o9| O VELHO CACHORRO DA FAMÍLIA HENRY-MORGAN

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"Garota, garotinha, você vai voltar para casa? Para mim, para essa noite mais escura que nunca vai deixá-la ficar. E cantar, fogo, fogo, fogo. Oh, eu vou cantar para você, minha garota, garotinha triste." Jake Bugg (Fire)


Os vinte minutos de Natalie se transformaram em horas, onde não demorei a adormecer no sofá esperando que desse algum sinal de vida

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Os vinte minutos de Natalie se transformaram em horas, onde não demorei a adormecer no sofá esperando que desse algum sinal de vida. No curto sonho que tive, Desmond e seu grupo me arrastavam para a parte mais escura da floresta, onde me jogavam no lago com pedras amarradas aos pés. Acordo com uma leve comichão no joelho e estico as pernas para o chão, na tentativa de aliviar a dor que já começa a dar os primeiros sinais em meu corpo.

— Parece que dormi em uma trincheira — resmungo.

Olho para a lareira e o crepitar da madeira me conforta, espalhando uma sensação acolhedora pelo casarão, como os dias em que tio Ben vinha com a família. Não escuto movimentação no piso superior. E se Natalie saiu e não quis me incomodar? Quando penso em me levantar para procurá-la, passos apressados ressoam lá em cima, me fazendo ficar onde estou.

A chama na lareira começa a ficar mais viva e ardente, lançando algumas faíscas sobre o carpete.

Dou um salto e pego o ferro para abrandar o fogo, cutucando a madeira e protegendo os olhos da luminosidade fosca que ela emana. As labaredas começam a ficar mais furiosas e rebeldes, então decido apagá-las, indo até a cozinha para pegar água. Ao retornar com uma jarra de água, encontro as chamas extintas, restando apenas um leve chiado frenético na madeira chamuscada, como se zombasse de mim. Observo a fina fumaça podre se alastrar pela sala, mas nada das chamas.

Escuto mais passos no piso superior e sons parecidos com socos na parede. Fico em alerta quando os passos frenéticos passam para uma correria incessante, de uma ponta do corredor para a outra.

Por que Natalie estaria correndo pelos corredores?

Ando mancando até o sopé da escada e permaneço em alerta, sentindo a vibração dos passos no corrimão de madeira. As passadas continuam incessantes e mais ligeiras, como se alguém estivesse pisando com muita força e raiva. Começo a subir de mansinho mesmo com a comichão aguda no joelho, me perguntando quem diabos invadiria a casa do temível John Greenwood.

Ainda sorrateiro, chego ao meio da escada, onde tento visualizar os pés furiosos de quem ameaça derrubar o corredor a qualquer instante.

— Que coisa...

Os sons continuam, e em momento algum consigo avistar o tal invasor, nem mesmo uma fagulha de sua sombra. Ainda alarmado, chego até o piso superior, onde os passos cessam de uma maneira rápida e absoluta, como se não estivessem por ali segundos antes. Olho atentamente para os lados e vejo que apenas o vazio me cerca, e aquele silêncio estranho e suspeito.

Caminho sorrateiro para meu quarto, indo até o baú e colocando uma pistola na velha mochila de carga. Enquanto procuro alguma munição, os passos voltam a ecoar pelo corredor. Sinto os pelos dos braços e da nuca se eriçaram e então sei que algo está muito errado. Agarro duas caixinhas de munições e as jogo dentro da bolsa. Quando dou o primeiro passo para sair, a maldita madeira range com meu peso, parecendo me denunciar, pois os passos voltam a cessar no mesmo instante.

SUA TERRA É MINHAWhere stories live. Discover now