22.

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Mesmo que acabada de sair dos braços do Americano, Evelyn sacudia a vontade de estar neles outra vez para um todo sempre. "Mas o que é que...", murmurou ela, assim que avistou Ashton com Ava. Entravam os dois para a sala, mas ele parecia estar a tentar evitá-la. Pelo menos nem a olhava direito... Mas mesmo assim. Que imagem torturante para Evelyn. Ver Ava ali, tocar nele como se fosse propriedade dela! Numa tentativa desesperada de afastar os pensamentos desagradáveis que lhe corriam pela cabeça, Evelyn lembrava o que tinha combinado com ele. Calma, muita calma. Inspirou fundo, e foi até ao seu cacifo antes de seguir para a aula. Já só se ouvia os ecos dos estudantes a entrarem para as respetivas salas, e a fecharem portas. Evelyn viu-se sozinha pelos corredores, espezinhando a luz da manhã chuvosa que jazia pelo chão branco e encerado. Esperava-o nervosa, treinando o que dizer e como o dizer! Olhou sobre o ombro, assim que ouviu um chiar de sapatilhas gastas...

- Noah - Murmurou Evelyn

- O que me querias falar? - Perguntou num tom prático - Rápido, antes que tenha de ouvir do meu professor! - E desde quando é que o Noah, o Baldas se importava com horários a cumprir? Parecia era estar mesmo num dia não

- Bem - Gaguejou Evelyn, ao ver a malícia nos olhos de Noah - Não me pareces bem

- E quê? Despacha-te lá miúda - Fletiu o braço num gesto de impaciência - Evelyn? O que queres?

- Nada esquece - Vacilou ela, completamente aterrorizada com o estado de Noah

[...]

Erguendo o pulso pela décima vez, Ashton olhou os ponteiros do relógio que marcavam meia hora de atraso por parte de Evelyn. Bufou nervoso. Sentia uma ânsia angustiante, como se pressentisse algo. Virou-se para trás e pôs-se a contar cabeças inexpressivamente. Como se Evelyn tivesse chegado do nada... E lá estivesse sentada na carteira, distraída na sua inocência. Mas não estava... Aquele lugar vazio mexia-lhe com os receios.

- Professor? - Pôs o dedo tremuloso no ar - Posso ir à casa de banho?

- Não teve tempo de ir no intervalo Irwin? - A resposta clássica de um professor quanto quer rebentar com a bexiga de um aluno, embora ir ao WC fosse só uma desculpa que Ashton desenrascou para se escapulir da aula - Vá lá

Agradecer? Nada. Ashton saiu disparado da carteira indo a correr sem rumo pelos corredores fora. Olhava cada esquina, cada porta, cada janela. Na sua mente só ocorria o pior dos piores. "O que é que foste fazer Evelyn?", Interrogava-se ele engolido a seco. Levou a mão ao peito tentando acalmar-se com pequenas batidas confortantes. Tudo o que o rodeava parecia não ter ordem. Não estava certo, nada estava certo! Parou com os dramas e apalpou os lados, procurando saber em qual dos bolsos estava o seu telemóvel. Assim que o alcançou não tardou até ter a máquina encostada ao ouvido, deserto de ouvir a voz de Evelyn. Um simples "Estou?" era o suficiente para o fazer retornar à calma. "O número que marcou não se encontra dis...", anulou a chamada, inconsolável. Deixou-se torturar por aquela voz viciada durante longos minutos, até se dar como vencido. Arrastou o passo de novo até à sala. Martin fitou a cara transbordante de preocupação de Ashton, acabado de entrar na sala. Repreender o aluno pela demora? Não. Embora exigente, o professor Martin tinha uma grande capacidade de compreensão. Deixá-lo estar pareceu-lhe o melhor.

[...]

A sua felicidade entrou em combustão com o temperamento de Ashton. Assim que o Americano avistou Noah mais seu grupo armarem-se entre os mais fracos, estragou-lhes a diversão.

- O que é que tu fizeste à Eve meu grande urso? - Atirou Noah para o chão apenas com uma simples carga de ombro

- Filho de uma puta! - Gritou o loiro estatelado, enquanto os seus "Sim-Senhor" o tentavam levantar - Vais morrer hoje

- Estás doido? - Reagiu Oliver sem saber para que lado se virar - Vai-te embora Irwin!

- Não vou - Opôs-se Ashton - Este rapaz vai-me dizer o que fez à Evelyn

O clã olhou para o Americano do modo mais desagradável possível. Tinham expressões famintas... E furiosas. Ergueram-se brutos como autênticos sanguinários. Ou era do momento, ou Ashton até os conseguia ouvir rosnar dado ao ódio com que lhe estavam. Afinal de contas Ashton tinhas-lhe derrubado o Líder. O supremo. O todo-poderoso, que nada valia sem os seus amigalhotes lambe-botas. O primeiro a avançar foi Ryan, que ao preparar-se para esmurrar Ashton foi detido por Oliver, que se pôs na frente.

- Oliver! - Reagiu Ryan

- Pára! Não sejas como o resto Ryan. - Pediu Oliver invocando todas as suas esperanças

- Afasta-te não preciso de defensores - Falou o orgulho de Ashton, que lhe custou um murro na face

- Connor! Ryan! Oliver! - Chamou-os Noah, suspendendo o Americano atordoado no ar com as suas próprias mãos – Vão embora, já! - Ordenou arregalando bem os seus olhos azuis, intimidando tudo e todos

- Eu não vou a lado nenhum, larguem-me caramba! - Balbuciava Oliver, enquanto era arrastado para longe - Ashton acorda! Façam alguma coisa - Soltava os últimos gritos sumidos à distancia. Mas quem iria socorrer, quem? Quando nem os professores e derivados se atreviam a interromper. A cena estava negra para o lado de Ashton

Noah voltou a encarar Ashton rindo-se como se tivesse um grande troféu entre mãos. E será que não tinha mesmo? Não literalmente mas no sentido figurativo. O namorado de Evelyn arqueou o lábio como se repugnado.

- Agora tu e eu, vamos falar! - Exclamou Noah - Mas não aqui - Olhou em volta, vendo demasiada atenção em cima deles - Lá fora, se é que tens tomates!

[...]

Cenário digno de cinema. Chovia a cântaros. Noah e Ashton estavam finalmente frente a frente. Nada se não o vazio de um jardim deserto, ou não estivesse a chuva e o vento a atacarem em força. As nuvens negras cobriam os dois jovens ambos com contas a ajustar, desde o primeiro dia em que os seus olhares se atravessaram um no outro.

- Os teus amigos não estão aqui para te proteger - Ripostou Ashton, atirando o casaco ao tempo agitado - Onde é que ela está

- Não sei mesmo do que estás a falar - Retorquiu Noah - Mas fazeres-me passar uma vergonha em frente de todos?

- Vergonha? - O Americano soltou uma risada incontrolável - Vergonha é tratares uma rapariga abaixo de cão... Não vales uma merda

- Cala-te! Do que sabes tu? - Assim que a voz de Noah se fez sentir o vento pareceu seguir-lhe as vibrações, fazendo chegar a Ashton uma rajada indomável - O que sabes tu da minha relação com a Evelyn? Intrometeste-te entre nós! Estragas-te tudo assim que metes-te cá os pés... Mas podes ter a certeza que... - Pausou para aguentar com a ventania

- Que o quê? Que te vais vingar - Riu-se Ashton - A Evelyn agora tem-me a mim, vem tu e mais uns quantos... Por ela aguento! VEM!

Noah como bom moço que era, fez-lhe a vontade. Atirou-se a Ashton, todo ele armado em raiva! Os dois pegaram-se brutalmente, como se o que tivessem provar valesse a morte de um deles ali mesmo. A tempestade e o rancor de Noah combinavam como um só... Parecia que os céus tinham-se juntado ao brigão, fazendo com que Ashton se desequilibrasse e caísse desamparado no chão que o recebeu. Noah aproveitou o seu ponto baixeza para pontapear o Americano com todas as suas forças. Ashton já só esperava o golpe de misericórdia... Mas quem o levou foi Noah, pelas costas do pescoço.

- Estás bem? - Ashton olhou com dificuldade para a silhueta debruçada entre as chuviscas abundantes

- Oliver!

- Anda, vamos embora antes que ele acorde - Pegou na mão do amigo, encavalitando-o em seus ombros

- Não! Eu preciso que ele me diga onde está a Evelyn - Insistiu Ashton colando-se ao corpo inconsciente de Noah - Onde está ela! - Perguntava sôfrego

- Ele não sabe dela, garanto-te! Estive com ele o tempo todo Irwin! - Assegurou Oliver, perante a teimosia inabalável de Ashton

[...]

"Onde estás? O que é que te aconteceu?", Torturava-se Ashton olhando pela janela do seu quarto. O tempo não se rendia, o que contribuía para a amargura do Americano. Mas para seu consolo Ethan já tinha posto a polícia a par de tudo, embora só pudessem atuar após quarenta e duas horas de desaparecimento. E até lá? Quem iria estar lá para Evelyn? Quem iria amparar o seu sofrimento e aflição? Ashton viu-se a falhar na sua promessa. De lhe estar sempre lá para todos os males. Não estava. Evelyn podia estar a morrer, mas ele não estava lá. Levado pela insanidade, Ashton desceu escadas até ao exterior. Mas não chegou para lá dos pequenos portões de ferro, Kellee agarrou-o a tempo. Deixando os joelhos cair sobre o chão, marcado pela chuva, Ashton berrou. E toda natureza revoltada, chorava com ele. Compreendia o seu desespero.



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evelyn | irwinDonde viven las historias. Descúbrelo ahora