˚༄.˚⋅ 𝐂 𝐇 𝐀 𝐏 𝐓 𝐄 𝐑 𝐎 𝐍 𝐄
— illusions of the sunlight
MARCAS DE ARCADAS DENTÁRIAS eram comuns ao braço do homem, mas ainda diante das circunstâncias trágicas de sua vida, nutria esperança pela ausência de outras mais recentes. Anseio incapaz de se concretizar, notou, ao sentir a própria derme rasgando-se em contato prolongado dos afiados caninos da figura loura, pouco acomodada ao seu enlaço. Ainda que seu intuito não fosse machucar a dama em questão, precisou usar de uma porcentagem considerável de sua força para abrir a boca da menina e enfiar um mínimo comprimido a sua goela. Escutou tosses em resposta do ato, mas não tardou nenhum momento a soltar a outra pessoa e encaminhar-se para a saída do cômodo, o trancando em seguida. Usou o tempo restante para posicionar as mãos nodosas na madeira diante de si, e os sons traumáticos de batidas e gritos começaram a soar, assolando a casa na mesma agonia transmitida a tonalidade vocal de Aletta. Calmaria e sutileza eram os termos opostos ao estado da menina, ao menos nos minutos que passara trancada tendo como companhia apenas a poeira e escuridão, insistente na tarefa de tentar a engolir e assim, esconder os ferimentos que ia causando à si própria. Filetes de sangue escorriam das pontas de seus dedos até o pulso, na mesma proporção em que suas falanges adquiriam machucados ardentes. Minutos soaram como horas a seu pai, qual ela insistia em ofender por meio de frases sem sentido, porém odiosas ao ponto de fazerem lágrimas brotarem aos olhos cansados de Abraham, insistente em pensar que aquela versão destrutiva e turbulenta não correspondia ao que era sua menina verdadeiramente.
Após ter gasto suas energias distribuindo golpes à porta, escorregou as costas ao mesmo material qual antes sentia necessidade de espancar, na tentativa de sair. Encostou sua cabeça à madeira, encolhendo-se a medida que o sentimento de raiva esvaia-se de seu peito, e mais lágrimas rolaram dos olhos que mais pareciam um oceano turbulento, tanto que em meio às suas piscadas, acabou adormecendo sem ao menos notar o sono a invadindo.
Sua abalada percepção acabou demorando a notar a iluminação que preencheu o cômodo de repente, recuou o quanto pode em uma tentativa desesperada de se proteger, mas encontrou apenas o aconchego dos braços do pai indo ao seu encontro. Esperou os discursos morais, mas estes não vieram, assim como os olhares decepcionados, que deram lugar a carícias acomodadas aos seus cabelos e um sussurro fraco, que a fez desmoronar:— Já passou, Letta.
Os olhos marejados apenas permitiram-se descansar ao encontrarem curativos dos mais limpos e descuidados ao braço do mais velho. Eram recentes, e ela se deu conta dos próprios atos, do descontrole que a assolara na noite passada. Segurou-se ao pai como se sua respiração dependesse daquilo, e buscou aproximar-se dele o máximo que conseguia, desprezando o sangue seco manchando as vestes e todo o restante relacionado à si própria. A culpa tinha-na cegado para todo o restante.
— Eu pensei que tinha o controle, papai, pensei que estava tudo bem... — Se perdeu em meio aos dizeres quando encarou o rosto do homem que a tinha como primogênita, a visão embaçada pelas lágrimas fazia com que o alemão parecesse apenas um borrão, mas tinha o mesmo efeito sob si, e a voz embargada entregou-a sobre isso. — Eu sinto muito.
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𝐑𝐀𝐃𝐈𝐎𝐀𝐂𝐓𝐈𝐕𝐄
Fanfiction𝐑𝐀𝐃𝐈𝐎𝐀𝐂𝐓𝐈𝐕𝐄 | "Ela poderia ascender o mundo em chamas, ou erguê-lo em glória. Nada assim pode ser controlado, ela é maluca!" 𝐉𝐀𝐌𝐄𝐒 𝐁𝐔𝐂𝐇𝐀𝐍𝐀𝐍 𝐁𝐀𝐑𝐍𝐄𝐒 não fora o primeiro soldado invernal. Ainda em meados da década de quare...