Como Estranhos

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Novamente acordei em um local desconhecido, mas desta vez estava em uma cama luxuosa e minhas feridas estavam curadas. Ao meu lado estava alguém de cabelos longos e negros com um vestido vermelho simples, estava mexendo em alguns panos ensanguentados, que provavelmente eram aqueles que tinham usado em minhas feridas.

— Com licença senhorita pode me dizer onde estou?

Ao virar com um sorriso gentil e inocente me respondeu.

— No palácio real, meu senhor te trouxe aqui e pediu que cuidasse de você.

Com o susto acabei caindo da cama.

— Lu..Lúcifer ?

Estava boquiaberto, esse sorriso gentil .... estava cuidando de mim e mais que isso ele deveria estar morto, eu mesmo o vi morrer.

— Hm? Me conhece senhor ?

Senhor ? O que esta acontecendo, ele que deveria ser o senhor. Pelo menos sei que estou no inferno, o que não me deixa tranquilo.

— Pode-se dizer que sim, você mencionou um senhor, quem ?

— O senhor chapeleiro Dantalion é claro. Ele é o regente do país do espelho. Eu sou a rainha vermelha, este é meu castelo.

Rainha, espelho... Pelo menos acertei que este mundo é algo totalmente invertido e que aquele cabeça de vento parecia o chapeleiro punk.

— Quando estiver pronto meu senhor deseja vê-lo.

Ele se levantou, apontou para uma pilha de roupas e logo deixou o quarto.
Ainda meio atordoado escolhi as peças mais "básicas" que consegui, mesmo que essa não seja nem de perto a palavra correta para descrever o estilos daquelas peças.
Depois de pronto saí do quarto e andei pelo colorido e estranho castelo até chagar ao que parecia a sala do trono, um lugar totalmente psicodélico e macabro, cabeças de cabra e candelabros com fogos de diferentes cores faziam a decoração das paredes enquanto o chão era todo quadriculado como um tabuleiro de xadrez.
Visualizei o local com um frio na espinha e olhando o trono vi Dantalion sentado com as pernas cruzadas, uma superioridade que fazia minhas pernas tremerem. Estava agora vestido como um verdadeiro rei, uma bela jaqueta preta com pelos brancos nas bordas, no pescoço um lenço azul e no corpo uma camisa de botões cinza. Logo abaixo sentado no chão estava Lúcifer, que abraçava as pernas de Dantalion que repousava a mão sobre a cabeça daquele que antes era o mais poderoso rei do inferno, e agora age como um animal de estimação.

Fui cortado de meus devaneios pela voz que a mim se dirigia ríspida e seca.

— Agora que esta curado saia. Não eres bem vindo aqui.

Não só as palavras como também seu olhar me cortaram, senti como se pudesse morrer sem derramar uma única gota de sangue.
O que foi que aconteceu com aquele que dizia que queria ficar ao meu lado? Mais do que estava surpreendido por sua rudeza estava surpreendido pelo quanto aquilo estava me machucando.

— Eu não sei como sair daqui, não tenho para onde ir.

Ele encarava-me com ar de desprezo.

— Isso não é problema meu, não quero um mortal vagando em minha vista.

— Mas...

— Guardas! Tirem-no daqui, se resistir podem mata-lo.

— Não! Espere!

Eu seria morto, precisava pensar em alguma coisa rápido.

— Que tal um jogo? Se eu vencer me deixa ficar.

Os guardas chegaram mas ele deu o sinal para que parassem.

— Jogo? Acha que pode me vencer ? Haha, vá em frente, o que deseja jogar mortal?

É isso! Ele aceitou, só preciso vencer e tudo ficará bem, sei seu ponto fraco, só preciso escolher um jogo de inteligência, ele não pode me vencer nisso.

— Xadrez.

Digo confiante. Ninguém nunca me venceu no Xadrez.

— Ótimo.

Com um balançar de dedos ele fez o espaço entre nós se transformar em um gigante tabuleiro de xadrez.
A vitória é minha!

— Não tão fácil mortal, se você vencer pode ficar, mas se perder vou sugar até a última gota do seu sangue e comer seu coração.

Ele passou a língua nos dedos, me olhando sádico.
Senti um arrepio horrível.
Não é hora pra isso! Não preciso ter medo, vou vencer!
Não demorou muito para que ele vencesse o jogo.

— Impossível!

Não pode ser! Quando ele ficou tão bom nisso?! Meu ar tornou-se histérico.

— Melhor de três!

Tentei negociar.

— Nada disso. Trato é trato. Já deveria saber que não pode negociar com um demônio.

Tentei correr mas fui arrastado até ele com magia, caí sentado em seu colo. Não conseguia mexer nem um só músculo. 
Ele rasgou minha camisa dando visão a meu pescoço e peito.
Com a mão direita puxou meu cabelo obrigando a mostrar meu pescoço, a mão esquerda sobre meu coração, este batia como o de um passarinho.
Ele olhava-me com cara de fome.

— Parece delicioso.

Os olhos rubis brilharam em vermelho sangue enquanto ele deixava as presas e garras crescerem, dando-lhe uma aparência mais demoníaca do que a que eu estava acostumado.
Seu jeito normal as vezes me fazia esquecer de suas origens.
Enquanto ele enterrava suas unhas em meu peito, lambia meu pescoço como quem desfruta de uma comida antes de abocanha-la. Senti a mordida, seus dentes entrando lentamente, doía tanto. Não pude conter as lágrimas.
Então é assim que tudo termina, vou morrer para ele.
Mas para minha surpresa ele parou, soltou meu cabelo pra mover sua mão até meu queixo levantando até que olhasse direitamente em seus olhos.
Em seu olhar senti confusão, tristeza....
Uma arrepio percorreu meu corpo, tal como o dele que senti se contorcer no trono.

— Salo...

Então é isso, o que ele estava sentindo era Salomão e não a mim. O vínculo deles é tão forte que mesmo neste mundo invertido não podia ser quebrado.
Uma pontada tão forte percorreu meu coração que me encolhi em seu colo.
Quero acordar. Esse não é Dantalion, esse não é meu mundo, eles não estão aqui.
As lágrimas continuavam caindo.
Ele mais uma vez moveu meu rosto, mas dessa gentilmente, como no outro mundo, o mesmo toque.....
Com a mão virada limpou as lágrimas do meu rosto, agora podia sentir, olhava para mim, não mais para Salomão. Levantou-se me colocando sentado no trono e logo sumiu.
Fiquei mais alguns minutos tremendo. É a primeira vez que algo assim me acontece. A mordida e arranhões me doíam, como queimados, meu corpo estava tão quente.

— Quente...

Antes de cair no chão pude ver a figura de alguém entrando, usava mascara de lebre, era Sitri. Espero ao menos ele não tenho mudado.
Ao menos ele....

William No Mundo Do EspelhoWhere stories live. Discover now