VII - Triscaidecafobia - Parte Dois

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 Com os ânimos exaltados das pessoas que circulavam a mesa de Murgorini e Nuit, era difícil para qualquer uma das partes manter total concentração

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 Com os ânimos exaltados das pessoas que circulavam a mesa de Murgorini e Nuit, era difícil para qualquer uma das partes manter total concentração. A luz amarelada vinda dos candelabros baratos no teto do cassino juntamente ao calor humano excessivo deixaria qualquer demofóbico inquieto.

— Vamos ao que interessa — começou Murgorini, preparando o lançamento dos dados. — Vou jogar lentamente pra você perceber que não existe trapaça nenhuma. Apenas sorte.

O velho arregaçou as mangas mostrando as partes interna e externa das mãos tanto para Nuit quanto para a plateia, no intuito de provar que realmente jogava limpo.

— Subtração! — exclamou, finalmente batendo o copo contra o tabuleiro fazendo os dados rolarem. — Outra jogada de sorte, meu resultado foi um "5"! Pena não estarmos jogando a sério essa rodada.

— Nós estamos jogando sério. Só você não percebeu — respondeu Nuit, os olhos fixados no resultado do lançamento.

— Então, já finalizou sua teoria maluca sobre minha trapaça? — debochou Murgorini, arrancando risadas do público. — Por favor, conte em detalhes sobre como eu manipulo a dama da sorte.

Nuit continuou em silêncio por alguns instantes. Imóvel, a tecnomante avaliou mentalmente a última jogada do oponente, lembrando e juntando os detalhes que havia observado nas rodadas anteriores. Era apenas um palpite, uma intuição, mas as evidências apontavam que Murgorini estava realmente manipulando o jogo e já estava na hora de ser desmascarado.

— Primeira trapaça... — declarou Nuit repentinamente, erguendo o dedo indicador da mão esquerda. — Os dados foram alterados.

— Você mesma avaliou os dados antes de começarmos — rebateu. — São perfeitamente normais, sem nenhum mecanismo oculto ou coisa do tipo.

Nuit tomou os dados para si, os sacudindo na palma de sua mão. Usar apenas um braço era mais cansativo do que carregar o peso da prótese mecânica. A tecnomante os aproximou à boca, lambendo e encharcando em saliva, comportamento que gerou repulsa em Murgorini e em alguns outros ali presentes.

— Esses dados foram revestidos com ímã líquido — afirmou Nuit, jogando os dados sujos de saliva no tabuleiro. — Senti um gosto parecido com o material ferromagnético da minha prótese na primeira vez que mordi os dados, antes do jogo começar. Agora tenho certeza que foram imantados.

— Absurdo. Não faz ideia do que está falando — engasgou Murgorini, pasmo com o conhecimento de Nuit. — Pode provar ou devemos acreditar numa acusação baseada em achismo?

Com um movimento inesperado, a tecnomante sacou uma adaga de aço presa na cintura de um dos homens curiosos ao seu lado e a apontou para o par de dados. Conforme Nuit moveu a adaga pelo tabuleiro, os pequenos cubos sutilmente seguiram os movimentos da lâmina.

— Isso é prova suficiente? — zombou, cravando a ponta da adaga na mesa. — Admita que seu jogo é manipulado pelo magnetismo e vamos acabar de vez com isso.

A Última Conjuração | Vol. I [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now