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Ela abre os olhos claros de feiticeira quando o primeiro feixe de luz invade seu quarto, resignada Meredith se levanta os fios cor de mel que estão desalinhados, sua pele branca em virtude do longo sono está marcada pelo lençol. Duas criadas entraram em seu quarto, era como se elas pudessem sentir que Mery estava acordada, Mery, então, deixou a mão direita encostar o rosto enquanto seus olhos iam em direção ao vestido branco de renda que as criadas traziam.

Era o grande dia, o dia pelo qual Meredith se preparou por anos. Em Brandean, carrega-se a tradição: A filha do governador das cinco províncias mais forte que tiver entre dezoito e dezenove anos deve ser entregue ao herdeiro do Rei quando o príncipe alcançar vinte anos. No caso, o rei alcançou idade para se casar tendo em vista a morte repentina de seus pais. Meredith era filha do governador Pietro da província de Alexey, umas das cinco províncias mais fortes de Brandean, onde estava a maior parte do poder bélico. Ela sabia que a tradição a levaria a tal ponto, indubitavelmente.

Depois de fazer sua higiene, a loira, com ajuda de uma criada, coloca o vestido de renda rodado, deixando seus belíssimos fios loiros soltos. Depois, escutou as criadas soltarem que eles eram a única coisa bonita nela. Olhou-se no espelho, analisando o vestido pomposo, a maquiagem e o salto fino. “Anda e chuta” era o que dizia em sua mente enquanto caminhava até a carruagem que a esperava na porta. Seu pai estava do lado de fora da carruagem, estampava um sorriso nos lábios finos e rosadosDemonstrando uma pitada de orgulho, sua madrasta estava os olhos roxos já que havia passado a noite chorando de tristeza por a filha dela não ter sido escolhida para ser entregue ao príncipe. Para alguns, era uma grande honra, para outros, não passava de uma bobeira. 

Meredith se aproximou do pai lentamente e deu-lhe um abraço, deixando as palavras saírem de sua boca.

— Vou sentir sua falta, pai.

— Eu também, filha. Mas lembre-se não há honra maior do que essa: ser entregue ao príncipe Alain e a possível futura noiva dele, se não for noiva, terá a honra de ser dama de companhia da futura rainha.

Meredith virou os olhos após escutar as palavras do pai, e então se afastou do abraço em silêncio, mantendo o sorriso cordial nos lábios. 

_ Seja você mesma e tudo ficará bem. Seja gentil, forte e tenha coragem. Sempre. _ Voltou a falar Pietro.

Mery balançou a cabeça em concordância e em seguida, virou-se para a madrasta. Elas não tinham uma convivência boa, Mery sabia bem que tudo o que a mulher lhe falaria ali não passaria de uma encenação. Ela soltou um leve suspiro e forçou um sorriso antes de ouvir a madrasta falar.

— Meu anjo, eu espero que fique bem e ganhe o coração do príncipe. — Falou ironicamente. — Ouvi dizer que Alain é bonito, já consigo me imaginar no castelo cheio de regalias. — Completou em um tom de voz áspero, dando um sorriso maléfico.

A mulher deu um beijo na bochecha direita e esquerda de Mery que se manteve em um silêncio adágio. Subsequente, Meredith entrou na carruagem, aos poucos, ela sente o transporte se movimentar. Ela mantinha os olhos no teto, sua vista estava cansada com o balançar e o silêncio que permanecia, ela fechou os olhos lentamente e o presente imperioso foi ofuscado. Ela acordou horas depois já em frente aos grandes portões franceses do castelo. 

— Uau. — Deixou escapar a expressão dos seus lábios vermelhos carnudos ao vê-lo.

Analisou a beleza que o castelo esbanjava, prendeu o fôlego e voltou a soltá-lo levemente à medida que passava pelo grande portão principal. Assim que o fez, criados correram ao seu encontro enquanto outras pessoas a olhavam a fim de saber quem era a nova visita no palácio real. Mery não deixou de olhá-los e acenou para eles simpaticamente, logo depois, entrando no castelo junto com aqueles que a receberam.

Ela então entra no castelo sendo guiada pelos criados. 

Seu coração acelerou enquanto pisava na barra do vestido, praguejando mentalmente que o vestido era inútil.

Ao chegar ao salão de bailes, quatro belas garotas estavam a esperar pelo príncipe, ao vê-las Meredith soltou um leve bufar antes de colocasse ao lado da ruiva de pernas finas e rosto de pintinhas, dando um leve sorriso para ela. Em seguida, uma dama entrou na sala.

— Bom dia, meninas. Sou a senhora R. Hoje se inicia o primeiro dia da vida de vocês. O real motivo de vida de vocês, o Príncipe Alain Lencastre, logo vai entrar por aquela porta. — A morena falou, apontando o dedo para a porta que antes não parecia estar ali, era pequena com detalhes de rosa azul, todos bem desenhados. Ela continuou, agora andando de um lado para o outro. — Serei a vossa tutora durante a semana que estarão aqui, é o tempo que Alain levará para escolher a amada. Quando ele entrar, façam uma reverência. De resto, vocês sabem como agir.

Em seguida, trombetas foram tocadas e a voz de um homem, invadiu toda a sala, Mery procurou com o olhar, todavia falhou em achar o que procurava; a voz de quem anunciava.

— Príncipe Alain Lencastre Terceiro, primogênito do Rei Adam Lencastre Segundo. 

Após essa breve apresentação, as portas  se abriram, fazendo Alain aparecer em segundos. O homem tinha belos fios de cabelo, tão escuros quanto o carvão, a pele branca demais, parecia que não tomava sol há dias e o olhar sombrio, os lábios fracamente rosados, os músculos bem definidos podiam ser marcados por abaixo do terno. Meredith o avaliou, não detendo em um só ponto, cada ângulo e curva do homem. Após sua entrada, todos fizeram uma reverência.

 — Eu esperava uma recepção mais calorosa para vocês, todavia, devo ter a honra da presença de todas antes do baile de hoje à noite, tendo isso em vista, vou ter um momento com cada uma em minha sala. — O homem olhou para Mery e ficou em silêncio, como se algum fantasma do passado estivesse o assombrando. Então, ele se aproximou da ruiva que estava ao lado dela, segurou em sua mão e depositou um beijo, voltando a falar. —Primeiro, vou conhecer essa belíssima senhorita. — Então, ainda segurando a mão da garota, afastou-se das outras, completando. — As outras podem ir para o quarto se arrumar e preparar para o baile de hoje à noite. Mandarei chamar no quarto se for necessário. Espero que gostem da semana no castelo, senhoritas. — O príncipe falou e retirou-se da sala em seguida. Mery pousou seus olhos sobre os dois rapidamente, antes que uma criada se aproximasse para levá-la até o quarto. Ao chegar ao cômodo, duas criadas estavam à espera de Meredith carregando um lindo vestido amarelo com um belíssimo leão desenhado no tecido.

— Sou Cordélia e esta é a Lucinda.

 A mais velha falou, a mulher tinha algumas rugas no rosto, os olhos cansados e alguns dos fios negros já haviam dado origem a fios brancos. A mais nova, porém, tinha a pele bronzeada e permanecia em silêncio tendo os belos e brilhantes cachos presos. Mery estendeu a mão rapidamente para fazer um cumprimento cordial antes que a sua preparação para o baile começasse.

 — Estamos preparando isso há dias, o leão representa a força de sua província, espero que goste e que possa conquistar o príncipe. — Falou Cordélia em tom animado.

 Meredith fez uma breve análise das palavras da mulher em sua mente e logo rebateu.

— Estou aqui unicamente pela tradição, o príncipe é um objetivo inalcançável, nem mesmo o conheço para querer algo com ele!— Explicou raivosa. — Lucinda não fala?! — Indagou notando o total silêncio da outra criada.Ela indaga notando o total silêncio da outra, Cordélia respondeu por ela, balançando a cabeça negativamente.

— Não, senhorita. Desde o ataque dos revoltosos, ela parou de responder a todos.

Mery sentiu seu coração apertar após escutar sobre Lucinda, já havia ouvido boatos sobre os revoltosos. Eles eram de um povoado que não aceitavam o atual Soberano, por isso, queriam que um deles assumisse o poder. Mas Mery não sabia muito, as notícias sobre eles eram quase escassas. 

Horas depois de conversar com as criadas, Mery estava pronta para o baile. Seus olhos foram para a noite estrelada, perdendo a noção do tempo, notou que já era noite e ainda não tinha sido chamada pelo príncipe. Logo, as criadas a guiou até o salão onde aconteceria a festa, Mery olhou para a grande porta azul fechada e uma luta mental aconteceu dentro de si. Será que deveria ir?

Coração PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora