🎗Parte 5| É o fim?

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Estou cansado de fingir que está tudo bem. Parece que ninguém se importa. As pessoas olham os cortes no meu braço e viram o rosto. A Diana ficou feliz por eu ter terminado meu namoro. Como ela consegue ficar feliz vendo que eu estou sofrendo com tudo isso?

Ontem minha irmã se irritou comigo. Disse que eu deveria parar de ser tão "trouxa". Disse também que eu já estava passando dos limites, e que eu deveria superar logo esse término. Falou mais um monte de coisas e concluiu dizendo "Se for para ter um irmão que vive chorando pelos cantos, eu prefiro nem ter. Sabe por que, Victor? Porque eu não preciso de alguém que só me transmita tristeza." Ela cuspiu essas palavras na minha cara, foi como se eu estivesse levando uma facada no meu peito.

Mas, afinal, se ela não me quer como irmão e não precisa de mim, o que eu ainda estou fazendo aqui? Não aguento mais essa dor, esse vazio. A vida já perdeu o sentido para mim há muito tempo, só quero me livrar de tudo isso.

Eu cansei.

Essa é a última vez que escrevo nesse diário.

Lembro como se fosse hoje. Eu passei toda aquela noite chorando baixinho e planejando como eu causaria a minha própria morte. No dia seguinte, esperei minha irmã sair de casa e tudo aconteceu como no meu pesadelo.

As lágrimas vieram com grande intensidade. A dor da perda dos meus pais, do meu término com a Maria Lúcia, do desprezo da minha própria irmã e das vozes em minha mente que me diziam que eu era um inútil e que precisava desistir voltaram a minha mente como na primeira vez.

- Victor? - minha irmã me chamou da porta do quarto. Quando me viu chorar, veio correndo e me abraçou.

- Foi por isso que me pediu perdão, não foi? - perguntei, ainda chorando, apontando para a página do diário. Ela concordou com a cabeça - Eu lembrei.

- Irmão, eu falei tudo aquilo da boca para fora. Não foi de coração...

- Eu preciso sair um pouco.

- Aonde você vai?

- Qualquer lugar.

- Victor, fica aqui, por favor... - ela falava desesperada, começando a chorar, enquanto eu saía de casa e subia em minha bicicleta. - Eu amo você.

Saí sem me importar muito para onde eu estava indo. Minha visão estava embaçada por causa das lágrimas que desciam sem parar.

Parei em um viaduto interditado por ser considerado um risco à segurança pública.

Observei os carros correndo em alta velocidade sob o viaduto. Tanta gente com pressa, correndo atrás de coisas que não tem nem um valor verdadeiro.

Me aproximei mais da borda do viaduto. Várias cenas se passaram em minha mente. O enterro dos meus pais; a Maria Lúcia me expulsando de sua casa e dias depois aparecendo com um rapaz, e agindo como se eu fosse um nada. Minha irmã dizendo que não precisava de mim.

Olhei as marcas dos cortes em um dos meus braços e o outro enfaixado por causa da profundidade dos ferimentos.

Talvez eu precise terminar aquilo que eu comecei. Ninguém vai sentir falta mesmo.

🎗MAIS UMA VEZWhere stories live. Discover now