Capítulo Três

45 6 5
                                    

Véspera de Natal, e eu estava de frente ao espelho, me encarando com o vestido preto de alça, com detalhe de renda na cintura, que eu me apaixonei assim que vi na loja, tinha sido feito sob medida pra mim, sem dúvidas.
Pintei o cabelo novamente, Mônica vivia dizendo que eu iria ficar careca qualquer dia; mas dessa vez eu pintei a parte de baixo do cabelo de roxo, de modo que só daria pra ver se eu quisesse e como naquele dia eu queria, prendi parte do cabelo (que ainda era castanho claro) num coque que prendi com uma coroa prata, deixando a parte em roxo solta, com uma leve ondulação que eu fiz com a ajuda da chapinha. Eu me encarava realmente satisfeita, fiz olho de gatinho com ajuda do delineador, usei um batom vermelho e caprichei nos cílios, me sentia adorável e linda, como não me sentia há tempos; eu já tinha ido em inúmeros shows do Luan, mas eu sempre sentia a mesma sensação como se estivesse indo ao primeiro... Ah, eu sou muito apaixonada por ele, amor de fã é mesmo uma coisa totalmente louca, é difícil explicar como alguém consegue te tocar de tal forma assim, e consegue te fazer tão bem sem saber.
Saí de casa depois de abraçar meus pais e lhes prometer que me cuidaria, o local onde a van estaria a nossa espera não era tão longe da minha casa, de modo que cheguei lá dentro de quinze minutos de caminhada, graças a Deus escolhi usar sapatilhas.
A van chegou cinco minutos depois de mim e logo o pessoal foi começando a chegar; cada minuto que passava eu ficava ainda mais ansiosa.
Peguei o celular e abri direito no bloco de notas, comecei a conferir um q um o nome de cada pessoa ali pra me certificar que não faltava ninguém, conforme todo mundo foi ocupando lugar, eu notei que faltava, uma pessoa, apenas uma pessoa, que eu havia encaixado de última hora e suplicado que não furasse comigo.
Theo!

— Vamos chegar atrasados se ficarmos aqui esperando — disse uma das pessoas na van...e estava certa, eu não poderia esperar nem um segundo mais, entrei na van e o motorista ligou o veículo, se preparando pra arrancar, quando eu estava fechando a porta ao meu lado, ouvi um grito e um garoto se enfiando van adentro, ofegante e desesperado!
— Quase fiquei pra trás, estou gritando há minutos, ninguém me ouviu?
Fiquei perplexa enquanto ele falava ofegante.
Era mesmo ele, o mesmo garoto do dia do jogo, o quê ele está fazendo aqui?
Ele sorriu quando me viu.
— Baixinha?

— Você é o Theo? — perguntei tentando ignorar como me chamou, ele assentiu.
— Você é a Day? — assenti e ele sorriu de novo, mas o sorriso curto e singelo foi se tornando um sorriso enorme e convidativo, preenchendo seus lábios, deixando aquela fileira de dentes brancos expostos, ele sorria de uma maneira brincalhona, inocente e doce.
Merda. Eu não devia está reparando nessas coisas.
— Posso seguir viagem ou não? — ralhou o motorista.
— Pode seguir — respondi fechando a porta por onde Theo praticamente voou pra dentro da van.
Ele , por sua vez, sentou do meu lado, fixei os olhos a frente, na estrada, tentando não lembrar que ele estava ali, do meu lado, e muito incomodada do fato dele não tirar o sorriso bobo do rosto, não tinha nada de engraçado.
— É muita conhecidência. — o ouvi falar do meu lado , quase que em sussurro.
— É, acontece. — foi tudo o quê eu consegui responder. Porque minhas mãos estavam suando frio?
— Torcedora do Inter e fã do Luan Santana... numa mesma pessoa, como pode isso?

Meu Deus, ele estava falando comigo? De mim.
Que raiva, digo, aggrhr... Eu não sei porque estou com raiva, eu não tinha dificuldade pra conversar com ninguém, nunca tive, exceto agora.
Fiquei de cabeça baixa encarando minhas mãos que estavam suando frio, a mínima proximadade dele comigo estava me deixando com os nervos á flor da pele...
— Eu adorei muito essa sua tatuagem... "Somos instantes" , isso é lindo, de verdade.
— Você costuma tagarelar sempre assim ? — me ouvi perguntar e ele gargalhou de forma discreta.
— Só quando estou nervoso ou perto de garotas bonitas; nesse caso, são as duas coisas.
Eu gelei, não estava mesmo sabendo como reagir á isso.
— Mas voltando ao assunto, sua tatuagem... — pigareoou e cruzou os braços, parecendo um pouco mais confiante — somos mesmo instantes; somos um resultado de todas as ações e escolhas que fazemos e mesmo assim não sabemos se iremos desfrutar disso no futuro, só temos a segurança do agora.
— Bem filosófico . — falei em ironia.
— O fato Day, é que o agora é tudo que temos, mas ele também resulta de alguma escolha que já fizemos...e eu não sei o quê me levou á estar aqui, mas eu não acredito muito em conhecidências, ainda que eu tenha dito que esse nosso "encontro" foi uma...eu sou muito mais fã do destino; e eu não sou de ignorar os "sinais" , se é que me entende...
Dessa vez eu o encarei.
— Usando música do Luan na cantanda, sério?
— Não é uma cantada, só estou dizendo que, nada é por acaso... E certamente, as circunstâncias que fizeram a gente se cruzar também não.
Fiquei sem palavras de novo, parecia que ele tinha o dom pra me arranca-las.
Ele continuava sorrindo, com os olhos encarando os meus, e tinha algo ali, algo neles que me prendiam e não me permitiam desviar o olhar.
Devia ter umas dez pessoas naquela van junto com a gente naquela noite, mas por alguns instantes era como se só existisse nós dois e algum tipo de conexão mágica que eu nem sabia que poderia acontecer quando duas pessoas se enxergassem.
Era como se de algum modo, ele estivesse vendo mais do quê apenas a Day , mais do quê a casca de fora, mas era impossível, sendo que eu mal o conhecia não é?
Mas a sensação era boa, mas me transmitia medo.
É isso que se sente quando está se apaixonando?

Um Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now