Cartas Não Mentem | Capítulo Três

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Lena encarava as cartas ciganas espalhadas pelo tapete branco do quarto de Elisa, incerta se deveria prosseguir com o jogo. Todas as jogadas com o tarô foram confusas e desconexas, as respostas não se formulavam, então resolveu tentar com o baralho cigano para ver se tinha algum sucesso.

Encarava a pequena pilha de cartas como se fossem um obstáculo, então tentou relaxar os músculos e esvaziar os pensamentos para se concentrar. Estava difícil fazer isso com sua mente longe, vagueando entre Elisa e Clarissa. Era difícil se concentrar enquanto sua mente sempre se voltava para as duas, preocupada e exaustivamente.

Fechou os olhos, mordendo o lábio de leve e deixando sua energia fluir, pensando em Clarissa. Precisava saber se ela estava bem, se ela precisava de ajuda.

Quando abriu os olhos, as cartas flutuavam no ar em um pequeno redemoinho, uma dança própria que Lena não conseguia compreender. Observou as cartas se misturando e se embaralhando antes de finalmente caírem sobre o tapete novamente, voltando a ser uma pequena pilha organizada.

Apenas três cartas permaneciam no ar e caíram lado a lado, em uma linha reta.

Inclinou-se e virou uma por uma, sentindo um nó na garganta.

A primeira era A cigana, então não pôde tirar muitas conclusões. Representava uma figura feminina, então poderia ser Clarissa ou qualquer outra pessoa.

Assustou-se quando virou a segunda carta e encarou O urso, o animal enorme e com as patas erguidas. Podia significar algo sufocante, uma sobrecarga sentimental, ou pessoas próximas com intenções ruins. Também podia significar proteção, o que lhe deixava mais confusa sobre para qual lado seguir, sem saber se alguém estava a protegendo ou querendo fazer mal.

Foi quando tirou a última carta que sentiu um nó na garganta. A torre. Talvez a carta da cigana não representasse Clarissa, mas outra figura feminina que estivesse agindo como um urso e lhe mantendo presa na torre.

A torre certamente era um sinal de isolamento, mas não algo bom. Voltou seu olhar para a primeira carta, imaginando quem seria aquela figura feminina. Lucas e Kenan disseram que não havia nenhuma pista, Clarissa havia simplesmente desaparecido, então só podiam presumir que alguém com muito poder estivesse com ela, com poder suficiente para camuflar a energia de Clarissa, cobrir qualquer rastro deixado para trás.

A porta se abriu antes que pudesse concluir seu devaneio, não ficou surpresa de ver Lucas, mas surpreendeu-se ao ver que Asmodeus vinha atrás dele. Levantou o olhar para os dois, deixando as cartas de lado.

— Talvez Asmodeus consiga absorver toda a energia demoníaca das feridas — explicou Lucas, enquanto Lena se colocava de pé. Assentiu lentamente, sem ter mais alternativas. Asmodeus observava Elisa na cama, dentre os travesseiros e com as costas expostas, dois cortes verticais atravessando sua pele pálida.

Ele se aproximou da ruiva sobre o olhar atento dos outros dois, parando ao lado da cama. Com cuidado, esticou uma mão e a colocou acima dos machucados da ruiva, sem tocá-la.

Por um instante, nada aconteceu e Lena ficou imaginando se aquilo era uma tentativa em vão, mas então viu Elisa se revirar, uma fina névoa escura deslizar dela para as mãos de Asmodeus, como se puxada por um ímã. Aquilo espiralava levemente, quase como a fumaça de incenso a qual estava tão acostumada.

Aos poucos, a névoa foi enfraquecendo e sumindo, até que não restasse nada no ar entre a mão de Asmodeus e Elisa.

— É tudo o que eu consigo — disse, dando de ombros com indiferença. — Ela provavelmente absorveu uma parte, não há nada que eu possa fazer quanto isso — completou. Lena já sabia disso, era por isso que vomitara o líquido em vez de absorvê-lo, a energia demoníaca o repelira.

Fúria | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora