O Primeiro dia de aula continua (Luíza)

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Depois do intervalo tivemos aula com um professor monótono chamado Rogério, ele falou os cinquenta minutos sobre como o ser humano não viveria sem a filosofia e como ela pode moldar nossa personalidade.

Ele veste uma camiseta desbotada e sandálias para senhores, o cabelo grisalho está penteado de modo que cubra a careca já visível no topo da cabeça. Sua pele está cheia de manchinhas, acredito que ele já beira a casa dos sessenta anos.

Assim que a aula dele acabou, eu já me sentia exausta e ainda faltam duas aulas, coloquei meu capuz e vou andando até o bebedor. Como não há bebedor em nosso andar, desço os dois lances de escadas ao som de Giants, do recém-formado True Damage.

Sou fã de jogos e design de jogos, arte é a minha praia e essa música eleva minha criatividade ao máximo. Cada parte da letra me renova e já quero voltar para a sala e aproveitar meus lápis novos de desenho.

Passo no banheiro a caminho do bebedor, hoje não passei nada de maquiagem, apenas o lavei o cabelo como de costume e deixei seca. Meu moletom preto realça as olheiras da insônia da noite anterior, mais no geral não está tão ruim de se ver.

Solto o cabelo para prendê-lo novamente e acabo esbarrando em alguém na saída do banheiro.

- Desculpa, sério foi mal! – Meu sangue gelou quando percebi que havia esbarrado com a Vice-diretora Sandra. Apesar de saber que ela me conhece, as vezes sinto que ela espera qualquer oportunidade para me corrigir.

-Luíza, porque está fora da sala? – Ela me encara com os olhos fixos nos fones de ouvido.

-Eu.. é... eu... eu .. Banheiro! – Porque me sinto tão criminosa?

-Vá logo para a sala, você precisa ser exemplo já que é representante de sala.

-Sim senhora! – Saio sem nem olhar para trás ansiosa para voltar para sala. Não sei porque me sinto assim, só estava no banheiro. É natural, não é? Eu hein, as vezes eu deveria ser mais corajosa.

Paro para amarrar o cadarço na escada, já longe da bruxa. Ainda me sinto culpada e nem sei por que.

Com a cabeça baixa vejo um par de sapatos parar ao meu lado, já estou rezando para não ser o senhor Robson, se não vou ouvir outra bronca.

-Luíza?! –Reconheço essa voz levemente rouca.

-Professor! – Olho para cima e me dou conta que estou ainda com o cabelo solto e agora está bagunçado como uma juba de leão. Acredite, cabelo cacheado não fica muito feliz depois de uma manhã preso. – Já estou indo para a sala Fessor, relaxa!

-Sim, tudo bem. Só ia perguntar se sabe onde fica a sala de vídeo? – Ele me olha com um olhar diferente, parece confuso, mas também parece interessado em algo.

-É neste andar prof. A sala com a porta amarela. Quer que eu o acompanhe? – Fala sério porque eu disse isso? Ele vai me achar uma das tietes dele, afzz Luíza você não acertou uma hoje.

-Eu ficaria agradecido, mais acho que você precisa voltar a aula, não acha? –Agora seu olhar parece neutro, diferente de segundos atrás. Luíza foco!

-Tudo bem então Fessor, até a próxima aula! - Vou subindo já que ainda falta um andar para minha sala.

-Ei! Bom, acho que a professora não vai te deixar entrar na aula se não tiver uma boa desculpa, não acha? – Ele sorri de um jeito meio "paizão", ficou engraçado para um professor, não consigo evitar o sorriso.

-Professor, você está me ajudando a quebrar as regras? – Que pergunta é essa Luíza? Meu Deus!

-Vamos dizer que é uma retribuição pela gentileza, agora vamos que eu também estou atrasado. – E assim ele me trouxe até a porta da sala e informou a professora que eu o ajudei a carregar alguns materiais e por isso me atrasei.

Penso que a professora de Matemática está caidinha por ele e por isso nem fez questão de olhar para mim enquanto eu entrava para a sala. Ela o encarava como um belo bolo de chocolate. Aposto que até o fim do ano eles vão namorar.

A professora de Matemática é uma mulher muito bonita. Não é muito mais alta que eu, mais é magra e malhada. Ela gosta de exibir que malha, todos os meninos são caidinhos por ela. Seu cabelo loiro e longo, suspeito que seja um mega hair muito caro por sinal está sempre hidratado, sinceramente, tenho uma pontinha de inveja. Ela é quase aquelas moças de comerciais que toda garota quer ser.

Quando me sento, Lou já me encara desconfiada e com a língua coçando para perguntar, mas como estamos na era digital, sinto meu celular vibrar no bolso.

ONDE VC ESTAVA E PQ O BONITÃO ESTAVA COM VC :0 (CHOCADA)

LONGA HISTÓRIA -_- TE CONTO NA SAÍDA

Finalmente as aulas de hoje acabam e eu só desejo o almoço em casa e terminar meu livro.

-Liz, onde você estava com o bonitão, eu não sabia que você já tinha abandonado sua paixonite pelo Nerd – Lou enfatiza o "E" como se a palavra tivesse uns quatro ou cinco.

-Shiiiii, fala baixo. – Lou sabe que sou apaixonada pelo Rodrigo a três anos, mais nunca tive coragem de ser nada além de a colega do grêmio estudantil e a nerd dos eventos escolares.

-O maluca, eu nem falei o nome dele! – Lou começa a rir e agarra meu braço para irmos para o transporte.

-Então amiga, eu desci para beber água. A prof de matemática sempre atrasa então eu saí rapidinho, achei que ia voltar antes dela chegar. Resolvi dar uma passadinha no banheiro e arrumar a juba, mais antes de terminar dei de cara com a bruxa e como sempre ela me deu um sermão e me mandou para sala. Eu fiquei em pânico e sai em disparada.

Parei na escada para amarrar o cadarço e o prof Miguel apareceu do nada. Aí ele se ofereceu para me ajudar a entrar na aula. Acho que ele esta afim da prof! – Paro um momento para respirar enquanto Lou já está fazendo cálculos mentais sobre o professor Miguel e a professora Lívia.

- Será que ela faz o tipo dele? Caiu uns dez pontos no meu conceito. Tenho certeza que ela tem plástica no nariz. – Apesar de concordar com o lance da plástica acho que eles formam um casal bonito.

Subimos no ônibus e jogamos conversa fora sobre mais um cantor coreano que está com depressão. É triste mais é real que a depressão tem tomado conta do nosso mundo. Acho que é porque estamos o tempo inteiro tentando ser pessoas que não somos para agradar pessoas de quem nem gostamos.

Desço primeiro já que Lou mora quase no ponto final do ônibus, caminho por cinco minutos ao som de Faroeste Caboclo até chegar ao portão de casa. Me impressiona como Renato Russo sabia contar histórias em sua música. Fico feliz por poder descansar hoje.

O almoço de hoje é a sobra do jantar de ontem que por sinal está uma delícia. Faxinamos a casa no fim de semana então, hoje seremos somente eu, o fim do meu Thriller book e minha playlist de rock.

Será uma tarde tranquila!

Talvez seja elaWhere stories live. Discover now