Café com Chocotone - Contos Natalinos 2019

O Melhor Presente de Natal

Autora: hounselllara
Livro/Série: The List of Insanities

***

É a terça-feira anterior ao Natal e cinco dias após o meu aniversário de vinte e cinco anos.

Eu acordo com a sufocante sensação de que esqueci alguma coisa.

Estou agitada ao me sentar na beirada da cama com dificuldade e enfiar os pés nas pantufas sobre o carpete. Parker ainda dorme profundamente com a cabeça jogada no travesseiro e dois edredons cobrindo-o até o pescoço, apesar do aquecedor manter a temperatura aqui dentro bem agradável.

Lá fora, no entanto, o frio é imbatível.
Aconteceu uma nevasca na última semana e diversos voos foram cancelados, incluindo aquele que traria nossas famílias para a cidade. Estou torcendo para a situação se normalizar durante a semana e tudo acabar correndo como o planejado, pois não quero celebrar meu primeiro Natal no apartamento novo sem minha irmã ou minhas sogras na mesa.

De súbito, um estalo ocorre em minha mente, eu arregalo os olhos.

- Merda! - praguejo em voz alta. - As decorações!

Giro em cima dos lençóis amarrotados e cutuco meu marido adormecido bem na costela. Parker resmunga uma, duas, três frases incompreensíveis até se virar com os olhos meio entreabertos.

- Bom dia, Mary Jane. - ele diz, apático, abrindo a boca num bocejo. - A bolsa estourou?

Eu faço careta.

Espalmo minha barriga enorme de oito meses só por costume, antes de balançar a cabeça numa negativa.

- Ainda não. - respondo, após um suspiro. - Mas nós esquecemos de organizar a casa para o Natal. E agora só falta uma semana!

Ele pisca, devagar, e acho que ainda não entendeu a gravidade da situação.

- Okay... Posso voltar a dormir agora?
Eu esbugalho os olhos.

- Não! Você vai me ajudar a arrumar tudo.

Parker geme com as sobrancelhas castanhas franzidas.

- Qual é, Mary Jane. Nós estamos cansados. - ele apoia a cabeça em minha coxa e acaricia a pele listrada de meu abdome. - Aposto que nem nosso Peterzinho acordou ainda.

Difiro um tapa na mão dele.

- Acordou, sim. - retruco, me colocando de pé a certo custo. - E ele também detesta a ausência de verde e vermelho nesse lugar.

Meu marido ri, esparramado no colchão com toda a preguiça do mundo sobre si.

- Podemos dormir só mais cinco minutinhos?

Faço que não outra vez.

- Não dá. Estou inquieta e com uma dor sinistra na lombar. - eu dobro a coluna o máximo que posso, o que não é muito, considerando o peso me puxando pra frente. - É pior do que cólica.

Parker se arrasta para fora da cama a contragosto, levando um edredom consigo.

- Mais um motivo pra ficarmos quietinhos, agarradinhos, só vendo documentários de parto o dia todo.
Torço o nariz, reprovando a sugestão.

- Ew, credo. Nós já não vimos muitos desses?

- Ainda não me sinto horrorizado o bastante pelo milagre da vida. - ele sorri, com uma doçura sarcástica.

Me rendo a uma gargalhada fraca, emitindo sinal para que se aproxime.
Parker chega perto com um semblante apaixonado no rosto inchado de sono e pousa as mãos respeitosamente no meu quadril, curvando a cabeça para possibilitar o toque de nossos lábios. Em geral, eu costumava me colocar na ponta dos pés para beijá-lo, porém há tempos não consigo mais fazer isso sem um incômodo excruciante na cabeça dos dedos.