Apenas pó

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É foda.

Eu simplismente não queria ter que lembrar dela. Não queria ter que sentir saudades da sua risada ou do cheiro de sua pele; meu perfume favorito. Não queria pensar na sensação gostosa que era sussurar seu nome próximo a tua orelha todas as vezes que amanhecia a meu lado, e mesmo sonolenta ao dispertar  presenteava-me com um de seus mais belos sorrisos. Não queria lembrar do sabor do beijo. Do calor do corpo. Da verdade nos olhos ou do incêndio que provocava a conjuracão de nossa carne. Não queria. Mas ainda assim, mesmo os detalhes  mais simplórios de minha casa,  eram capazes de  levar-me diretamente a ela e causar uma dor insubistancial em meu peito.

Madu estava no vaso de flores sintéticas vermelhas sobre a geladeira, e nas prateleiras de madeira que instalara na parede dispondo meus antigos livros da faculdade em ordem alfabética. Ela estava na organizaçao de minhas roupas no armário e na cortina nova que combinava com a colcha de minha cama. Seu cheiro estava em todos meus lençois. Impregnado no ar, em minha pele. Se eu fechasse os olhos poderia ouvir a água do chuveiro escorrer de seu corpo para o chão enquanto tomava banho e cantarolava aquela música que pedia para que o sol a iluminasse e enriquecesse sua melanina. Então eu  ficava deitado na cama a ouvido e vendo uma fumaça branca sair pela porta  deixando a casa  tomada por   neblina como estivesse em chamas. Feito uma sauna. Quando saia de lá estava com o corpo ainda úmido e quase sempre nua. Ela costumava me olhar de forma sugestiva nesta hora, e ao mesmo tempo subia em minha cama com movimentos extremamente sexys engatinhando por ela até mim.  E ela beijava-me. De uma forma indecente e pecaminosa que deixava meu corpo  completamente refém do seu. E  assim eu a atirava de costas na cama ansioso para secar toda superficie de sua pele com a ponta de minha língua.

Suspirei. Pesadamente. Olhei em direção a porta do banheiro fechada. Olhei ao redor da casa silênciosa. Senti falta de tê-la a meu lado na cama. Senti falta  seu cheiro, do seu sorriso, do toque e de seu pé gelado enroscando-se com os meus sob os cobertores. Então soube que de fato enlouqueceria se não resolvesse aquela situação.

Permaneci deitado na cama mesmo depois de ouvir as batidas em minha porta. Enrolei por um tempo. Um bom tempo. E quando me julguei disposto a me levantar, caminhei até lá com passos arrastados e a abri.

_Eu trouxe um presentinho...

Olhei para apertando as palpebras completamente cético para minha visita. Enzo. Ele estava com um sorriso largo no rosto enquanto chavoalhava as chaves de meu carro em minha direção. Eu a reconheci pelo chaveiro  de metal em forma de trevo de quatro folhas que pendia  no aro entre as chave e o controle automatico.

_ Como isso chegou até você? _ O questionei puxando o chaveiro de entre seus dedos antes de me voltar caminhando para a cama.

_ Bom, certamente ela não veio voando até mim certo? -deu uma pausa_ sua ex- namoradinha pediu que eu a  buscasse ontem a tarde. Na verdade foi a mãe dela quem me ligou. Como sabia que você não iria precisar da Luiza mediante todas essas coisas que aconteceram deixei que ela ficasse um tempo comigo. Descansando.

O encarei com  o mesmo ceticismo. Pulei para  o colchão.

_ Não seja cínico. Estava colocando putas em meu carro que eu sei. Até parece que não te conheço.

Ela dera de ombros.

_ Não eram putas. -Se defendeu passando pela porta e a fechando atras de si_ Eram boas moças. E além do mais foi para reviver os velhos tempos com meu melhor amigo, sem meu melhor amigo. -deu uma pausa_ Madu disse que terminaram... Ótimo! O que você acha de darmos um rolê agora ? Para comemorar?  Tô de folga hoje. Precisamos aproveitar seu novo status não acha?

Fiquei em silêncio por um momento. O olhei.

_ Você fala como se não soubesse que gosto dela. Que gosto  mesmo.

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