Tudo começou no meu nascimento, dia 22/12/2002 pra ser mais exato, já durante o começo da minha vida eu ganhei o melhor presente que eu poderia ter, eu ganhei um irmão gêmeo, Antônio era a minha outra metade e eu o amava mais que tudo, crescemos em uma casa simples no interior de São Paulo e fazíamos tudo juntos, estudavamos na mesma escola, sempre que um ganhava um presente o outro ganhava outro igual para não dar briga, porém, eu comecei a ser obcecado por números pares, sentia uma agonia extrema por números ímpares, sabe quando você lê um livro e não quer parar na página 99 e sim na página 100 ? Era quase isso 100 vezes pior, sempre que eu comprava alguma coisa comprava duas, pegava duas carnes no almoço, eu cheguei q um nível em que se eu tirasse um número ímpar na nota da prova eu me cortava ao chegar em casa, sempre cortes pares para não piorar, neste ano de 2019 minha família foi viajar para Santos, estávamos nós quatro dentro do carro enquanto meu pai dirigia e o restante dormia, ele estava cansado por ter trabalhado o dia inteiro e começou a cair no sono, o carro perdeu o controle e foi então que ele bateu em uma mureta e acabou capotando, o carro estava de cabeça para baixo e o teto todo amassado para dentro, eu estava muito machucado, minha mãe estava desmaiada porem viva, meu pobre irmãozinho desmaiou junto e meu pai acabou sendo esmagado pelo teto do carro, eu comecei a entrar em pânico e a suar, mas o problema não era o meu pai ter morrido, o problema é que o número tem que ser par! Eu estava tremendo quando olhei para Antonio, meu lindo irmãozinho que viveu a vida toda ao meu lado, foi então que eu coloquei minhas duas mãos sobre sua garganta e comecei a sufoca-lo, nesse momento ele acorda em desespero e tenta se soltar, eu chorava e ele me olhando com seu olhar que me pedia para parar só fazia eu me sentir pior, não durou muito até ele parar de se mexer e cair de minhas mãos, eu gritava de tristeza e me aliviava pelas mortes serem pares ao mesmo tempo, era uma sensação estranha, enquanto eu lamentava a morte de meu pai e meu irmão minha mãe acordava, no primeiro momento ela olhou meu pai e lágrimas começaram a sair de seus olhos, ela estava se segurando ao máximo pra não mostrar fraqueza para mim e meu irmão, foi quando ela olhou pra trás e viu que meu irmão também havia morrido, nesse momento ela começou a gritar e eu conseguia sentir a dor dela apenas pela intensidade de seu choro, porém eu estava aliviado que ela achava que ele morreu no acidente, deu alguns minutos até uma ambulância aparecer, provavelmente por alguém que passou por nós, viu o acidente e ligou, fomos levados até o hospital onde ficamos por uma semana, os ferimentos não eram muito graves mas queriam ter certeza de que estava tudo bem e voltamos de ônibus para nossa casa, minha mãe ainda estava em choque e eu disse que iria até o mercado para comprar algo pra ela comer, eu era novo ainda e não sabia cozinhar então comprei o mais básico só para ela comer, chegando em casa chamei por ela e ela não me respondia, a porta do banheiro estava fechada então achei que ela estava chorando lá dentro pra mim não ver esse lado frágil que ela não queria mostrar, horas se passaram quando eu achei estranho e resolvi ir ver se estava tudo bem, abri a porta do banheiro e ali estava ela, dentro da banheira encharcada de sangue, eu fiquei paralisado enquanto lágrimas caiam de meus olhos, havia uma folha de papel em cima da pia, era uma carta de suicídio onde ela falava que ainda no hospital a polícia ligou para ela avisando que descobriram que meu irmão não havia morrido no acidente, mas alguém matou ele sufocado, ela sabia que mais ninguém tinha entrado dentro daquele carro a não ser a gente, logo ela concluiu que tinha sido eu, na carta também dizia que eu era um monstro e que ela não queria viver sabendo que seu próprio filho é um assassino, mas esse era o menor dos meus problemas, afinal, o número tem que ser par... E essa foi a segunda carta de suicídio.
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O Numero Tem Que Ser Par
Short Storyum garoto tem um transtorno que o deixa obcecado por números pares, a ponto de fazer de tudo por isso.