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Minha noite foi terrível. Tive pesadelos com um garoto ensanguentado na floresta o tempo inteiro, e desejei que Jack nunca tivesse me falado sobre o quadro de Jaeden.

Acordei com um susto na terceira vez aquela noite, me sentei na cama e tentei afastar aqueles pensamentos. Olhei no relógio na escrivaninha de Jess, eram três horas. Levantei lentamente e fui até a janela, dava pra ver aquele labirinto dali. Tinha um nevoeiro por cima dele e a janela estava embaçada. Também dava pra ver um pouco daquela floresta que rodeava o internato. Notei, ao limpar a janela com as costas da mão, um movimento pequeno, porém estranho entrando lá.

─ Bobagem. - Falei voltando pra minha cama e adormecendo.

Acordei no outro dia com o grito de Jess. Abri os olhos com dificuldade e noitei que a porta do quarto estava aberta, e nela tinha um gato preto nos observando.

─ Pra que tanto escândalo? - Kate falou. ─ É só um gato.

─ Acontece que eu sou alérgica. - Jess respondeu. ─ Achei que você prestasse mais atenção nas coisas que eu digo. - Ela completou jogando uma almofada em Kate.

─ Deixa que eu levo ele pra fora. - Falei enquanto levantava coçando os olhos.

Peguei o gato no colo e segui pelo corredor, mas quando eu estava quase no fim ele pulou, me encarou por um momento e então saiu correndo.

Depois disso voltei para o quarto, vesti meu uniforme e desci para mesa do café, onde encontrei Jack.

─ Eu achei que seria péssimo ficar aqui. - Jack falou. ─ Mas olha, está sendo ótimo.

Deduzi que ele estava tão alegre assim porque provavelmente tinha passado mais uma noite sozinho em seu quarto, sem o Finn.

─ Ele não voltou? - Perguntei.

─ Não. - Ele disse alegremente, bebendo um gole de seu café.

Jack sabia que Finn sempre fazia esse tipo de coisa, por isso ele não estava ligando tanto assim pra ocasião. Na verdade, Jack provavelmente sabia mais sobre a fama de Finn do que eu, pelo simples fato de ele ter feito vários amigos em tão pouco tempo que lhe contavam.

─ Eu acho que vou falar com a diretora sobre isso. - Falei e Jack me olhou, sem entender. ─ Sabe, não me admira que essas coisas estranhas vivam acontecendo aqui. Fala sério, uma aluna sai da floresta ensanguentada, outro aluno some e a diretora parece simplesmente não se importar. Ela age como se nada disso acontecesse. E agora Finn não aparece já fazem quatro dias e é como se ele nem existisse.

─ Tecnicamente esse dia não acabou ainda então... - Jack falou, fazendo com que minha raiva diminuísse um pouquinho.

Depois de uma aula inteira de física pensando se iria ou não falar com a diretora, decidi que isso era o melhor a se fazer no final. Quando entrei em sua sala ela parecia mais mal humorada que o normal, e disse um ríspido "sente-se" sem nem ao menos olhar pra mim.

─ Senhora, eu queria falar sobre o Finn. - Falei enquanto me sentava.

A diretora ergueu o olhar para mim e  cruzou os dedos sobre a mesa, pareceu mais interessada de repente. ─ E então?

─ Já tem alguns dias que ninguém vê ele em lugar nenhum. A senhora não acha isso estranho ?

A diretora deu um risinho.
─ Então era isso. - Ela pareceu menos interessada de repente. ─ Não senhorita, não acho isso nada estranho, na verdade acho que você deveria seguir sua rotinha normalmente sem se preocupar.

─ Você tá dizendo pra eu ignorar o fato de que um aluno sumiu? - Falei indignada.

─ Mas não é qualquer aluno, não é? - Vi seus óculos redondos cintilarem ao falar aquilo.

O que essa mulher estava insinuando afinal? Ela sabia que Finn era "próximo" a mim pra dizer uma coisa dessas?

─ Escute, ele vai aparecer. - Ela falou. ─ Agora vá pra sua aula.

Suspirei.
─ Então você não vai fazer nada?

─ Tem coisas aqui que você não entende, criança. Eu tenho ordens diretas dos responsáveis dele. Agora saia da minha sala, você está me dando enxaqueca . - Ela disse apoiando a cabeça em sua mão.

Andei pelos corredores barulhentos pensando no que a diretora me disse. "Tenho ordens diretas dos responsáveis dele". O que isso queria dizer? Que pra eles, Finn desaparecer assim era uma coisa normal? E por que ela disse "os responsáveis" e não "os pais" ?

Eu sabia que isso era loucura e provavelmente daria errado, mas eu tinha uma idéia.

Passei o resto das aulas viajando, pensando em como faria aquilo. Quando chegou a hora do jantar não desci, fiquei no meu quarto e quando Jess e Kate voltaram perguntei pra Jess se o relógio dela podia ficar na minha escrivaninha aquela noite, ela concordou sem questionar e o coloquei para despertar. Acordei no primeiro toque, as duas da madrugada. Por sorte, Kate e Jess continuaram com seus sonhos.

Levantei e procurei entre as roupas que eu tinha guardado no primeiro dia em que cheguei no internato. No fundo, estava meu celular. Os celulares eram permitidos aos domingos, mas como não tinha nenhuma rede de wifi por perto quase ninguém usava. Mas eu tinha acabado de encontrar um bom uso pra ele aquela noite.

─ Por favor tenha bateria. - Sussurrei enquanto apertava o botão de ligar.

Ele ligou e eu comemorei em silêncio, depois acendi a lanterna e sai lentamente do quarto. Caminhei pelos corredores escuros e silenciosos por um bom tempo, me perdi uma ou duas vezes até encontrar o que eu estava procurando : a sala da diretora.

Girei a maçaneta lentamente e me surpreendi por não estar trancada. Provavelmente a diretora tinha esquecido, ou ela não acreditava que alguém teria mesmo a coragem de entrar lá. Mas aqui estava eu não é mesmo ?

Entrei, fui até o armário e procurei pelos documentos de Finn. Certamente teria o número dos "responsáveis" dele lá em algum lugar. E essa era minha idéia. Eu iria pegar o número deles e usar o telefone da diretora para informar que que Finn tinha sumido. Eles provavelmente fariam alguma coisa.

Depois de muito tempo revirando a papelada de vários alunos diferentes eu finalmente encontrei. Ao abrir encontrei uma foto de Finn na primeira página, ele estava sério e parecia ter sido forçado a tirar aquela foto. Estranho, eu não lembro de ter precisado tirar nenhuma foto pra entrar no internato. Depois de um bom tempo olhando percebi que aquilo não se parecia nada com a fixa escolar do internato. Estava mais pra um arquivo de investigação ou algo do tipo. Continuei olhando as páginas até que de repente caiu de dentro um pedaço de uma matéria de jornal que dizia : "Milionários morrem em incêndio misterioso causado em uma de suas casas, o único sobrevivente foi o filho do casal, que não estava dentro da residência quando aconteceu."

Fechei aquilo rapidamente. Que merda estava acontecendo? Por que a diretora tinha uma coisa dessas guardada? Eu estava prestes a por aquilo de volta no lugar e sair de lá o mais rápido possível, quando uma voz masculina soou atrás de mim :

─ Se divertindo ?

Internato | Finn WolfhardWhere stories live. Discover now