dix: Halloween

940 93 148
                                    

Assim que Eddie pisou seus pés sobre o gramado verde vívido da casa de Hockstetter teve a visão de um quintal tomado por adolescentes de todos os jeitos. Cada um vestido em sua pior fantasia e em seu pior estado, alguns estavam jogados na grama enquanto fumavam um baseado que exalava um cheiro forte de erva que acabava entorpecendo todo o corpo trêmulo de Kaspbrak. Outros dos jovens dali competiam enquanto tomavam copos e mais copos vermelhos repletos com cerveja, ou seja lá o que tivesse dentro deles. Já um grupo se enfrentava, enquanto seus corpos suados e extasiados, que, por sinal, cheiravam a testosterona, esbarravam-se uns nos outros, e vez ou outra seus punhos acertavam em cheio o corpo alheio sem piedade alguma.

Decidiu respirar fundo e ir em frente. Encarou seus tênis imundos e desgastados antes de movê-los e arrasta-los em direção a porta de entrada. E quando o fez, abriu a porta em apenas uma fresta e nesse mesmo instante um flash de luz colorida iluminou o gramado lá fora e o ambiente cujo ecoava uma música extremamente alta com graves que se juntavam às batidas aceleradas do coração de Eddie. Também, como se abrisse uma embalagem a vácuo, acendeu um cheiro forte de álcool, maconha, perfume barato e fumaça. Eddie agora empurrou a porta até que tivesse espaço suficiente para entrar e quando finalmente o fez, fechou-a atrás de si. A situação da parte de dentro da casa não era muito diferente da parte de fora, havia ainda mais gente, mais barulho e com certeza não havia quem estivesse sóbrio, já que as ações de jogar bebidas para o alto e se molharem com o álcool deixava isso o mais claro possível. Sua respiração era desregulada. Sentia-se estúpido com sua fantasia improvisada que se continha em calças jeans de cintura média e que iam até sua canela e formava-se um dobrado enrolado, camiseta amarrotada, larga e branca, all stars amarelos e mais sujos do que deveriam e apenas uma auréola em sua cabeça envolvida em um arco. Sentia-se ridículo em sua roupa de anjo, mas era literalmente o que ele queria ser naquele momento; queria ser um anjo que possuísse um contato direto com alguma força divina que pudesse tirá-lo dali o mais rápido possível.

— Gostei da fantasia — a voz quase melódica de Beverly Marsh ecoou quase em sintonia com a música que tocava. Seu corpo envolto com um vestido solto, vermelho e de cetim, meia rastão e tênis preto. Seus lábios eram pintados em um batom tão vermelho quanto o vestido e um lápis de olho preto que deixava seu olhar ainda mais estreito. Os fios enferrujados caíam sobre seu rosto corado e quase tocavam seus ombros ossudos ressaltados pela alça fina do vestido. Assim que ouviu a voz da ruiva Eddie sentiu um nó em seu estômago. — Combina com você.

Demorou para raciocinar e assimilar a situação, mas quando o fez soltou um sorriso pequeno e fraco. Quanto tempo havia que nem sequer olhava para o clube dos otários? Não que eles tivessem brigado, mas digamos que o universo não tenha sido muito generoso, se é que me entendem.

— A sua também — falou alto para que sua voz não sumisse em meio ao barulho estrondoso que ecoava cada vez mais forte dentro daquele casarão velho. — Parece que não te vejo a séculos, perdi muita coisa?

E esse foi apenas um gatilho para que Marsh disparasse a falar como uma metralhadora que solta centenas de palavras a cada dois segundos. Contava tudo com detalhe e um sorriso que servia-lhe muito bem. Só que em algum momento as palavras pararam de fazer sentido e Eddie desviou seu olhar para um canto onde estava Henry Bowers e Patrick Hockstetter juntos. Os dois valentões o encaravam com sangue nos olhos. Eles viravam copos cheios com álcool na boca, porém os olhares ainda queimavam e doíam sobre Kaspbrak. O baixinho engoliu em seco e tremeu quando os viu iniciar uma sequência de passos curtos e lentos em direção onde ele estava parado junto a garota ruiva que não calava-se nem por um milésimo sequer.

Agarrou os ombros da ruiva e olhou-a assustado.

— Bev — disse rápido. — Foi ótimo ver você também, mas eu preciso ir. Nos falamos depois, tudo bem?

O Amor é uma Vadia | Boris PavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora