Reflection

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Tudo começou quando passei a me observar mais no espelho. Depois de seis meses de preparação pra ingressar num programa de trainees numa agência de advocacia disputando por uma das duas vagas disponíveis, eu finalmente tive tempo de me olhar melhor no espelho.


"Kihyun, agora que a gente conseguiu essa vaga, a gente tem que mudar de vida e respirar um pouco. E precisamos de roupas novas."


Me lembro claramente das palavras de Lee Minhyuk, meu amigo de uma vida e que, por obra do destino, foi selecionado junto comigo. Com o diploma em mãos há apenas um ano essa era a oportunidade das nossas vidas. Dois caras com algumas atribuições excelentes no currículo durante a graduação, tempo livre e motivação suficiente pra aprender e crescer no campo. Pareceu justo, uma recompensa merecida pelos anos de estudo e sofrimento acadêmico. E foi no provador de uma loja que não me lembro muito bem qual era que comecei a reparar no meu reflexo. Parecia ligeiramente mais lento que eu, como se tivesse algum delay. Lembro de franzir a testa e quase tocar naquele espelho quando fui tirado daquele transe pela voz de Minhyuk e a visão do moreno mais alto num terno completamente alinhado entrando no provador como se fosse um furacão e me empurrando no processo.


"Então, já experiment... VOCÊ AINDA NÃO BOTOU ESSE TERNO? Deixa eu te ajudar"


Quando consegui tirar aquele escandaloso do provador, me olhei novamente e num impulso de racionalidade suspirei e pensei "Deve ser estafa. Isso! Estafa.". Naquele dia voltei pra casa decidido a relaxar. Obviamente minha mente esteve tão sobrecarregada que estava me pregando peças. Definitivamente era isso.

Pelo menos foi isso o que pensei. Semanas depois do primeiro ocorrido eu estava saindo de casa pra mais um dia de trabalho e ao passar pelo espelho do corredor vi pelo canto do olho um movimento estranho no meu reflexo. Voltei. O espelho retangular, deitado e sem moldura refletia meu rosto, a parede branca atrás de mim e parte da sala de estar. Tudo parecia normal mas a sensação de que algo estava errado permanecia dando voltas na minha mente, como se dançasse. Minha garganta subitamente ficando seca.


"Qual é, Yoo Kihyun? Isso não é hora de perder tempo. Foi só impressão sua."


Ajeitei a gravata vinho, presente de minha mãe e amuleto da sorte.

Foi quando notei novamente. O delay estava ali, quase que imperceptível e ao mesmo tempo tão real quanto a própria gravata que sentia em minhas mãos. Minhas pernas pareceram perder o equilíbrio e precisei me segurar por um instante no aparador à minha frente, toda a decoração balançando levemente por conta do meu peso sobre o móvel. Senti o ar a minha volta ficar levemente pesado e frio, minha cabeça parecia girar. Foi então que ouvi um toque. O tão conhecido toque do meu celular me tirando daquele mar de sensações e trazendo de volta à realidade parando de tocar assim que minhas mãos alcançaram o aparelho. Duas chamadas perdidas. Uma de Minhyuk e a mais recente, da minha chefe. Nunca em toda minha vida fui tão grato por isso.

Meses se passaram sem que eu notasse nada diferente. Minha vida continuava normalmente com cada vez mais casos pra estudar, congressos pra atender e grana no bolso. Estabilidade financeira em dia, vida social também. Eu já tinha até mesmo esquecido das coisas estranhas que aconteceram meses antes. Até que uma noite no meu "bar de sempre" tive a impressão de que meu reflexo me observava fixamente através dos grandes espelhos atrás do balcão. Meu reflexo parecia não ter expressão alguma mesmo que eu sentisse minhas sobrancelhas arqueadas em confusão. Wonho, o barman de cabelos loiros e que de tantas idas ao bar já me conhecia pelo nome pareceu perceber.

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