Capítulo 1 - Que história é essa?

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Para iniciarmos esta história preciso apresentar para você, caro leitor, uma jovem sonhadora de olhos cor de esmeralda, cabelos castanhos ondulados e pele bronzeada. Linda é um adjetivo pobre para defini-la. Para isso, nós vamos viajar por São Paulo e depois para uma pequena cidade do interior de Santa Catarina, chamada Ouro. Com seus sete mil habitantes, Ouro é pacata, calma e, com exceção de um ou outro evento isolado, a vida costuma passar mansamente.

Foi justamente isso que atraiu a nossa querida Paula.

Paula nasceu em São Paulo, capital. O pai é advogado e a mãe uma engenheira, musicista, dona de casa, escritora, entre outras funções. Por ser filha única cresceu recebendo tudo o que desejava, não por esse ser um fator atribuído a todos os filhos únicos do mundo, mas sim porque os pais, sempre muito ocupados, não tinham tempo suficiente para dedicar à filha.

— Alberto! — Susan chamou o marido. — Olhe só para ela, já está engatinhando! — E o que pareceu ser uma semana depois, Paula já estava falando um dicionário inteiro e causando todos os problemas possíveis e imagináveis na escola particular onde estudava, que era a melhor do estado.

— A culpa é sua! — Alberto gritava a plenos pulmões.

— Devo lembrar que você também é pai dela? — Susan o encarava com as mãos na cintura, falando com a voz mais baixa, pois detestava escândalos e chamar atenção dos vizinhos.

— O que você sugere que façamos? — Alberto sempre cedia, pois, no fundo, sabia que a culpa das estripulias da filha era de ambos.

— Vamos conversar com ela. — A esposa o olhava com convicção.

— O mesmo de sempre...

— Não, dessa vez será diferente! — Como resposta o marido ria alto.

Paula sempre ouvia essas discussões atrás da porta, ansiando pelo momento em que a chamariam e finalmente teria um pouco da atenção dos pais. Não que fizesse isso de maneira premeditada, mas na época era só uma adolescente e percebeu que existia um padrão: encrenca era igual a atenção.

Com o passar dos anos e com a noção melhorada das coisas, desistiu de chamar a atenção dos pais. Percebeu que havia coisas mais importantes com as quais se preocupar. Esse pensamento só surgiu depois de uma certa amizade que construiu na escola.

Maria era um raio de sol no meio daquela cidade cheia de gente nublada. Era também uma garota de muita fé e sempre que podia convidava Paula para algum chá da tarde ou evento da igreja que frequentava. Nossa protagonista relutou no começo, pois achava esse negócio de igreja muito ultrapassado e sem graça, mas a empolgação de Maria sempre a atraía. Foi lá onde Paula aprendeu que existia alguém que, de fato, a amava.

Converteu-se e convidou Jesus para entrar na sua vida. Todo mundo notou a diferença. Com exceção dos pais. Claro.

Com seus dezoito anos formou-se no ensino médio. A idade denunciava algumas reprovações do ensino fundamental. Quando se viu diante do diploma, decidiu que se mudaria para Ouro. Com as malas em mão, óculos escuros e um travesseiro de pescoço, entrou na cozinha naquela manhã.

— Alguma viagem da escola, filha? — a mãe perguntou, fitando-a de relance e retomando a leitura do jornal, enquanto o pai percorria a tela do Tablet com os óculos na ponta do nariz.

— Na verdade, estou me mudando — falou, como se isso não tivesse importância alguma e ignorando o fato de que sua mãe ainda não tinha entendido que ela havia se formado.

Porém, o pai, que estava tomando seu café, cuspiu por completo o líquido que estava em sua boca.

— O que foi que você disse? — Susan perguntou atônita, ignorando o marido com desdém. Que destrambelhado, pensava.

Memórias em papel timbrado (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora