Em um ônibus em direção ao município de nome Bonito, no Mato Grosso do Sul, uma moça está dormindo em seu banco, quando é acordada por outra ao seu lado.
_ Cuidado, você está encostando no meu ombro e babando em mim!
_ Desculpa!
_ Você está na janela, dorme virada para lá!
_ Desculpa mesmo! Meu nome é Iraci.
_ Não que te interesse, mas o meu é Zilu. Além de estar vindo fazer investigações para meu chefe idiota nesse fim de mundo, ainda tenho que receber baba de uma estranha.
_ Já pedi desculpa.
_ Eu li seu livro de folclore que caiu do seu colo, achei bem interessante.
Iraci pega o livro das mãos de Zilu em um movimento brusco.
_ Isso não é folclore, é minha religião!
Zilu se surpreende e com a resposta de Iraci e rebate:
_ Você acredita em Tupã, Ceuci, Guaraci, Sumé e nesse que eu nunca ouvi falar: Moony Limp?
_ Sim! E o Moony Limp é guardião da minha aldeia.
_ Ridículo acreditar em vários Deuses! Você é ridícula! Sou monoteísta com orgulho!
_ Sabe o que é ridículo? Intolerância religiosa! Minha religião é pacífica e não tenta mudar a religião de ninguém! Diferente das maiores religiões do mundo. Não vou deixar você destruir ou menosprezar minha cultura, garota!
_ Vai querer me dar uma flechada, índia?
Iraci dá um tapa na cara de Zilu.
_ Esse ônibus está vazio, vá para longe de mim!
_ Com prazer, selvagem!
Zilu se levanta e vai sentar em um banco longe de Iraci.
Horas se passam e Iraci chega em Bonito e encontra seu pai Wanadi na rodoviária.
_ Minha filha doutora, como você está?
_ Estou bem, pai. Pronta para ir para nossa aldeia! Mas o conhecimento da faculdade é apenas algo a mais, a sabedoria do nosso povo já salva muitas vidas todo ano.
_ Sim, você tem razão, minha filha. Bom que você não vai embora mais.
Wanadi e Iraci entram no carro dele e se dirigem a aldeia que Iraci há anos não vê... Após se acomodar na sua casa, Iraci decide visitar seus antigos amigos. Ela descobre que seu melhor amigo casou-se com sua melhor amiga de infância, ela conta suas aventuras para eles. Muitas aventuras vividas, mas muitas lutas a serem lutadas. Pessoas na aldeia contam como suas terras estão ameaçadas, por ter havido descoberta de ouro em uma região próximo a eles. Iraci fica preocupada, essa é uma história que muitas comunidades indígenas sabem muito bem como acaba.
Dias se passam, Iraci se acostuma rápido a vida na comunidade novamente e se torna uma médica amada por todos, mas nem por isso, ela deixa de ser ativista também, lutando pelos direitos de todos e isso coloca ela na mira de um fazendeiro.
O fazendeiro Lindomar Monteiro manda um capanga no meio da noite ir matá-la. Esse homem conhecia a região e já sabia exatamente onde ficava a casa de Iraci na comunidade. Iraci gosta de sentir o frio da natureza e dorme com sua janela aberta, com apenas uma tela para prevenir insetos de entrar. Ela está dormindo em sua cama, quando é surpreendida pela mão de um homem branco, baixo, em sua boca, com sua grande barriga encostando em seu rosto. Ele é forte e tem uma faca, ele se prepara para executar Iraci, mas é impedido por um homem que dá um tiro em sua cabeça. Toda a comunidade acorda no meio da madrugada, Iraci quer agradecer o homem. Ela liga a luz e vê um homem alto, negro, atraente e assustado.
_ Eu matei ele! O quê que eu fiz?
_ Você me salvou! Quem é você?
_ Leandro Monteiro.
_ Você é filho do Lindomar Monteiro?
_ Sim, eu ouvi ele dizendo que você era um problema e que era para esse maldito acabar com você. Eu já te vi e te admiro, jamais iria querer que uma injustiça dessa acontecesse.
_ Obrigada, mas e agora?
Toda a comunidade vai em direção a casa de Iraci e a polícia é chamada. O fazendeiro Lindomar é preso, após os testemunhos de Iraci e Leandro.
Dias se passam, a comunidade indígena, Leandro e o governo federal entram em um acordo sobre como a região em que foram encontradas as jazidas de ouro deve ser administradas. Após saírem do encontro, Iraci e Leandro vão almoçar no centro de Bonito e conversar.
_ Com conversa tudo se resolve. Pena que meu pai não tenha conseguido entender isso!
_ Que bom que você entendeu e não deixou ele me matar.
Os dois riem.
_ No nosso caso, tudo se resolveu sem casualidades, mas quantas vezes isso acontece nesse país? Quantas comunidades indígenas não são massacradas pela ganância de um grupo de pessoas?
_ Eu concordo! Não acredito que o homem seja tão civilizado como acredita ser. Ao menos não todos.
_ Pelo menos você é.
Os dois riem.
_ E você vai continuar por aqui mesmo?
_ Aqui é meu lugar! Eu apenas saí para estudar, mas eu sempre vou voltar, esse é meu lar.
_ E você tem alguém nesse lar?
_ Não, por quê?
_ Poderíamos sair.
_ Você já tem meu telefone, podemos marcar. Mas isso fica para um outro dia.
Fim!
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Minicontos Ocidentais
Short StoryCLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 18 ANOS. Compilação de contos do livro Disputadas nas Guerras do Amor. Há vários contos de vários gêneros com várias personagens diversificadas. Classificação Indicativa: 18 anos ( A obra não possui HOTs, mas ela aborda mui...