Capítulo 9- Num sábado à noite

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  Sem ar, era como eu estava naquele momento. Eu me olhei no espelho e não reconheci a pessoa que estava em minha frente: uma maquiagem pesada, uma roupa apertada, definindo cada pedaço do meu corpo, o cabelo desarrumado e uma bota preta até a canela; quem era essa pessoa?
  Me sentei no sofá e tentei respirar fundo, mas o máximo que eu conseguia era encher 1/3 do meu pulmão. Coloquei a mão sobre a minha barriga e tentei puxar o tecido que apertava minha barriga, sem sucesso.
  Meu pé estava doendo. O meu pé era pequeno, mas o de Mary era extremamente minúsculo. Os meus dedos já estavam quase se quebrando dentro daquele calçado preto sem bico; eu podia sentir isso. Minha cabeça doía e meu olho coçava. Será que eu teria alergia à maquiagem? Eu nunca passei nada em meus olhos, muito menos em excesso; e se eu ficasse com a cara inchada?
  Mary tinha posto em mim uma blusa preta, uma calça de couro preta, com uma saia preta por cima, e um casaco preto de pelinho. Minha maquiagem era preta e minha bota, como disse, também era preta. No que eu estava me transformando?
  Minha respiração estava fraca e minha dor de cabeça só aumentava. Me joguei no sofá e descansei; a cada minuto que se passava eu estava com mais vontade de rasgar aquela roupa em micropedaços.
  — O que você está fazendo? — disse Mary quando entrou no quarto e me viu jogada e acabada.
  — Descansando — respondi, com a mão sobre os olhos.
  — Como assim descansando? — Mary me puxou pelos braços e eu sentei no sofá — Nós vamos a um show!
  Eu fiz cara de desânimo.
  — Não teria como eu por uma roupa mais... confortável? — a olhei com cara de piedade — Talvez um vestido...
  — Vestido? — Mary me olhou como se eu fosse um et — Nós vamos a um show de rock, baby! Um show de rock do seu "amiguinho" — fez aspas com os dedos — O mínimo que você pode fazer é ir bem arrumada.
  — Mas eu odeio essas roupas. Por Deus...
  — Pois se acostume! — ela praticamente me interrompeu — Temos que sair da rotina de vez em quando — Mary mostrou um sorriso de canto de boca.
  E quando ela finalmente conseguiu me levantar daquele sofá, um homem entrou no quarto e perguntou se estávamos prontas (provavelmente o dono daquele lugar). Nos ajeitamos e fomos para um lugar no qual nem sabíamos onde era. Que ótimo...
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Frio era tudo que eu estava sentindo. Como aquelas garotas viviam nessas roupas de tecido fino e curto? Das duas vezes que eu fui a um show de rock, onde o ambiente era totalmente apropriado ao gênero musical, o que eu mais via eram mulheres praticamente peladas. Elas definitivamente não sentiam frio. Elas estavam sempre com os braços à mostra, geralmente com blusas tomara-que-caia, suas pernas nunca ficavam tapadas, e, se ficavam, era por uma pedaço de calça, mas que mesmo assim deixava a mostra toda a parte da frente da perna. Cortes de cabelo radicais era o que mais atraia naquelas mulheres. Eu não sabia se isso era um truque para deixar o pescoço à mostra (já li uma vez que isso ajudava a 'atrair' alguém), ou se era apenas por diversão e rebeldia; eu admito que tenho vontade de fazer uma dessas loucuras no meu cabelo, pena que me falta coragem...
O lugar, em geral, não era muito diferente do local perto da cafeteria, onde o outro show tinha acontecido, mas tinha um palco bem maior do que o outro, onde deixava os artistas bem no centro das atenções. Era um palco alto e glamuroso, para artistas de verdade.
Tinha um bar, o lugar onde eu provavelmente passaria a maior parte do show (sentada, óbvio), porque eu realmente estava sem pique nenhum para ficar no meio daquela multidão toda. Era um lugar meio afastado, mas dava pra ver direito o show. Não era um camarote, mas eu não estava precisando disso no momento...
Eram oito e meia da noite, o local só ia se enchendo, e quanto mais pessoas entravam, mais eu me sentia sufocada. Eu não sei, aquele não era o ambiente ideal para mim.
Enquanto eu me distraia com um copo d'água, escutei, bem alto, uma voz masculina anunciado o início do show. Me virei, sentada no banco, e observei todos entrando. Duff foi o primeiro a entrar, com uma energia que só ele tem. Eu conseguia sentir a alegria dele de lá donde eu estava. Era bom, era muito positivo.
  Logo após ele, entraram um com uma guitarra, com os cabelos enrolados todos bagunçados, e um outro com o microfone, provavelmente esse seria o tão famoso Axl. Já entraram tocando, num ritmo rápido que eu chega me perdi. Era uma música bem "pesada". Era grave, tinha uma letra normal e o vocal era totalmente diferente das outras músicas que já escutei; ao invés de um agudo extravagante que o cantor usava nas outras músicas, nessa era totalmente grave, assim como toda a música. Eu fiquei observando a música acabar, e depois me virei para o balcão novamente.
Não vou mentir, eu definitivamente não curtia nem um pouco rock, mas eu gostava de música. Gostava de música bem feita e bem formada, mesmo não entendendo muito. E guns n roses tinha aquilo de alguma maneira. O som alto da guitarra às vezes me irritava, me deixava com dor de cabeça, mas em alguns momentos era bom de se escutar. Pessoa mais indecisa que eu? Não; definitivamente, não existe. Mas por que eu estava ali? Era uma pergunta que não saia da minha cabeça. Tudo bem, Mary queria vir, mas eu poderia não ter vindo. Duff estava aqui, mas ele é apenas meu amigo, né!?...
Seria loucura assumir que as pessoas realmente tem influência sobre outras pessoas? Eu nunca teria pensado nessa assunto, até me ver sentada em um banco de bar num show de rock! Ah meu Deus...
— Perdida nos seus pensamentos?
Uma voz me tirou a concentração dos meus pensamentos, e então eu percebi que eu devia ter ficado um bom tempo viajando na maionese. Acordei.
— É... Bem... Eu... — A-meu-Deus!
O que era aquela criatura na minha frente?
Eu olhei para o barman que tinha chamado minha atenção, então eu simplesmente engasguei.
Era um Deus grego. Não. Mais. O Deus grego. Aquele Deus. Como alguém podia ser tão... Deus assim?
Eu engasguei, mas depois voltei ao normal — ou, pelo menos, tentei.
— É... — sorri, desajeitada — Eu tava meio que é... você sabe... — nenhuma explicação saiu da minha boca.
Ele riu.
Ah! Tola!
— Relaxa. Você deve ser nova por aqui.
— Nova? Eu? Oh, não... — tentei não sorrir muito — Na verdade eu moro aqui desde que nasci.
— Ah — ele realmente soltou uma gargalhada — Digo, aqui no clube, não na cidade.
— Ah! — bati com a mão na testa — Sim, sou nova.
Ele limpou a parte do balcão do meu lado, mas não saiu de perto.
— Então, qual seu nome? — disse enquanto limpava. Eu tentei me acalmar.
— Amber. E o seu?
— Nick — ele deu uma pausa, me deu as costas, e depois voltou com uma bebida — Na verdade é Nichollas, mas eu odeio esse nome.
— Ok, Nick — ele empurrou o copo de vidro em minha direção — Ah, não, obrigada, mas eu não bebo.
Ele pareceu surpreso.
— É por conta da casa — disse ele, e me deixou sozinha com um copo cheio de whiskey.
  E eu fiquei sentada, ali.
  Devo admitir que bebi um pouco do copo. Arg. Como alguém conseguia beber aquilo sem vomitar?
  Confesso que eu tinha ficado ali esperando o barman voltar; seria bom ter uma "companhia" durante o show, já que Mary tinha me abandonado completamente, mas um lado de mim sabia que isso não ia acontecer.
E realmente não aconteceu. Eu fiquei sentada, sozinha, durante quase três horas, escutando músicas que eu não conhecia.
Ótimo.
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O show acabou, e Mary logo me achou. Ela me puxou pelo braço e me arrastou pela multidão a fora. Tinha me levado ao camarim, e ali eu fiquei durante um bom tempo até conseguir falar com Duff.
— Guns N' Roses anuncia novo contrato com empresaria super rica e famosa — Mary andava de um lado para o outro no camarim dos meninos, enquanto eles não chegavam — O que acha? — ela me olhou — Convincente?
— Sim, Mary.
Eu estava sentada numa das poltronas de oncinha que estavam ali, cansada de esperar. Duff tinha nos deixado entrar, e então desaparecera.
— Não parece — ela apoiou as duas mãos na cintura — Por que essa cara de tédio?
Eu ri.
— Não é tédio, é cansaço.
— Cansaço? De ficar sentada?
— Não — eu ri — De esperar — olhei o meu relógio e suspirei — Cansada de esperar.
Mary veio em minha direção e sentou-se em outra poltrona, ao meu lado.
— Quando a gente sair daqui, eu garanto que você vai se divertir.
— Então por que já não vamos? — apontei para a porta.
— Porque nós temos que esperar os meninos, dã — ela revirou os olhos — Nós vamos com eles.
— Com eles para aonde, exatamente?
— Hum... — ela pôs a mão no queixo, fingindo que estava pensando — Nos divertir! — falou alto.
Eu revirei os olhos e me joguei mais ainda no sofá.
— Como se isso não fosse "óbvio" — murmurei para mim mesma.
Diversão com eles. Isso para mim não seria diversão.
— Ah, Amber! Você tem que se soltar mais — Mary levantou — Você ta livre, poxa! Aproveita!
— Livre, não sem juízo.
— Ah! Chata! — ela foi em direção aos espelhos — Você tem que ter... imaginação. Você é muito pé no chão, credo — pegou um pó e começou a retocar sua maquiagem enquanto falava.
Mary sabia aproveitar em qualquer circunstância, em qualquer situações. Isso era uma coisa muito boa nela. Pena que eu não funcionava assim...
— Imagina: você toda famosa, cheia do dinheiro, andando em carros caríssimos...
— Famosa? Por quê? — eu perguntei, tentando entender.
Ela se virou para mim na mesma hora e veio caminhando:
— Amber Mckagan, esposa do astro do rock Duff Mckagan.
Mary! — eu joguei uma almofada no rosto dela — Pare com isso!
E ela riu da minha cara.
— Um dia isso vai acontecer, pode apostar.
— Não mesmo!
  — Meninas! — uma voz masculina veio da porta e eu logo vi Duff entrando.
  Ele estava com o típico figurino, com roupas rasgadas-até-demais.
  Eu me levantei e me ajeitei. Agora era a hora de sairmos daquele lugar, finalmente.
  — Parabéns pelo show! — disse, mesmo sem ter visto absolutamente nada — Foi ótimo.
  Ele me olhou de cima a baixo, e agradeceu apenas com um balançar de cabeça.
  Eu fiquei um pouco incomodada. Era estranho essa mania em Duff. Ele dizia que queria ser meu amigo, mas pra ele não era só isso, eu sabia pelo seu olhar, pelo seu jeito de falar comigo... Era estranho.
— Vamos? — Duff disse, já saindo pela porta. Não tivemos muito o que falar, apenas o seguimos.
Entramos no carro e tomamos uma rota. Vamos ver aonde vamos parar...
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Selfish || Duff MckaganOnde histórias criam vida. Descubra agora