Onze

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eu só consigo pensar que um pedaço de mim ainda está contigo.

não sei onde,

com quem, 

em quais bocas.

como tenho entrado em outros corpos através de você, visto outros filmes, bebido outros sons, provado do ácido que é existir.

não sei o que você tem feito comigo aí dentro.

eu pergunto:

o que você tem feito comigo aí dentro da sua cabeça

pele 

presença?

pra onde eu vou quando você fecha os olhos e pede a deus que me retire da sua vida?

quem te alivia?

quem te cura de mim?

como você me enxerga quando passa pelos mesmos locais onde costumávamos existir, sobretudo juntos?

juntos sim,

carregando um ao outro como se estivéssemos criando um momento perpétuo.

não sei do seu paladar, como você tem feito pra me apertar de todos os seus novos momentos com outra pessoa.

eu ainda me debato na membrana da sua memória enquanto você faz amor com alguém? eu ainda grito desesperadamente dentro da sua aorta enquanto você caminha de mãos dadas por espaços em que me jurou eternidade e todos esses discursos de quem esteve, invioladamente, apaixonado?

a pessoa a qual você se entrega tem sentido seu gosto ou o meu gosto misturado ao seu? meu filme favorito tem se tornado seu filme favorito com ela?

que gosto tem o sabor de mim existindo em todas 

as lembranças

contratempos

coração?

quando você corre o tempo vai corroendo nós dois, qual braço te alcança? em quem você se enrola pra tentar fugir de mim, que resisto pela cidade e por tudo que toquei com minhas mãos energizadas pelo afeto que construímos?

pra qual deus você reza, 

pedindo pra me esquecer?


TEXTOS CRUÉIS DEMAIS PARA SEREM LIDOS RAPIDAMENTEWhere stories live. Discover now