capítulo oito

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Como eu tinha um pequeno período de tempo até devolver todo o material emprestado para Wonpil, passei a me dedicar inteiramente a ler, pesquisar, estudar e desenvolver alguma teoria aceitável em relação ao caso de Mark. Chegava a ler tantos papéis em velocidade impressionante e desesperada que meus olhos pareciam girar das órbitas, simplesmente com vontade de sair delas e me deixar cego. Por preocupação, acabei dormindo tarde por várias noites e acordei cedo. E se não fosse a personalidade cuidadosa de Jaeboum, eu teria esquecido de tomar café ou beber água.

Aquela fixação louca por uma resposta teria outro motivo, mais precisamente profundo. Obviamente eu tinha deixado claro que meus objetivos eram descobrir o que sucedeu ao meu melhor amigo, assim, eu conseguiria vencer esse trauma que impedia-me de avançar na vida. Mas quando eu não me ocupava em olhar papéis, ler livros e jornais, ou receber broncas de Jaeboum — cada dia que eu passava com esse rapaz só concluía que ele se tornara mais uma avó do que um companheiro para mim —, eu me pegava pensando, na razão da onde tudo aquilo teria começado.

A força qual eu me fixava na papelada chegava a ser horripilante, e minha linha de vida tinha se encurtado a ser descrita como "descobrir a verdade a todo custo". Porém, e depois? Se existisse mesmo um culpado, e que não era eu, como iria se resolver? Eu correria atrás dessa pessoa por vingança? Deixaria a polícia tomar conta? E o meu significado... O vazio retornaria?

Pela dependência que meus olhos carregavam e na dor de noites mal dormidas, tudo o que eu pude pensar foi em uma ligação. Sim, a ligação era para ela.

— Alô, Jihyo? — Após o toque seguir três vezes, meus ouvidos ansiavam ouvir a voz da mulher que me levantou.

— Hm, o que foi? — Perguntou manhosa. Devia estar dormindo naquela hora. — Quem é?

— Sou eu, Jinyoung. — Respondi simples, e um grito de animação se soltou do outro lado da linha. E então o possível sono de Jihyo se foi, com uma mensagem vinda de alguém distante.

— Jinyoung... Como você está? Por que demorou tanto para ligar? Estávamos preocupados...

— Shh, acalme-se. — Silenciei-a. — Você parece cansada. Que tal essa, de dormir nessa hora da tarde?

— São seis horas, então daqui a pouco escurece. Você não sabe o perrengue que passei esses dias. Mas me diga, como anda as investigações?

Engoli a seco. Sem sucesso, meu plano de afastar os pensamentos em relação ao meu estado atual não se concretizou. Contei tudo o que acontecera nos últimos dias, detalhe por detalhe, e como uma boa psicóloga, Jihyo ouvia os relatos atentamente. Imaginei-a sentada na cama, com alguma roupa velha, a mão no queixo e ouvindo eu contar-lhe da suspeita de Yubin, meu escândalo na delegacia, a ajuda de Jaeboum e Wonpil, e minha árdua pesquisa nas imensas papeladas, ainda sem resposta.

Quando terminei, fechei meus olhos e inspirei fundo. Minha mente relembrava o momento em que tive de contar absolutamente tudo sobre minha vida à Jihyo, e meu coração comparava isso com o meu resultado final, o agora que eu vivia sem limites.

— E mesmo assim, eu não tive progresso. — Adicionei, antes dela comentar e fazer sua análise crítica. — Eu tenho estudado horas e horas o caso, mas simplesmente não há nada que se conecte. O assassinato de Mark é um completo mistério... Assim como ele era para mim.

Enquanto se passavam alguns minutos, depositei minhas esperanças nas palavras de Jihyo. Esperando uma resposta gloriosa, que iluminasse minha cabeça, assim como um religioso espera pelo seu perdão. Minha capacidade adquirida durante os dias estava se apagando, e o que eu esperava em uma simples ligação, se tornou o poder que determinaria minhas ações daqui para frente.

— Quer dizer que Mark era um mistério para você, Jinyoung? — Jihyo questionou, e arqueei as sobrancelhas, não entendendo sua estratégia.

— Foi apenas uma maneira de dizer, Jihyo.

— Uma maneira bem profunda e melancólica. Porque indica que você, mesmo sentindo todo aquele amor incondicional ao seu amigo, tinha suas limitações à personalidade dele e a sua vida. — Jihyo explica com serenidade, e como se eu estivesse na sua frente, me sinto pego no pulo. — Talvez você não consiga achar as respostas porque elas não estão relacionadas ao caso. Estes podem ser apenas as... Consequências.

— O que isso quer dizer, Jihyo?

— Acredito que você seja esperto o suficiente para entender o que eu disse, mas apenas não quer avançar. Por quê, Jinyoung? O que anda lhe aflingindo nesses dias, fora o caso do Mark?

Mordi os lábios. Me sentia um peixe limitado em seu aquário, sendo observado pelo exterior. E Jihyo, estando do lado de fora, teria controle sobre mim, e ciência das minhas próximas atitudes. Mesmo à distância.

— Eu não sei o que vai acontecer... Depois que eu resolver isso. O que será da minha vida? Ela se resumiu por passar em uma tristeza profunda, para depois uma busca por respostas. E quando tudo passar? Eu estou...

— Com medo. Mas não fique assim, é normal. Eu sei disso. — Jihyo falou no telefone. Sua voz parecia tremer. — O medo pode ser bom e ruim. Nesses casos, ele só está pregando uma peça na gente. É só tomarmos cuidado para que ele não nos deixe ser tão enganados. Você irá superar.

Com os olhos fechados, repeti as palavras de Jihyo na minha cabeça, e me sentindo um idiota. Idiota por ter se esquecido que a psicóloga também era um ser humano.

— Mande ao Yugyeom um abraço e diga que eu estou bem. — Pedi, e desliguei o telefone, sem dar um adeus, acabando por voltar em uma situação pior do que eu estava antes da ligação.

— Com licença, posso entrar? — Jaeboum perguntou do lado de fora do meu quarto, e dei permissão para ele entrar, voltando aos meus antigos afazeres — remexer na papelada à procura de nada.

Delicadamente, Jaeboum deixou um sanduíche com um suco gelado em cima da minha cama, e caminhou em direção a saída. Agradeci rapidamente a ele pela gentileza, mas não prestei muita atenção na sua pessoa até ele pôr a mão em meu ombro, e meu corpo se arrepiar pelo toque repentino.

— Jinyoung, porque você está pesquisando tudo isso? — Questionou, e meus olhos arregalaram-se. Mesmo passando todo aquele tempo na hospedagem, percebi que não tinha contado absolutamente nada do meu real interesse para Jaeboum.

— Jaeboum, é uma longa história...

— Você precisa comer, sair, caminhar, viver um pouco! Eu estou preocupado... — O rapaz fez um bico de irritação, seu estado de espírito demonstrando sua verdadeira emoção à flor da pele.

— Ok, Jaeboum, logo mais eu desço e saio para a praça, tudo bem? Não se preocupe, acabei de ligar para minha antiga psicóloga, e ela me deu... Uns conselhos.

Jaeboum riu.

— Considerando o tipo de conselhos que sua psicóloga deu, eu imagino que se pareçam um pouco com os que eu recebia da minha avó. — Ironizou, e deu a entender que estava indo embora, quando pegou um dos depoimentos da pilha próxima à cama, e leu-o espantado. — Eu não acredito que eles eram amigos... — Sussurrou.

— Eles quem? — Questionei, chegando perto de Jaeboum.

— O garoto assassinado em 91... Era amigo de um dos membros da Gangue Vermelha. — Jaeboum falou alto, mais para si do que para mim, em completo estado de choque.

— Gangue Vermelha?

— Era uma antiga gangue de pirralhos das áreas mais pobres da cidade. Minha avó vivia reclamando deles para mim. E principalmente da fofoca de que alguns eram riquinhos e patrocinavam a ganguezinha. Um desses era este aqui. — E me mostrou a foto de um dos amigos do time da escola de Mark, Jackson. — Ele adorava aprontar, e não escondia que tinha dinheiro. Por isso todos adoravam ele.

Segurei a imagem de Jackson, um jovem com o rosto indecifrável, sério demais para sua idade, e abaixo, o relato de um dia simples, sem nenhuma ideia da notícia que receberia no dia seguinte. Eu me lembrava como ele e Mark eram próximos, e às vezes, o culpava por terem essa certa intimidade.

Jamais iria se passar pela minha cabeça que ele fazia parte de uma gangue de marginais, e que este seria o principal ponto que alavancaria minhas expectativas. E principalmente, que Jihyo estava certa. Mais uma vez.

why? ☆ got7Where stories live. Discover now