A floresta II

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_ Mas o que aconteceu aqui? Como essa árvore...
Nesse momento, Herstell percebeu que a árvore não tinha sido apenas derrubada ali e sim plantada!
“Herstell, mantenha a calma... Essa árvore foi criada por um golem.” A voz da Deusa ecoou em sua consciência.
_ Entendi, mas é quanto a essa corrente? E esses animais atravessando o abismo?
“Isso você terá que descobrir sozinho!”
_ Certo. Obrigado.
As criaturas não paravam de subir e atravessar a ponte improvisada. Iam desde tigres feito de pedra até cobras com asas. Aquilo realmente não era um bom sinal.
_ Quem quer que tenha causado isso tem a ver com essa corrente!
“ Você está certo. Herstell, se conecte com Atlas, ele pode te ajudar".
Herstell caminhou até a árvore caída e subiu pisando em suas raízes grossas. Continuou andando até o meio da travessia e olhou para baixo.
Aquele abismo sem fim um dia foi um oceano, aquelas areias vermelhas um dia foram de uma linda praia, mas está tudo acabado, pensava.
Ele se agachou e olhou para cima, a luz do sol lhe fez piscar rápido, mas ele conseguiu enxergar Atlas. Colocou os dedos na boca e soltou um assobio alto que fez a águia voar em sua direção. Com os olhos fechados Herstell alcançou um vazio, era uma meditação de segundos e quando os abriu estava voando.
No corpo de atlas ele sobrevoou  aquela região, o clima era árido e bem vazio com exceção dos animais que seguia em uma direção quase em fila única. Ele voou na mesma direção em alta velocidade.
Não muito distante dali havia um grupo de criaturas, a grande maioria eram aqueles arbustos com flores na cabeça, que por si só são inofensivos, mas a presença de golens e aranhas gigantes causavam uma certa urgência. Herstell ampliou sua visão. No meio de todo aquele furdunço havia um garoto caído e em completo desespero que levava vários golpes de chicotes de um bicho planta.
O momento de reconhecimento havia chegado ao fim, era hora da ação! Herstell abriu seus olhos e voltou ao seu corpo natural. Correndo em velocidade, montou em um javali gigante que andava na multidão de animais.
A montaria foi bem útil, conseguiu chegar à tempo de evitar o pior. Pulou do javali e quando pisou no chão uma porção de gramas cresceram sobre seus pés. Com o rosto decidido, ele andou até as criaturas que espancavam o menino e gritou. Isso chamou a atenção de alguns animais que se afastaram, porém outros mais irritados estavam tomados por fúria e permaneceram parados.
Herstell abriu sua mão, em sua palma havia um marca parecida com uma folha, a mesma brilhou em cor verde de forma vibrante e dali surgiu um cajado de madeira com alguns pequenos galhos na ponta.
Empunhando o cajado, Herstell bateu com ele no chão. Uma luz verde tomou conta da cena, raízes começaram a surgir em volta do garoto. Algumas árvores cresceram ali por perto dando sombra no lugar e solo seco foi substituído por grama.
Os animais furiosos se afastaram, rugindo, grunhindo, rosnando e gritando. Herstell  caminhou em direção do casulo de raízes e viu uma daquelas criaturas moitas sem flor na cabeça, seus grandes olhos estava lacrimejando. Será que isso teria alguma influência? Pensou. Quando chegou próximo o suficiente fez com que o casulo abrisse uma fresta para que pudesse passar. As raízes se conheceram em outra direção, as folhas caíam de seus galhos junto dos estalos bruscos.
Seu cajado se transformou em folhas e desapareceu. Herstell se agachou e entrou e viu um garoto apavorado e chorando. Estava escuro, mas os feixes de luz que penetrava as folhas era o suficiente.
_ Tá tudo bem. _disse Herstell tentando inutilmente acalmar o menino que debatia as pernas e se arrastava para as paredes do casulo. _ Fique quieto, estou tentando te ajudar!
_ Arvo... árvores!! _ gritou o garoto exasperado.
_ Sim, sim. Agora se acalme. Herstell se aproximou devagar. _ Escuta garoto, olhe pra mim.
O garoto ainda em pânico fixou os olhos em Herstell.
_ Isso... Isso! Agora, qual o seu nome?
_ Dann... Danny. _ gaguejou ele.
_ Ótimo. Olha Danny, preciso que você respire fundo.
O menino obedeceu a ordem e foi se acalmando.
_ Quem é você? _ perguntou Danny.
_ Eu sou Herstell, um monge  Elemental. Estou aqui pra te ajudar.
_ Elema oque?
_ Deixa... O importante é saber porquê esses animais estão atrás de você? _ indagou Herstell.
_ Eles estão correndo atrás de mim por causa de uma flor que eu apanhei pra minha namorada. _ respondeu com um tom de vergonha.
As sobrancelhas de Herstell ficaram tensas por uma fração de segundos.
_ Entendi. Olha Danny, eles querem a flor de volta, você ainda a tem?
Danny se virou e puxou uma coisa de seu bolso. Um hibisco amassado e murcho.
“Essa não!” pensou Herstell. Ele estendeu a mão para pega-lo, mas o garoto o escondeu atrás das costas.
_ O que está fazendo? _ perguntou Herstell com sua paciência se dissipando.
_ Eu passei tudo isso pra conseguir ela. Não vou te entregar!
Herstell respirou fundo.
_ Talvez possamos fazer uma troca. Posso te dar outras flores, curar suas feridas e te dar água.
Os olhos do garoto brilharam. Desde o seu nascimento, o mundo já estava seco. A água se tornou uma moeda valorosa por sua difícil extração. Pessoas pobres morrem constantemente.
_ Tá bem. _ disse estendendo o braço  com a mão aberta.
Herstell pegou a flor com cuidado e a colocou no centro de sua mão, posicionou sua mão direita por cima em formato de concha e uma luz verde iluminou todo o lugar.
Danny ficou estupefato.
Quando Herstell retirou a mão de cima, a flor estava viva e com sua cor vermelha vibrante.
_ Como fez isso?!
_ Isso não importa. Agora é sua vez!
Ele colocou suas mãos de palmas para cima o mesmo brilho se ascendeu. As raízes do casulo brotaram folhas e lindos lírios que desabrocharam em segundos liberando um aroma doce.
Danny não sabia para onde olhava. Tudo aquilo era muita informação e ainda suspeitava de que tudo fosse um sonho.
Os lírios também emanaram luz verde. Pequenos orbes cintilavam em torno do garoto. Seus machucados cicatrizaram, os arranhões sumiram e os inchaços desapareceram.
Danny inspecionava o próprio corpo ainda tentando entender o que havia acontecido.
_ Por fim..._ Herstell estendeu seu braço e em sua mão havia uma flor copo de leite enorme o suficiente para caber um litro d’água.
Danny agarrou a flor e bebeu a água como se fosse a própria alma. Depois secou os lábios finos com o braço.
_ Quer mais? _ perguntou Herstell espantado.
_ Sim! Sim!
Herstell abriu sua mão por cima da flor é água caiu como chuva, como verdadeira mágica.
O garoto bebeu em segundos de novo.
_ Quer mais?
Danny gostaria de dizer que sim, mas não aguentava mais. Nesse momento ele imaginava se poderia beber tanta água em apenas um dia assim de novo.
_ Não. Obrigado!
_ Tudo bem então. Eu Vou entregar essa flor para o verdadeiro dono e você pode pegar esses lírios aqui.
_ Tá bem.
Uma passagem nas raízes se abriu e Herstell saiu. As criaturas ainda estavam lá fora cercando Danny. Suas expressões eram de puro ódio. Ele levantou a mão com o hibisco vermelho e alguns animais se afastaram. Da multidão uma moita sem flor na cabeça veio na direção de Herstell pulando de forma lenta sibilando o que parecia ser um sorriso, seus olhos pareciam mais alegres desde quando ele o viu pela última vez.
Quando próximo Herstell se agachou e posicionou a flor onde era seu antigo lugar, com delicadeza pressionou o talo, um flash verde piscou, quando tirou os dedos, a flor estava presa à raiz novamente.
O bicho grama pulou de alegria, suas folhas se agitaram.
As criaturas ao redor diminuíram a tensão em suas faces e lentamente se retiravam. Herstell esperou alguns minutos de baixo de umas das árvores até que todos fossem embora.
_ Agor...
Herstell sentiu uma dor forte em sua cabeça, sua visão ficou turva e escurecia aos poucos, como cortinas sendo fechadas após um espetáculo. Seu corpo estremeceu e desabou no chão. Antes de desmaiar ouviu:
_ Mas que merda é essa?




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