Capítulo único

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"Querido James,

Hoje fez um mês que não nos falamos. Uma semana que você me ignora ou foge sempre que tento me aproximar. Uma semana que sinto meu coração apertar sempre que te vejo...

É estranho porque eu passei os últimos seis anos desejando que você me deixasse em paz e se você tivesse me ignorado em qualquer um desses anos eu teria ajoelhado e dado graças a Merlin, mas então no ano passado – o nosso sexto ano – você parou de me chamar para sair, parou com as brincadeiras idiotas – acredite, você consegue ser bem mais engraçado sem elas –, e eu pensei 'talvez ele não seja um caso perdido'.

Então veio aquele natal.

Sinceramente, eu já estava acostumada com Marlene e Dorcas voltarem para casa na época de natal, mas quando Mary disse que também iria para casa eu pensei que aquele natal ia ser um desastre. Não me leve a mal, mas o natal não é meu feriado favorito desde que Petúnia decidiu usar qualquer tempo meu em casa para me infernizar – ao menos Mary sabe o que é ser uma nascida trouxa com problemas familiares por ser bruxa.

Além disso, Hogwarts sempre fica vazia no natal e do nosso ano na Grifinória ficaríamos apenas nós quatro – Sirius, Remus, você e eu. E era lua cheia, então eu não teria o Remus lá também.

E sim, Potter, eu sei que ele é um lobisomem. Honestamente eu não sei como mais gente não descobriu porque Remus é um péssimo mentiroso. Quantas vezes alguém pode quebrar a perna descendo a escada no mesmo ano e sempre na lua cheia? E mesmo que seja possível, não acho que a mãe dele seja tão desastrada assim para ele usar a mesma desculpa mais de doze vezes e todo mundo acreditar!

De qualquer forma, eu não estava muito animada.

Quando a noite de natal chegou e fomos para ceia, Remus não estava lá, nem o Sirius – e isso não foi nenhuma surpresa... até porque não é como se vocês fossem muito discretos, capa da invisibilidade nenhuma esconde as olheiras de vocês no dia seguinte então eu sei que vocês tem um jeito de cuidar dele nessas noites –, mas para minha surpresa, você estava.

— Remus não está se sentindo muito bem – você disse – Sirius decidiu ficar com ele. Ninguém merece passar a noite de natal sozinho.

— E por que você não ficou com eles? – perguntei.

— Como eu disse, ninguém merece passar a noite de natal sozinho – e então você sorriu. E juro por Merlin, não tinha percebido o quanto seu sorriso é bonito até então.

Então você ficou. Por mim.

Nunca tínhamos conversado de verdade até aquela noite e, pela primeira vez, entendi o porquê de Marlene e Remus gostarem tanto de você. E eu sabia que você era inteligente e bonito, mas até então não tinha notado o quanto era divertido e paciente e doce e... bom, já deu para entender.

(E vamos abrir um parêntese aqui: que bom que você decidiu passar o natal comigo, porque eu nunca tinha visto o Remus ou Sirius tão sorridentes quanto naquela manhã de natal. Acho que foi ali que eles começaram a resolver a confusão que eles insistem em manter – como se todo mundo não soubesse que eles se gostam.)

O resto do ano eu passei a te considerar um amigo.

Então esse ano começou muito bem – se bem que eu ainda não entendi porquê Dumbledore escolheu você e não o Remus como monitor chefe; mas não que eu esteja reclamando: você é uma ótima companhia durante as rondas.

Mas então chegou o Halloween e... aquele momento. Quando McGonagall se aproximou da mesa da Grifinória com aquela cara – são tempos difíceis James, todos nós aprendemos a reconhecer quando notícias ruins estão chegando.

Pode parecer egoísta, mas naquele momento eu só rezei para que ela não parasse na minha frente. Que não fosse a minha família atacada. E quando ela passou direto por mim eu agradeci a Merlin... até ela parar na sua frente.

McGonagall tentou te levar até a sala dela, mas você estava tão nervoso, tão angustiado. Então ela te contou ali mesmo, no meio do Grande Salão com todos te observando. Seus pais estavam mortos e quando te olhei...

Eu nunca tinha visto você chorar. Meu coração se partiu em mil pedaços naquele momento e tudo que eu queria era te abraçar, ficar ao seu lado e te ajudar a enfrentar aquilo. Mas Remus tirou você e Sirius do salão antes que eu tivesse qualquer reação.

E no enterro... Remus era um suporte para o Sirius, mas você parecia quebrado.

Eu nunca desejei tanto que você fizesse alguma coisa, qualquer coisa, por mais irritante ou estupida que fosse seria melhor que te ver daquele jeito.

Então quando foi minha vez de falar com você eu não consegui dizer nada, só te abraçar e chorar. E você chorou também.

— Eles se foram – você sussurrou.

— Eu sei – eu sussurrei – eu sinto muito.

— Eu estou sozinho – você disse – eu não quero ficar sozinho.

— Você não está – eu disse – eu estou aqui.

— Não me deixe sozinho Lírio – você pediu.

— Nunca – eu respondi e, céus, eu nunca falei tão sério em toda minha vida.

E eu fiquei. Por você.

Mas quando você voltou para Hogwarts na semana seguinte você começou a me evitar. Eu te dei espaço porquê achei que você precisava de tempo. Então passou uma semana, depois outra e mais uma.

Um mês. E juro que não achei que fosse sentir tanto sua falta, mas eu sinto.

Sinto falta das suas piadas inteligentes. Sinto falta do seu sorriso. Sinto falta das nossas conversas durante as rondas. Sinto falta do jeito como me chama de Lírio quando esquece que prometeu parar de me chamar assim.

E por mais que eu nunca vá enviar essa carta, eu precisava escrever ela.

Mas que porra! Como eu sinto sua falta.

Volte logo para mim,

Lily Evans.

P.S.: eu acho que te amo."

.

— Lily – ela se virou encarando Marlene parada a porta – Doe está esperando a gente para ir pra o grande salão. Você vem?

— Vou, só tenho que fazer uma coisa antes – a ruiva disse – me espere lá em baixo.

A morena assentiu saindo.

Lily dobrou a carta colocando em um envelope, escrevendo "para James" no verso, e o guardou em sua cômoda antes de seguir pela porta por onde a amiga tinha acabado de sair e descer até o salão comunal.

James não falou com ela naquela noite e a ruiva voltou para o quarto assim que pode. Se deitou se sentindo exausta, como se aquela carta tivesse sugado sua energia. Não se importou quando suas colegas de quarto chegaram ou quando uma perguntou se podia pegar suas anotações emprestadas.

Só deitou e dormiu. Não conseguia se lembrar do sonho que teve, mas sabia que era algo muito bom e que a fez acordar sorrindo. Lembrava vagamente de haver um cervo em seu sonho, mas aquilo não fazia o mínimo sentido para ela. Por que sonhar com um cervo a deixaria feliz?

Naquele dia James voltou a falar com ela. Sirius até fez uma piada sobre como ela parecia sorridente naquele jantar e acabou levando uma cotovelada de Remus. Ela não se importou – e não conseguia parar de sorrir de qualquer maneira.

Duas semanas depois Lily chamou James para sair e foi a vez do moreno passar o dia sorrindo feito bobo. No mês seguinte eles estavam namorando.

No fim daquele ano letivo, quando estava arrumando suas coisas para ir embora, Lily notou que sua carta para James misteriosamente tinha sumido.

Sinto sua faltaWhere stories live. Discover now