Prólogo

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         Algumas horas antes

“É possível enganar a fome?” Essa era uma pergunta que não saía da mente de Catarina.

— Queridos, a comida vai demorar a sair. Tentem dormir um pouco. — ela falou enquanto beijava a testa de cada uma das crianças.

Sabia que era horrível tentar dormir sentindo fome, mas como ela iria explicar para aqueles dois anjinhos que naquele dia novamente não teriam o que comer?

Cansada e sem saber o que fazer, Catarina voltou para a cozinha. A casa era pequena, somente dois cômodos e um banheiro, as paredes amareladas possuíam vários desenhos feitos pelas crianças. Ela mexeu nos armários novamente esperando dessa vez encontrar algo que havia passado despercebido, porém nada; a única coisa que continuava era meio pacote de sal. O que ela faria com sal?

Catarina era uma mulher bonita, baixa com longos cebelos ondulados castanhos e sua pele era de um tom quase amarelo. Ultimamente se arrumar era algo que não fazia, tinha coisas muito mais importantes para se preocupar.

Logo as lembranças das palavras de sua mãe invadiram sua mente: “Não se case cedo Catarina, você não sabe nem cuidar de si mesma imagine se tiver filhos.”. Naquele momento, pela primeira vez, deu razão a sua mãe. Não conseguia nem dar o que comer aos seus filhos.

Havia se casado logo que completou 18 anos, já estava grávida na época. Seu filho mais velho, Aegon, tinha 4 anos, era um menino forte e saudável apesar de tudo. A mais nova, Kaytlyn, possuía apenas 2 anos, ela não tinha uma saúde tão boa quanto a do irmão, o que levava a família a gastar muito dinheiro com hospital e remédios.

Uma batida na porta chamou a atenção de Catarina.

Estava com receio de atender e ser mais um cobrador, porém não podia fugir a vida inteira.

Quando abriu a porta, o senhor Teodoro se convidou a entrar – uma atitude rude e mal educada.

— Quero o pagamento do aluguel agora! —exclamou ele sem paciência.

Teodoro era um senhor de idade baixinho e rechonchudo, seus cabelos já eram tão brancos quanto sua pele.

— Meu marido foi atrás de emprego novamente, nos dê somente mais alguns dias senhor, prometo que lhe pagaremos. — pediu Catarina, aflita.

Teodoro batia o pé com impaciência no simples chão de madeira velha.

— Essa é a segunda vez que vocês atrasam o aluguel, da última vez demoraram duas semanas para me pagarem. — reclamou ele com desdém. — Vocês têm até a tarde de amanhã para desocupar a casa.

— Mas senhor, amanhã é véspera de Natal, não encontraremos nenhum lugar para ficar.

— Eu não importo! — ele respondeu com ignorância.

O desespero dela aumentou. Não podia ser despejada pois não tinham para onde ir. Mas ela faria de tudo para não ter que ficar nas ruas com seus filhos.

Ela se ajoelhou. Por seus filhos, Catarina não tinha vergonha de se humilhar a esse ponto, iria até o fim do mundo por eles.

— Por favor senhor, nós iremos lhe pagar o mais rápido possível, não posso ir para a rua com meus filhos. Eu lhe imploro, nos deixe ficar! — ela pediu já deixando lágrimas escorrerem por sua face.

O homem a olhou com nojo, não se importava com ninguém além de si mesmo e ver alguém se humilhando assim, para ele era uma diversão.

Sem dizer uma palavra, Teodoro saiu da casa, deixando Catarina aos prantos sem saber o que fazer.

Duas horas depois a porta foi aberta novamente. Eron entrou com um semblante desanimado, não havia conseguido emprego novamente.

Sua atenção se focou em sua mulher: ela estava sentada toda encolhida com os braços ao redor do joelho e a cabeça abaixada. Ela chorava.

Eron se abaixou a frente dela e a envolveu em um abraço.

— O que aconteceu meu amor? — ele perguntou com calma.

Por segundos ela não disse nada, somente retribuiu o abraço o apertando com força.

— Ele quer nos despejar! Teodoro nos deu até amanhã para deixarmos a casa. — ela sussurrou com a voz trêmula.

Aquilo foi um baque para Eron. Ele se considerava agora o pior pai de família do mundo.

— Eu vou tentar conversar com ele, ele não pode ser tão sem coração a esse ponto. — também sussurrou, se atropelando em suas próprias palavras.

— Não adianta, ele não vai mudar de ideia.

Ela estava certa e isso só aumentava mais seu desespero.

Eron se afastou um pouco e com todo carinho do mundo levantou o rosto de sua mulher e secou cada uma de suas lágrimas.

— Me perdoe meu bem, me perdoe por tudo! — ele pediu, aflito. — Sei que não fui o melhor pai, nem o melhor marido. Eu somente lhe peço perdão. É tudo culpa minha isso estar acontecendo!

Catarina sabia que ele havia se esforçado, e por isso a culpa não era dele. Eron saía de madrugada todos os dias atrás de emprego, mas a ausência de vagas estavam afetando muitas famílias.

— Não se culpe meu amor. — ela pediu.

Eron estava desesperado, queria tanto poder mudar aquela situação.

— Eu amo tanto você e nossos filhos! Vocês são minha vida! Prometo que tudo vai ficar bem, porque Deus está ao nosso lado querida, nada acontece por acaso. — ele falou enquanto a envolvia novamente em um abraço.

Aquilo era um promessa, uma promessa que acreditava com toda sua fé que conseguiria cumprir.

Um Recomeço De NatalWhere stories live. Discover now