Precisamos falar sobre síndrome do pânico

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Sempre fui uma pessoa muito ansiosa, mas o ano de 2017 foi um tanto quanto exaustivo. Entrega de TCC, fim do contrato de estágio, procura de um emprego, a formatura, entre outras coisas. E tudo corria bem, o ano estava quase acabando quando tive minha primeira crise de pânico. Não sou boa de memória, mas, por algum motivo, lembro de cada detalhe daquele dia. Lembro dos pensamentos, da angústia, da ansiedade, do coração acelerado, da falta de ar. Cada detalhe.

Sempre me considerei muito sortuda por sair - quase - ilesa de todos os conflitos da infância e adolescência complicada que tive. A síndrome do pânico me chacoalhou e virou do avesso. Comecei a fazer terapia, que durante anos tive trauma, mas era importante para o tratamento. Passei a frequentar um psiquiatra e tomar remédio controlado, que era algo que eu tinha completa aversão. Afinal, vivemos em um mundo em que muitas pessoas sofrem de problemas psicológicos, mas poucos falam sobre isso. Comecei a praticar atividades físicas, algo que sempre adorei, mas que, por algum motivo, sempre arrumava desculpa para não fazer. Mudei -em partes-minha alimentação, algo que achava que nunca, jamais, aconteceria.

Hoje, depois de quase dois anos sem crise, consigo ver as coisas de uma outra forma. É difícil descrever uma crise, simplesmente porque só quem já teve, entende. Mas, quando me perguntam, só consigo ter uma resposta: a gente não sabe o quão controle temos da nossa mente, até perdermos. A sensação de não ter controle dos seus atos e pensamentos é angustiante. É querer sair, e não conseguir. É ter plena convicção de que não vai acontecer de novo naquele lugar, mas não conseguir se quer entrar no elevador. É sentir sua própria respiração, e pensar constantemente que está sem ar. São incontáveis situações de falta de controle.

O período mais complicado para mim foi durante o primeiro mês. Foi nesse tempo que comecei a ler e escrever sobre isso. Dede então percebi que muitos falam qual a melhor forma da pessoa lidar com isso, mas não encontrei nada que falasse como as pessoas que estão ao redor de toda situação devem agir. Entendo que cada um é cada um, ou seja, minha crise provavelmente é bem diferente da crise de outra pessoa, mas e aquelas pessoas que estão ali do lado? Convivendo dia-a-dia, assistindo bem de perto cada momento? O que elas devem e podem fazer? Devem abraçar a pessoa durante uma crise ou deixá-la sozinha? Isso é bem difícil e complicado para ambas as partes.

E é assustador porque não existe um manual que diga o que deva ou não ser feito. Eu tive muita sorte por ter pessoas extremamente cuidadosas e atenciosas que me ajudaram durante todo o processo. Minha família esteve comigo em todos os momentos, literalmente. E sempre me fizeram pensar positivo, porque acreditavam fielmente que aquela coisa ruim iria passar, afinal, o pânico te consome de dentro para fora. Mas passou. E, por isso, é muito importante ter uma base sólida, seja familiar ou de amigos.

A questão é que a síndrome do pânico é uma doença, não tem cura. Porque a ansiedade está sempre ali. Você pode encontrar formas de diminuir essa carga e não deixar desencadear novamente, mas ela sempre estará ali. Depois de alguns meses e diversas sessões terapêuticas descreveria a síndrome do pânico como a pior e a melhor experiência da minha vida. Tudo fica mais pesado com o pânico, mas o aprendizado pós-crises ajuda a tornar a vida mais leve.

As crises me trouxeram coisas muito boas. Mudei meus hábitos, minha forma de pensar e de agir, me uniu ainda mais com a minha família, me fez aprender a controlar minha ansiedade. Me fez ter a consciência de que tudo passa, que tudo pode mudar de um dia para o outro e que é importante valorizar o hoje. A Isabela de 2019 definitivamente não é a mesma de 2017. Isso é algo que do qual sempre vou me orgulhar e que loucura ver alguma coisa boa em uma situação tão difícil.

Tudo que a síndrome do pânico trouxe de ruim, vai passar. Mas tudo que a síndrome do pânico trouxe de bom, vai ficar. 

-IM

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