Prólogo.

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Quadragésimo nono departamento policial. 21h45. Bangkok.

— Chegaram as novas pistas do quartel de drogas, veja se os retratos falados condizem com algum dos garotos presos essa manhã, certo? Estamos ficando sem provas e essa é nossa última chance de poder derrubar um deles. A voz que viria atrás de mim aumentava a cada passo que se aproximava em seu tom autoritário e destemido.

— Sim, capitão. Vou até os garotos assim que eu terminar essa papelada e algumas análises, não devo demorar muito, eu juro.

— Você parece bem concentrado nisso, o que está acontecendo, Off?

— O senhor sabe que cheguei a pouco tempo, me designar um trabalho de um porte desses é algo... Intenso, eu diria. Quero poder fazer meu trabalho direito e sem medo de errar, quero prender eles e mostrar para o que eu vim.

 De fato eu era um dos novos detetives daquela delegacia, havia chegado pouco menos de 6 meses e aquele era um dos casos mais sérios se não o mais sério de todos, tudo o que eu sabia era sobre o galpão que falsificava dinheiro e três nomes suspeitos, precisava achar uma forma para me infiltrar, uma forma de investigar tudo de perto e poder prende-los antes que fosse tarde demais. Fotos, mapas e pistas beiravam toda minha mesa, colagens no quadro negro eram mantidas por tachinhas e fios de diversas cores indicando a situação e posição de cada um, capitão estava contente naquela noite, provavelmente teria conseguido pegar uma de suas baleias brancas, algum bandido de grande perigo, não quero atrapalhar seu momento, ele merece curtir um pouco antes de chegar cada vez mais casos e mortes. Me levantei do gabinete o mais rápido possível, os olhos cansados devido a toda aquela papelada do dia me causavam olheiras, não tinha como resolver aquilo agora, prestes a chegar em meu horário de saída eu ainda tinha que questionar todos aqueles garotos, respirei fundo passando em uma das pequenas cafeteiras da delegacia e me servindo um expresso quente, as mãos também cansadas e avermelhadas massageavam os olhos enquanto esperava o líquido quente ficar pronto. Não poderia entrar segurando aquela xícara então virei tudo de uma vez sobre minha garganta, sem açúcar, isso ajuda a me manter acordado e me dar um pouco de energia.

— Boa noite, detetive Off.

— Boa noite, detetive Tawan.

 Conseguia avistar cinco garotos através do grande vidro da sala antes de começar o interrogatório, jovens, todos em uma faixa de idade semelhante a minha, aquela situação era bem triste e me causava enjôos, por que garotos tão bonitos, saudáveis e jovens se entregam a isto? Eles tiveram uma chance de serem pessoas melhores? E se tiveram, por quê não agarrou isso com unhas e dentes? Respirei fundo mais uma vez, não iria adiantar dar um sermão sobre isso agora, são bandidos, cometeram crimes contra pessoas inocentes e eu não posso deixar isso passar em branco, tenho que fazer meu trabalho, esses garotos precisam de mudança. Voltei minha consciência de longe para mim, estava na hora de fazer aquilo que eu levei anos me dedicando, quero apenas três, os mesmos que estavam nas fotos grudadas em meu quadro negro, com passos lentos enquanto pensava nas perguntas fui em direção à sala de interrogatório, me sentei e esperei uma das policiais trazerem um dos garotos.

— Mãos onde eu possa ver. Meu tom de voz mudaria agora, não posso ser simpático, não posso ter compaixão, sou um detetive e tenho que arrancar verdades da boca desse garoto. Ao algemar seus punhos sobre a barra curva de metal da mesa fiz contato visual. Um rapaz de porte grande, forte e de pele clara possuía olhos castanhos escuros quase pretos, seus lábios eram pequenos e olhando de perto era notável alguns pelos faciais prestes a surgir sobre seu maxilar. Com aquele olhar sabia que seria difícil tirar alguma coisa dele naquela situação, era só mais um marginal cheio de marra achando que tinha algum poder ou moral mesmo estando sobre tal posição. 

— Vamos lá, passagem por roubo, porte de drogas e invasão de propriedade privada. Enquanto lia seu arquivo em voz alta podia notar seus olhos se revirar por cima dos arquivos que eu fingia manter os olhos. O garoto não deveria ter mais que vinte e cinco anos e pela sua cara cansada não iria querer abrir a boca pra responder minhas perguntas. — Como se considera? Questionei mirando a visão sobre a dele fixadamente. 

— Inocente. Sorrio esbanjando os dentes brancos e limpos com ambas as sobrancelhas arqueadas franzindo a testa. Posso ligar pro meu advogado agora? Sua voz não era grave, apesar da aparência séria e postura ereta completamente másculo carregava consigo uma voz tranquila e serena, parecia um garoto preso no corpo de um homem feito. 

— Não, não agora. Antes você responde minhas perguntas e se for sincero o suficiente para eu saber que está falando a verdade, você ganha sua ligação. Agora me diga, o que fazia dentro do galpão abandonado com duas malas carregadas de dinheiro falso? Foram quantos? Cinquenta mil por mala, certo? Para quem era o dinheiro? De onde ele veio? Enquanto questionava o mais novo sabia que alguns policiais estariam atrás do grande espelho fosco ouvindo cada palavra que sairia das nossas bocas, torcia para que o capitão não estivesse ali agora, se eu falhasse aqui poderia ser afastado de toda a operação. 

— Eu não respondo nada até meu advogado estar presente aqui. Insistia enquanto cruzava suas mãos algemadas sobre a mesa fechando os punhos com dedos entrelaçados. 

— Eu tenho todas as provas que preciso aqui, você só precisa me dizer como chegar até a fonte de todo o problema e sua sentença sera diminuída. Agora me ajude, eu quero chegar até seu chefe e impedir que todo esse dinheiro sujo se espalhe por esse país. Quem está te mandando fazer isso? Eu quero nomes, eu quero o local de onde esse dinheiro está saindo. EU QUERO AGORA, PORRA. Tudo aquilo fazia parte do trabalho, os palavrões, fingir a raiva e bater com tudo sobre a mesa, qualquer coisa que pudesse afetar o psicológico do garoto. 

— E-eu não posso. Finalmente o garoto começava a demonstrar fraqueza quando notava seus olhos ficarem em tons avermelhados e sua voz trêmula. E-eu não posso, gaguejou mais uma vez, agora sua pele estivera ainda mais branca, o rapaz estava ficando pálido. 

— Desembucha. Fala logo o que você sabe. Retruquei. 

— E-e-eu n-não. Antes mesmo que o jovem pudesse completar sua frese a espuma branca saia de seus lábios e seus olhos reviravam. Parecia que o garoto estava levando choques constantes em seu corpo. A pele quente e pálida transpirava em um ritmo absurdo, seus olhos estavam quase que brancos, saquei minha arma pensando em um possível ataque do menor. Antes que ele se debatesse sobre a mesa e os outros policiais invadissem o interrogatório. 

Galpão abandonado, 22h21. Phuket. 

O celular vibrou. A tela luminosa se acendeu com a esperada mensagem.
'Ele não vai abrir a boca'.

My criminal.Where stories live. Discover now