso malicioso.

Rapidamente, saltei para trás e olhei ao redor, esperando que Pennywise evaporasse como um pesadelo ruim. Estava bem perto da entrada daquela casa velha e assustadora, e, por um breve momento, fechei os olhos. Quando os abri, ele havia desaparecido. Esta era minha chance de fugir correndo e gritando, mas algo estranho aconteceu: um tentáculo preto agarrou meu braço e me arrastou com força para dentro da casa.

Assim que "entrei", a porta se fechou com um estrondo assustador. O tentáculo me soltou, e eu caí feito bosta no chão. Rapidamente me recuperei, mas o tentáculo havia desaparecido, e Pennywise reapareceu diante de mim.

─ Por que...!? Por que você faz isso!? ─ perguntei com raiva, lutando para conter o medo que crescia dentro de mim.

─ Não é óbvio? Vocês humanos são apenas petiscos deliciosos. Você realmente achou que um assassino como eu teria sentimentos? ─ Respondeu Pennywise, com um olhar malévolo.

─ Heh, é claro que sim. ─ Ri, tentando mostrar minha coragem. ─ Como eu poderia esquecer? Escuta aqui, seu palhaço filho da puta! ─ Me recompus, sorrindo. ─ EU NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ!!!

Isso pareceu mexer com o palhaço, deixando-o momentaneamente chocado. Com uma expressão de repulsa, ele voltou sua atenção para mim.

─ Não tem medo?... ─ Disse ele, irritado. ─ Mas vai ter!

Ele soltou um grito ensurdecedor e, mais uma vez, desapareceu num borrão de cores perturbadoras. Eu permaneci firme, sem me abalar, mas a próxima surpresa estava prestes a acontecer.

De repente, algo me puxou pelos pés com força e me arrastou de maneira violenta, fazendo-me colidir com móveis antigos e poeirentos. Quando finalmente me soltou, eu estava no chão, machucada e levemente atordoada.

─ Vamos tornar isso mais interessante! ─ Pennywise anunciou, reaparecendo do outro lado da sala.

Ele sumiu novamente, e a casa começou a encher de água rapidamente. Com esforço, consegui me levantar, mas a água continuava a subir. Desesperada, corri em direção à porta, mas quando cheguei lá, a água já estava na altura da minha cintura, e a porta estava trancada.

─ Isso não está acontecendo... ─ murmurei, com medo crescente.

De repente, ouvi um barulho atrás de mim e vi Pennywise correndo na minha direção, sua figura distorcida e grotesca como no início do filme. Instintivamente, fechei os olhos e protegi meu rosto com os braços, esperando pelo impacto aterrorizante que nunca veio.

Alguns segundos depois, decidi ousar abrir os olhos e virei a cabeça com cautela, esperando encontrar Pennywise. Mas a sensação dele surgindo do nada bem na minha frente me pegou de surpresa, fazendo-me xingar e cambalear enquanto ele me perseguia todo distorcido como um aracnídeo amassado depois de umas vinte chineladas de havaianas tamanho 6366363 do seu pai.

─ Você não vai embora tão cedo, pipoca! ─ Pennywise sussurrou em tom sinistro, seu rosto deformado surgindo naquela coisa troncha com um sorriso malévolo.

Alguns segundos depois de ficar passada com aquela cena angustiante, tomei coragem e me levantei correndo na direção oposta de onde o palhaço estava, sem ligar muito para a loucura que estava acontecendo com aquela podridão de casa, cometendo um erro grave. Foi nesse momento que algo de proporções épicas atingiu minha cabeça com tanta força que me fez questionar se era parte do teto desmoronando, um pedaço de um asteroide perdido ou apenas uma pegadinha cósmica.

A partir desse momento, percebi que estava metida em uma situação tão bizarra e aterrorizante que até mesmo o meu humor peculiar não podia mais me salvar.

Continua......................................

𝐄𝐮 𝐞𝐬𝐭𝐨𝐮 𝐞𝐦 𝐈𝐭: 𝐀 𝐜𝐨𝐢𝐬𝐚! ─ ᴵᵗ ¹⁹⁸⁸Onde histórias criam vida. Descubra agora