2000

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não há nada de complicado no embalo da abertura de um cartório logo pela manhã que não envolva deliberadamente, um atestado de óbito, uma certidão de casamento, nascimento ou a assinatura de um divórcio, e eu nem estou falando da regra propriamente dita, cuspida e feita da maneira mais fria e calculista já enfeitiçada há milênios.

há em algum lugar dessa casa e dessa selva putrída, uma exceção à regra: um contrato selado com um aperto de mãos e um singelo até logo. porque eu e você sempre achamos ridícula toda a ignorância por trás do fatal esquecimento que nos embala juntos e empacotados. eu jamais me daria ao luxo de esquecer dos 19 anos em que eu passei ao seu lado.

mas as vezes até que dá vontade.

e não é que eu realmente acredite que silenciosamente você irá seguir o seu rumo num cubículo novo, porque a sua capacidade de reviver maus bocados e sinucas de bico se tornam aparentes dia após dia, como naquela vez em que você passou um final de semana inteiro debaixo do meu teto com a desculpa de que sentia muita, muita, muita falta da nossa filha, ou no mês passado quando você arrumou um emprego novo num passado próximo e intragável da sua vida, e que mesmo depois de tanto caminho andado, você resolveu dar meia volta e correr 100 quilômetros para trás novamente. há realmente algum tipo de necessidade que englobe eu & você & a nossa filha, ou você, nos endereços para contato do seu novo emprego colocou o endereço da minha casa e o meu número de celular porque pensou ser o mais óbvio à se fazer?

eu quero fugir de você!

é um grito lúdico que reverbera pelos cantos da caverna frustrada que há dentro de você, mesmo que eu tente colocar algo lá dentro na tentativa falha de algum tipo de entendimento. eu vivo bem demais sozinha e sentir pena não entra nos meus planos tão constantemente, só que sobrepondo a discrepância minha em abrir a porta e te mandar para fora, eu sei que você irá pegar chuva porque esqueceu de comprar um novo quando se mudou para a casa da sua irmã na cidade ao lado. e se eu marcasse os meus dedos na epiderme cinza com cara de cansaço e tristeza, mais pena eu sentiria. e o problema é todo seu. por mais que o meu espelho ainda dê risada da minha carranca de espanto quando eu percebi que ao batucar os dedos na sua pele, um som oco é omitido.

porque você é vazio.

e eu morro de medo da certeza de que você me escolheu para tapar com a minha própria argamassa os furos da sua falta de sentimentos. porque além de tudo, eu sei que você não me ama e tampouco a nossa filha.

o apego finda relações casuais,  finda relações amorosas, finda o respeito, finda a particularidade. age como uma foice e vai ceifando por aí afora a individualidade que já pode existir entre jeon heejin & lee minho. quando eu abro os olhos, você diz que agora devemos nos tratar como "nós". porque agora eu sei todos os seus segredos e você me acha digna.

bela piada.

nada extraordinário parte da predefinição de que o amor é de fato um conceito concreto, então por que você continua tragando de uma verdade que ultrapassa o que pode ser uma exceção da causa? soa menos melódico dizer "eu e você" ao invés de "nós"?

não existe um "nós" aqui, minho!

eu não amo você & eu não amo um nós.

eu sinto nojo, e penso nisso há 19 anos sem que haja escapatória.

mas eu sei de boa parte dessa missa, e de acordo com o que há de rabiscado no calendário, hoje é o dia da sua consulta no oculista.

mas oculista pra que se você não se enxerga com um ligo de crítica através das lentes empalidecidas da conformidade e continua gradativamente voltando ao estado cotidiano que já se encontrou por tempo demais enraízado e acomodado no meu sofá? é por isso que 19 não é um número par. existe uma singularidade nítida dentro dos devaneios possíveis e nenhum deles se encaixa no pretexto de que em algum dia voltaremos a ser um casal, porque 1+9 é 10 e 1+0 é 1.

e a partir de agora quem manda aqui sou eu, e nessa casa, você não pisa mais.

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DEVANEIOS INTRAGÁVEIS SOBRE LEE MINHOOnde histórias criam vida. Descubra agora