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Minha vida é perfeita. Pelo menos é o que eu faço as pessoas pensarem. Ser a garota mais popular da escola não é ruim, mas não foi algo que eu sonhei algum dia.

As vezes as coisas não acontecem do jeito que planejamos e quando meu pai morreu eu fiquei tão sem chão que me agarrei a essa popularidade como se fosse a única coisa que restou.

Eu mudei.

Mas não era pra menos.

Uma perda tão grande quando se é tão nova deixam feridas. E essas feridas às vezes não saram. Eu sufoquei a dor, fingi um sorriso quando esperavam que eu chorasse.

Quando estava em casa sozinha eu me permitia sofrer. Deixei a minha irmã de lado, ela não sentia, não tinha idade pra saber o quanto a morte é dolorosa. Minha mãe passou a trabalhar em dobro pra sustentar a nós duas e eu fingia que não sentia sua falta quando ela chegava tarde da noite.

A ausência dos dois doía. A dele não tinha mais volta. Foi tão de repente. Ele saiu pra trabalhar e me ligou quando estava voltando dizendo que tinha uma surpresa, mas ele nunca chegou.

Eu tive raiva no início. Não aceitava a perda. Mas sofria em silêncio. E no único dia em que me permiti gritar, deixar a dor sair sonoramente, eu o vi. Um garoto loiro de cabelos compridos me encarava assustado, fingi que não o vi e então entrei desesperada por ter sido tão fraca.

Eu nem fazia ideia de quem ele era. Mas fiquei com raiva dele por estar alí, acabei descobrindo que eram os novos vizinhos quando minha mãe foi com a minha irmãzinha Lara levar uma cesta de frutas desejando as boas vindas. Eu me recusei a ir. Não podia encara-lo depois dele ter visto a minha dor. E assim a minha raiva dele nunca passou.

Eu notava que ele tentava uma aproximação mas nunca permiti nem mesmo um Oi. Não deixaria mais ninguém entrar na minha vida, pra perder depois bastava as pessoas que já tinham.

Sendo assim eu nunca virei amiga dos garotos loiros da casa ao lado. Meu pai não teria gostado disso, ele tinha um coração tão bom, enquanto o meu, não era um dos melhores.

Eu sabia que se ele pudesse ver quem eu me tornei se decepcionaria. Sofreria ao me ver zoando os outros alunos, ou usando esses mesmos alunos quando precisava de ajuda em algum trabalho. E logo depois os descartando como se sua existência fosse apenas pra que eu pudesse aproveitar quando quisesse e nada mais.

E eu não sentia culpa. Não mais. Eu fiz o que tinha que fazer pra suportar a dor.

- Posso saber o que a minha namorada está pensando? - Connor diz assim que senta a minha frente no intervalo entre as aulas. Um selinho é depositado em meus lábios rapidamente.

- Nada que valha a pena. - sorrio e ele franze a testa.

- Tudo que você pensa vale a pena, Darling. - ele sorri e inclina a cabeça levemente fazendo seus cabelos castanhos caírem sobre a testa.

- Estava pensando no meu pai, Connor. - falo por fim.

Sua expressão é de chateação.

- É, você tinha razão! Não vale a pena, assunto mórbido não é comigo.

Meu coração salta com o choque das suas palavras. Levanto repentinamente e ele então me segura. Eu não o encaro.

- Me desculpa, me desculpa. - repete insensantemente. - Eu falei bobagem, Lana.

- Tudo bem! - olho pra ele que tem o rosto apreensivo. - Eu preciso ir, tenho ensaio agora.

Não queria discutir alí. Até porque, Connor não valia o esforço.

INESQUECÍVEL ( Em Pausa)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora