Rainhas

My only one

Pharm sentia-se angustiado.

Dentro dele, os vários 'ele' discutiam irritados pela sensação de que tudo o que conheciam, a vida 'camuflada' que tinham, tudo aquilo estava para mudar. Era a sina da Rainha afinal... Atender ao chamado.

Ele sabia o que era desde que nasceu, desde que sua tia se foi e lhe deixou sua antiga e sempre guardada com muito zelo, penteadeira.

— Esse espelho, meu querido sobrinho, é seu melhor amigo e sua responsabilidade. Use-o com sabedoria e jamais diga a ninguém sobre ele. Um dia você será convocado, é uma possibilidade real e caso aconteça, deve estar preparado.

Ele tinha cinco anos quando ela se foi e nunca teve um só minuto de dúvida.

Sua tia foi a rainha adormecida e agora a coroa era dele.

Claro que jamais disse o porquê era tão apegado ao objeto da velha tia e nem porque fez questão de levá-lo junto para o alojamento da faculdade. Sua mãe acreditava que era apenas mais uma das suas 'esquisitices', assim como cozinhar frenético em certas épocas do ano ou falar sozinho quando achava que não tinha ninguém por perto.

Mas ele na verdade falava com ele mesmo. Ou melhor, com os seus 'eus' que viviam dentro dele. Quatro almas e a sua. Cinco pessoas moravam no mesmo corpo. Era sua marca de rainha como dizia sua tia quando ele era muito pequeno e não entendia o porquê ouvia vozes em sua cabeça e via outros rostos quando olhava para o espelho da penteadeira dela.

— In, Mio, Fluke e Aza são amigos, meu sobrinho querido. Eles sempre lhe ajudarão pelo caminho, confie neles, abrace-os, vocês todos são como uma única hidra, várias cabeças em um mesmo corpo. Essa é sua força.

Pharm jamais se esqueceu de todos os conselhos. Eles lhe fizeram uma pessoa mais calma e que conseguia se sair muito bem no mundo externo. Claro que as vezes tinham conflitos e seu namorado era um desses pontos problemáticos.

Todos eles sabiam que Dean era sua alma gêmea, por muitas vidas eles tentaram ficar juntos sem sucesso e sempre acabava um sem o outro cedo demais. Agora ele estava disposto a fazer tudo, qualquer coisa para que não houvesse um adeus. Ele amava o Dean e era recíproco, estar com ele era o seu céu particular e In e Mio também aprenderam a amá-lo, contudo Fluke o achava chato demais e Aza desconfiava que ele não era bom o suficiente para si e por causa dela e todas as suas reticências sobre o Dean, Pharm ainda não tinha conseguido se entregar para ele, afinal seu corpo não era só seu, prazer e dor seriam compartilhados e ele jamais faria algo que fosse ruins para os outros.

Nunca.

Olhou para o espelho enquanto a lua ficava ainda mais alta no céu noturno e a brisa balançava suavemente a cortina do seu pequeno quarto no prédio ao lado da faculdade. Ali eles se viam, todos os cinco, como se fosse um cômodo em um mundo paralelo onde todos tinham corpos próprios, claro que só podia ser visto quando o corpo que todos eles habitavam estava de frente ao espelho mágico antigo.

In e Fluke era cópias de si mesmo com pequenas diferenças, mais notáveis nos olhares e traços do rosto, mas Mio era uma garota de cabelos negros, longos e olhos silenciosos e Aza era negra, mais baixa que todos eles contudo de olhos inteligentes e astutos.

— Eu sinto que o chamado pode vir a qualquer momento.

In disse tenso, Aza assentiu e sorriu satisfeita:

— Nascemos para isso, não temos o que temer...

— Lógico que temos! – Mio interveio cruzando os braços – Nós podemos sair em missão e talvez para nunca mais voltar, não posso e nem In ou Pharm pode, nós não podemos existir em um mundo onde Dean não esteja! E não é como se pudéssemos raptá-lo e levá-lo conosco! Ele é um estudante normal, caramba!