Capítulo 5 - O assalto

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Eles caminham e João fica algum tempo de cara fechada, até que esquece do motivo de estar chateado e diz:

— Eu sei o que você vai fazer! – com aquela birra de criança.

— Fale!

— Vai na oficina procurar pistas do pai.

— Mas eu já fiz isso alguns dias atrás... Por que iria fazer de novo?

— Mentiroso. Mentiroso! – dando língua.

— Vá para casa e entregue o dinheiro para a mamãe!

— Mas eu queria ir com você!

— Não! – o menino resmunga, mas obedece.

Samuel deixa seu irmão em casa e vai para a oficina, confuso e sem entender nada. Ele caminha um pouco, refletindo na vida:

— O papai trabalhou na oficina e foi ali onde ele me ensinou tudo o que eu sei sobre mecânica. Era divertido mexer nos carros com ele e aprender a consertar...

Lembranças lhe vem à mente das coisas que eles faziam juntos no turno da tarde. Ele para na porta do local, uma oficina suja no pé da ladeira dos Bandeirantes. Um dos funcionários estava parado enquanto fumava um cigarro. Samuel viu apenas uma caminhonete dentro da oficina em mal estado fazendo algum tipo de serviço. Ele reconheceu aquela fera descontrolada, era do mesmo modelo que a caminhonete que matara seu irmão, até a cor era igual.

Samuel entra na oficina e observa a tudo com agitação. Seu coração começa a bater forte. Ele não sabe o que fazer, não imagina nada para dizer. Vê o dono do carro apenas de costas, saindo da oficina pelo portão lateral e, em dúvida, decide segui-lo sorrateiramente, esgueirando-se pelas paredes e muros. O homem abre a carteira, Pega uma tira de chiclete e joga o papel no chão.

A dor em seu peito vai aumentando e seu corpo começa a ficar quente. O sangue está sendo bombeado em grande intensidade e sua face ficou avermelhada.

Samuel se contorce de dor e enxerga um chaveiro com o nome de uma academia do bairro no bolso do homem, que entra em um mercado. Samuel se esconde atrás de uma prateleira e observa o misterioso motorista, gemendo bem baixinho, de dor. Ele se ajoelha no chão e não consegue mais respirar, suando frio. O rapaz pega duas latas de energético e ao se virar é realmente o Carlos dos Anjos. Samuel Cavalcante o reconhece antes de desmaiar. Samuel abre os olhos e está no chão, com a nuca e a cabeça encostadas em um banco.

— Que sonho mais real foi esse que eu tive agora? – seu rosto está molhado de suor.

Não parece que está tão tarde, entretanto, Samuel sente que precisa voltar para casa. De alguma forma, aquele sonho estranho o fez mudar de ideia quanto a fugir como um rebelde.

— O sonho foi tão irado que eu nem sei mais se vou chegar em casa e descobrir que meu irmão está lá para me receber... – quando ele tenta se levantar se recorda de sua perna quebrada e sua esperança esfria.

Ele fica de pé, em cima do skate e só pensa em dormir e tentar sonhar com seu irmão.

— Ainda bem que não me roubaram. Como fui pegar no sono na rua assim?

Samuel desce para casa, aperta alguns botões em seu fone e vira na primeira direita, depois de sair do largo da Soledade. É um beco apertado, por cima de um túnel. Ele desce do skate e pula lentamente pelo beco, até que sente um forte puxão em sua camisa, na parte de trás. O fone estava em volume alto e ele não percebeu que estava sendo seguido. Um homem barbudo e gordo falava alguma coisa que ele não entendia e mexia no bolso de trás da calça. Samuel nem precisava abaixar o volume para saber do que se tratava aquilo. Ele estava com a perna quebrada e não tinha como fugir. Não podia também lutar com o sujeito e não sabia como esconder seu celular, já que o fone o entregava.

Laços mais fortes que o tempoWhere stories live. Discover now