Língua do Mundo

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Terminei minha primeira leitura alternada. Parece uma magia como as palavras, antigas amigas, se revelam em outras desconhecidas de uma língua diferente no som e ritmo. Algumas chamam atenção no Pequeno Príncipe, como a palavra 'cativar' na conhecida frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" – que tem seu significado mais usual lembrado na versão em espanhol, na qual "cativar" se torna "domesticar". No francês não é diferente, é utilizado "apprivoiser", que pode ser traduzido em amansar ou domesticar.

Há um contraste quando se percebe o significado mais usual e o sentido utilizado no livro, um contraste muito significativo. Deixando de lado uma possibilidade de uso diferente da palavra na época em que foi escrita, tal palavra que sugere restrição e aprisionamento em contextos comuns, toma tom completamente diferente nesse famoso livro, em meio a tantos ensinamentos sobre amizade e afeto. Uma ressignificação perfeita, tal que "cativar" só tomou aspecto negativo para mim muitos anos depois da primeira leitura do Pequeno Príncipe, na minha infância.

A experiência de ler o mesmo capítulo de um livro em duas línguas diferentes é incrível. A revelação dos mistérios do desconhecido é sensação muito boa, alargadora do sentir. Não sei quanto é produtiva para o aprendizado de outra língua, me atenho à diversão, ao lento e gostoso aprender da língua do mundo: palavras que tocam e se ressignificam.

Primeiras CrônicasWhere stories live. Discover now