1- O bom plano

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Hoje é segunda e mais uma semana se inicia, peguei meu material e mesmo todos odiando a segunda eu amo ela! Hoje tenho aula de Filosofia com a professora Kate, a melhor da escola, ou seja, a única pessoa em que eu confio nesse mundo. Na aula dela da semana passada os alunos tiveram que bolar frases e pensamentos sobre nossas vidas e a minha frase foi a que ganhou, pois disse todos meus sentimentos em um pequeno poema, a Kate sempre me apoia em tudo e naquelas estrofes coloquei muitas coisas sobre pensamentos da minha vida em questão ao futuro, e choquei minha professora quando disse que quero fugir do orfanato em que vivo.
Cheguei na escola e como de costume sentei junto com a minha amiga do orfanato ,Rachael, e ela disse que esse final de semana foi o melhor de todos, pois ela visitou um casal rico que quer adota-la e confesso que senti uma tristeza absurda, nunca pensei em me deparar com uma cena dessa, Rachael é minha amiga desde quando entrei aqui, tinhamos que ser adotadas juntas!
Kate mais uma vez cogitou meu poema e me perguntou o por que daquela estrofe, apenas respondi com um: -"Nem eu sei professora" e então ela caiu na risada, mas eu sabia que no fundo aquilo ainda era uma meta, eu não aguento ver todos felizes e só eu tendo uma vida anormal e miserável.
Terça e quarta passou voando e confesso que só virei os dias chorando, está tudo certo e Rachael vai embora mesmo, como eu pude ser tão incompetente com minha própria vida, além de tudo uma garota arrogante que só queria saber de passar raiva e nervoso. Não aguento mais essa minha vida mesmo e isso é a realidade, a ansiedade sempre bate a noite na minha porta e eu deixo entrar, mas nessa noite o que bateu na minha porta foi a nossa monitora, que acordou Rachael e disse que o casal que adotaria ela foi preso, eles eram donos de uma mafia que desviava o dinheiro dos impostos para eles, junto com a política da cidade. Rachael desabou no choro e não acreditava que isso teria acontecido, mas eu estava ali, feliz, não vou perder minha amiga! Dei um abraço nela e pedi para a monitora se podíamos faltar amanhã e ela disse que se a Rachael quisesse companhia sim, e ela acenou com a cabeça, se abraçamos e fomos dormir, mesmo não estando feliz ,gostei de Rachael ter ficado aqui comigo, mas sempre sei que no outro dia a felicidade nunca continua.
E cá estou, mais um dia aqui, sem vontade de viver, sem nem um pingo de felicidade. Meu aniversário é daqui exatamente uma semana, mas ninguem pode vir me visitar, até porque nem pais existem na minha vida. Sabe ,tem dias que eu só queria um colo, um abraço e um beijo de boa noite. Sabe ,meus dias não são dos melhores e até imagino se morrerei sozinha.
Já passaram muito tempo depois que eu comecei a pensar na minha vida e se vou querer continuar vivendo isso, vivendo essa vida miserável e infeliz, talvez umas duas horas ja se foram e so consigo pensar se posso sair daqui, mas logo assim lembro que falta mais longos quatro anos.
Continuei pensando, mas me lembrei do dilema da minha professora de Filosofia, ela sempre diz que se ficarmos paradas nenhuma coisa e nada vai se mover sozinho, há nao ser que seja uma força de outro mundo. Devo fechar meus olhos e dormir, se eu nao quiser nada, mas se quero tenho que correr atrás, e foi isso que fiz, peguei minha agenda ,liguei meu abajur e anotei um bom planejamento do meu dia de amanhà e no final tudo se ligou ao mesmo ponto, vou fugir! Anotei, anotei e anotei mais um pouco, até ficar muito tonta e decidir ir dormir ,mas em relaçao a fugir, nao tinha anotado nada, entretanto esse era o passo mais simples de todos, é só improvisar. Chamei Rachael mostrei a ela minha agenda e ela ficou surpresa, dizendo repetitivamente que vai comigo e que não aguenta mais essa vida, ainda abordou que quer conhecer pessoas novas.

Acordei determinada, minhas assistentes estavam lá, hoje é sábado ,ou seja, dia do desabafo ,como diz ela. Minha assistente,a Agatha, me faz perguntas muito constrangedoras e repetitivas como: Você menstruou essa semana? Fumou drogas? Teve relações sexuais? Sentiu "tesão"? e pode confiar que essas são as perguntas mais leves que mesmo falando toda semana ela fala novamente. Minhas respostas nunca passaram do "Não", até porque ela não entende que tenho apenas 14 anos, prestes a fazer meus 15.
Havia passado a hora mais constrangedora do dia e então decidi que ia acabar logo com essa droga de vida e avisei uma única vez a minhas monitoras que iria dar uma volta de bicicleta, com Rachael, como sempre faço de final de semana, então, outra vez minha monitora deixou eu sair, e pronto! Peguei minha mochila,enchi de algumas roupas, joguei pela sacada e só fui para o mundo.
O orfanato ficava na divisa entre duas cidades, ou seja, tinha uma pista enorme para seguir, decidi sair para a outra cidade e fui caminhando muito rápido mesmo. Em pouco tempo ja tinha andado uns cinco quilômetros, estava determinada e ansiosa para minha nova vida, quem sabe arranjar alguém para me ajudar.
Ainda não acreditava que lá estava eu, realizando um sonho ,fugindo de uma "prisão" que fiquei por 14 anos da minha vida, mas é claro que nao poderia andar apenas em linhas retas, até porque era claro e óbvio que eles viriam atrás de mim, mas se entrasse em bairros residenciais seria um pouco difícil deles me acharem.
-Emy corre!! Entra aqui nessa rua!
Entramos todas felizes e paramos um pouco para descansar, aposto que eles nem notaram nossa falta.

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