|22| uma resposta e uma lágrima

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Wooyoung correu como se sua vida dependesse disso.

Os poucos alunos que ainda andavam pelos corredores não lhe davam atenção. Ninguém se importava com o moreno afobado que passava por eles como um raio. Muito pelo contrário, alguns até reclamavam da falta de educação do garoto ao esbarrar em suas mochilas enquanto fazia seu caminho até a cafeteria.

Quando entrou no lugar, seu estômago pareceu despencar. A pessoa que tanto queria encontrar não estava presente em nenhum lugar visível e mesmo os dez minutos que gastou andando para lá e para cá não pareceram suficientes para que ele aparecesse. Caminhou entre os poucos alunos ali e desistiu, sentindo o fundo de seus olhos arder levemente, virando-se para ir embora.

Não acreditava que havia sido tapeado. Claro que algo tão bom não poderia ser verdade. Os pensamentos auto-destrutivos se aglomeravam em sua mente conforme passos eram dados em direção à saída. Não se importava mais com a aula, tampouco com o quanto poderia preocupar Yeosang se desaparecesse como queria naquele momento.

Antes que uma lágrima solitária tivesse a chance de escorrer pelo seu rosto e um soluço escapasse por entre seus lábios, o dançarino cruzou a porta de vidro da cafeteria. Sem qualquer pudor, o Jung se recostou na parede fria e deixou que seu corpo deslizasse até que seus joelhos batessem em seu peito e suas pernas pudessem ser envolvidas por seus braços.

Não sabia dizer quanto tempo ficou naquela posição, sentindo as lágrimas silenciosas descerem pelo próprio rosto. "Parabéns, você foi enganado, de novo", pensou consigo, antes de sentir um leve toque em seus cabelos, seguido de um acariciar gentil e um perfume que poderia ser reconhecido em qualquer lugar.

Quando levantou o rosto, Wooyoung encarou diretamente aqueles olhos negros cheios de confusão, sem se importar que a pessoa agora usava a mão livre para secar suas lágrimas e acariciar-lhe o rosto avermelhado pelo choro.

San afastou-se do menor e passou a gesticular, lentamente, para que suas palavras ficassem mais claras para o moreno, que havia aprendido algumas poucas coisas por causa do tempo que passavam juntos.

"Desculpe... Eu... Atrasado".

Foi tudo o que Wooyoung entendeu, e também foi o suficiente para que o rapaz se jogasse nos braços do mais velho, abraçando-o apertado enquanto escondia o rosto na curvatura de seu pescoço, sentindo um acariciar em suas costas. Os dois ficaram naquela posição até que o mais novo parasse de chorar e se sentisse confortável o suficiente para se sentar direito. Preocupado, San ajudou o menor a se levantar e o guiou para o terraço da universidade. Wooyoung não resistiu e apenas se deixou ser levado, sem dar atenção alguma à paisagem de tirar o fôlego que podia ser vista da borda do telhado. 

O maior logo parou em frente à grade, sentindo o Jung ao seu lado, secando as poucas lágrimas que insistiam em lhe escorrer o rosto. Quando o moreno pareceu estar melhor, outro envelope colorido fora estendido em sua direção por um San de bochechas coradas e olhos brilhantes.

-Você quer que eu leia agora? - o Choi assentiu, as mãos juntas em expectativa. Com cuidado, Wooyoung desdobrou o papel rosa algodão doce e começou a ler calmamente a caligrafia cuidadosa do  maior.

"Wooyoung,

Eu quero ser sincero com você. Quero estar sempre ao seu lado, ser seu amigo e confidente. Mais que tudo, quero que você seja meu primeiro amor.

Você brilha quando sorri, sabia? Sua risada contagia e sua beleza é incomparável. Queria poder dizer isso em voz alta, mas, no momento, papel e caneta são tudo o que eu tenho para expressar o quanto você é especial. 

Você não me abandonou quando viu o quão diferente eu sou, o quão difícil eu posso ser de lidar e eu sou eternamente grato.

Você me tira mais que sorrisos, Youngie. Você é o motivo pelo qual eu tenho dormido melhor a noite, pelo qual eu sorrio mais e sou mais feliz. Talvez você não saiba, mas tem me ajudado mais do que imagina.

Eu quero estar ao seu lado sempre. Agora e depois. Em todo e qualquer lugar e momento.

Agora eu peço, real e desesperadamente:

Posso ser seu namorado?"

Wooyoung tinha os olhos levemente brilhantes enquanto lutava para afastar as lágrimas. Seu olhar rapidamente caiu sobre o rapaz mudo ao seu lado, que parecia levemente aflito por ver o outro tão balançado.

-Eu, definitivamente, não mereço você - comentou o mais novo com um sorriso trêmulo enquanto tomava o Choi nos braços outra vez, rindo nervosamente e afundando o rosto no pescoço alheio. Logo San fez questão de apertar o moreno contra o proprio corpo, um sorriso desenhado nos lábios.

-E, sobre a sua pergunta: seria mais do que uma honra ser seu namorado, pequeno Choi - o loiro se afastou lentamente de Wooyoung, tomando seu rosto nas mãos e encostando as testas levemente. As respirações de misturavam e ambos os corações batiam tão rápido que pareciam querer explodir. Sem mais um segundo de hesitação, Wooyoung aproximou o rosto do mais velho, fazendo com que seus lábios tocassem gentilmente os do outro, movendo-os lentamente enquanto sentia uma leve carícia em suas bochechas.

Para San, aquele era seu primeiro beijo. Para Wooyoung, o melhor de sua vida.

Não haviam fogos de artifício, borboletas no estômago ou qualquer coisa descrita em livros e filmes. Era apenas um vácuo, onde nada podia se infiltrar. Sem sons, sem luz, sem ar. Era como se sentiam.

Beijar, para eles, era como entrar em uma dimensão própria, onde nada mais existia. 

Para Wooyoung, tudo o que importava eram os lábios macios tocando os seus, o perfume amadeirado que se impregnava em sua roupa, o toque delicado em suas bochechas e a proximidade em que se encontravam, a distância se tornando cada vez menor.

Para San, importava o pequeno sorriso nos lábios do menor, a sensação de ser puxado para mais perto pelo cós da calça e o gosto leve, quase inexistente, de café da boca do Jung. Algo inebriante e viciante do qual ele queria provar mais e mais.

Quando se separaram, ambos sem ar e com os lábios levemente avermelhados, sorrisos cresceram em seus rostos e a risada descontraída de Wooyoung preencheu o silêncio.

Sua alegria transbordava e sua risada se tornava mais alta conforme o outro enchia seu rosto de beijos. Nas bochechas, na testa, na ponta do nariz e, vez ou outra, nos lábios. Nenhum dos dois se continha. Se Wooyoung gritava para quem quisesse ouvir, San era dono de gestos carinhosos e beijos doces, certificando o mais novo de que tudo era real.

Wooyoung implorava mentalmente para que, se fosse um sonho, ninguém nunca o acordasse.

The Sound of Your VoiceWhere stories live. Discover now