Capítulo 2

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Acordo amarrada em uma maca ainda dopada das drogas. Pés e mãos firmemente amarrados a cama da cirurgia, tornando-os inúteis para qualquer tipo de fuga. Cintas circulavam meu corpo inteiro, evitando o contato apenas com as coxas da perna, pois estas estavam com curativos que se iniciavam perto da bacia e desciam até a o joelho. Tinham aberto minha coxa inteira, e eu sequer saberia o que fizeram.

Ao forçar meu olho direito a abrir por inteiro, uma dor lancinante percorre pela cabeça, e solto um gemido baixo. Porque raios ele estava tão dolorido e inchado se eu sequer tinha resistido quando vieram nos buscar. Será que teriam me espancado enquanto eu estava apagada? Será que cai no chão quando a tontura me tomou invés de ter deitado como eu acreditava?

Com o olho esquerdo olho ao redor tentando levantar a cabeça até onde as amarras me permitem. A sala metálica cor de chumbo parecia ser a mesma de sempre: a primeira impressão apenas um laboratório e sala cirúrgica, mas, com um pouco mais de atenção, era possível ver que o tamanho de tudo ao meu redor era aumentado, como feito para alguém de 3 metros de altura. A maca era excessivamente grande e alta, sobrando espaço para outra pessoa ao meu lado. Os frascos de remédio, bisturis, microscópios e armários tinham pelo menos o dobro do tamanho de tudo que estávamos acostumados a ver na Terra. As seringas eram sempre as piores: A agulha era grossa demais para nossa pele, e tão extensas que era possível atravessar o braço de alguém com ela e ainda sobraria espaço para mais.

Ao olhar para o lado esquerdo vi a maca de mais quatro pessoas, quase irreconhecíveis pelas marcas de luta e resistência. Mais próximo a mim estava o corpo pequeno de Bruna, o rosto inchado e os diversos hematomas ao redor do corpo demarcando que o espancamento tinha sido cruel e demorado. Ao lado dela estava Pedro com sua pele morena marcada por queimaduras que eu não sabia de onde tinham vindo, e um curativo em forma de capacete ao redor de sua cabeça, dizendo o bastante sobre que tipo de experimento haviam feito nele. Em seguida Lucas. Ou eu achava que era ele pois não era possível levantar mais a cabeça, só conseguia ver as pernas esguias e maiores que a de todos.

A minha direita havia mais três macas: Paulo mais próximo a mim, Vilhena e em seguida Julie.

A maca de Paulo estava tão próxima a minha que era quase possível tocar em sua mão também atada a maca. Seu braço esquerdo estava enfaixado por completo, desde os dedos até o pescoço, com algumas regiões manchadas de sangue e pus. Fazia tanto tempo que eu não o via na claridade que quase havia me esquecido dos traços de seu rosto. Os pequenos e puxados olhos dele estavam levemente inchados, o esquerdo mais que o direito, havia cortes no lábio que diziam o suficiente sobre a tentativa de resistência que ele sempre fazia ao sermos levados. Normalmente eu teria ficado brava, eu sempre dizia que lutar era inútil e brigava que sua energia deveria ser conservada para as recuperações, mas naquela altura, eu já não me importava mais se iriamos acordar ou não após a cirurgia, pois a cada dia que virava, a cada corpo morto que carregávamos para fora e novos cobaias humanos que chegavam, uma parte da esperança ia embora, deixando apenas dores e medo.

Fiquei analisando sua respiração, o peito subindo e descendo controladamente, os sinais vitais no monitor - idêntico aos nossos da Terra - mostravam que estava tudo normal.

Era um alívio ver seu rosto e corpo limpos depois de tanto tempo. O cabelo colorido havia sumido a muito, dando lugar ao preto natural. Ele tinha emagrecido drasticamente, seu corpo que antes era forte, com bochechas fofas e as "gorduras extras" como costumávamos chamar, agora estava apenas forte e em processo de definhamento. Mais alguns meses e seus ossos começariam a aparecer pela pele como havia acontecido comigo.

Todos naquela sala tinham sido sequestrados juntos da festa que estávamos. Nos conhecíamos a pouco mais que um ano quando tudo aconteceu, mas foi o suficiente para criarmos um elo de cooperação para que ninguém ficasse para trás.

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⏰ Last updated: Jan 15, 2020 ⏰

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