Destinados ao Trono - Nascidos da Brasa

Capítulo 6 - Cicatrizes do amanhã

Após a morte de Klein, Peter e Liza continuaram a chorar por segundos, até que esses segundos se tornaram minutos, minutos que pareceram uma eternidade. Apesar da tristeza, as duas crianças já haviam chorado tanto que as lágrimas começavam a faltar. Mesmo assim, a dor da perda que ambos sentiam ainda era latente em seus peitos.

Naquela noite, além dos dois já terem perdido todos os seus amigos, Liza também havia perdido seu irmão, que sacrificou sua vida para salvá-la. Já Peter havia seu melhor amigo e maior rival. O sentimento de desolação que as duas pobres crianças sentiam certamente os acompanharia por longos anos, ou talvez para sempre. A culpa causava um gosto amargo em suas bocas, tão amargo quanto café puro. Apesar disso, Peter sabia que eles não poderiam ficar ali de luto para sempre, se levantando e indo em direção aos fragmentos de pedra que soterraram Sophie.

- Pe...ter? – Liza, com seus olhos vermelhos e seu delicado rosto inchado após tanto chorar, fez um olhar confuso para o garoto, sem entender exatamente o que ele queria.

- Vamos precisar sepultá-los... certo? Vou ver se consigo encontrar... o corpo de Sophie... – O garoto de cabelos negros fechou seus olhos, enquanto cerrava seus punhos com força. Ele sabia que naquele momento era necessário se manter forte, afinal, eles ainda estavam na floresta.

Liza permaneceu ao lado de seu falecido irmão, enquanto Peter andava com dificuldade até seu objetivo. Nesse momento, ele foi capaz de notar que todo o local estava repleto de cristais azuis, com vários deles presos ao chão. Mesmo assim, Peter não havia visto o que estava mais próximo de si, um cristal que caíra não muito longe de onde eles estavam antes de Klein ser atingido.

- Uoooo-. – O garoto havia tropeçado em um dos cristais, caindo de cara no chão, em um pedaço que ainda estava meio lamacento por conta da magia de Liza.

- V-você está bem...? – Perguntou a garota, enquanto abria um olhar de preocupação. Ela sabia que Peter havia botado muito esforço naquela luta e que seus sentidos não estavam normais. Logo Peter, tão observador, tropeçando em algo logo abaixo do seu nariz? Ele certamente não estava bem.

- E-Estou bem... – Peter se levantou com dificuldade por conta do cansaço e do lamaçal.

O garoto se pôs de pé e desta vez começou a fazer um caminho que contornasse o lamaçal. Liza já havia deixado de se preocupar ao ver que o garoto estava bem e voltou a sofrer em silêncio pela perda de seu amado irmão.

Peter continuou andando, até chegar ao lado dos fragmentos de pedra. A boca do garoto se arqueou para baixo, enquanto sua sobrancelha se franzia levemente. O rapaz levou sua mão direita até as pedras, tocando as. Logo em seguida, fechou seus olhos e passou a apertar seus dentes com força.

- Sophie... Me desculpe por ter sido um inútil... – O garoto continuava a apertar seus dentes, fazendo um minuto de silêncio e prestando suas condolências a sua falecida amiga.

Devido ao silêncio total que predominara no local, era possível escutar o som da natureza. Os grilos chiavam de forma intensa, cantando naquele belo luar de primavera. O vento assobiava por toda a montanha, chacoalhando as folhas das árvores. As folhas dançavam conforme o assobio do vento, indo de um lado para o outro, seguindo o vento. Aquele silêncio, ao mesmo tempo em que era relaxante, era extremamente doloroso. Peter já estava prestes a voltar a se mover, quando um som diferente pode ser escutado.

- P... P... – O som misterioso era quase como um sussurro. Esse sussurro só pode ser ouvido por conta daquele silêncio que havia tomado conta do local.

- O-O que? – Peter murmurou, sem entender o que era aquilo. Era como se aquele som tentasse falar.

O garoto fechou seus olhos e se focou totalmente a sua audição. O som que antes ele escutava vindo da floresta havia ficado levemente mais alto devido a sua enorme concentração.