Capítulo 26: Blecaute

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Lena Gellar

Após mergulharem na extensa hidromassagem, Lena decidira tomar uma ducha no banheiro de seu chefe. Adam gostara da ideia e esperou Lena do lado de fora após ela insistir que, apesar das costas, já conseguia cuidar de si mesma sozinha. Depois que ela saiu, ele também resolveu banhar-se rapidamente. 

No início do mundo, disse Deus: "Haja luz", e houve luz

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No início do mundo, disse Deus: "Haja luz", e houve luz. Lena lembrava-se disto, vagamente. Fazia um bom tempo em que ela não ia para a igreja metodista de Birmingham. Mas certas coisas são difíceis de esquecer. Não importa a distância, elas nos perseguem e cravam-se em nossas mentes. Ela sabia que o todo poderoso tinha criado o céu e a terra, e que a luz viera só depois. Ele chamara a luz de dia, e as trevas de noite. E curiosamente estes fenômenos se repetiam aos olhos de Lena, de modo reverso. Como se o mundo estivesse sendo desconstruído pelo próprio diabo.

O céu de Birmingham estava escuro, não havia como distinguir se era dia ou noite — embora o grande relógio, em cima da porta de entrada, mostrasse ser apenas oito horas da manhã. Quanto à luz, estava dissipando-se do Pare & Compre. Uma a uma, as lâmpadas falhavam; mergulhando ambos os jovens na escuridão:

— Isto não está me cheirando bem. — Esbravejou Adam, olhando o aterrorizador clima que se perpetuava do lado de fora. Por uma das janelas da enorme praça de alimentação.

Parecia o fim do mundo. O apocalipse dentro do Pare & Compre. Lena estava aterrorizada. Se Deus criou o mundo, ele poderia "descriá-lo" em questão de minutos; isto era óbvio.

— Parece o fim do mundo. — Disse Adam, como se estivesse lendo os pensamentos da garota.

Lena arregalou os olhos e encarou-o, absorvendo um pouco de racionalidade. O planeta não poderia estar chegando ao fim, afinal, o tornado estava atingindo apenas uma parcela dele:

— Não, Adam. Não é o fim do mundo. Mas talvez de Birmingham. — Corrigiu-o Lena, compartilhando o escabroso fato.

Eles estavam sentados em uma das mesas do refeitório, de volta às suas roupas de moletom.

— Como você mesma disse... Nós vamos morrer. — Comentou Adam, ironicamente triste.

— Ai, Adam, não exagere! Fora só uma maneira de expressão. Uma infeliz escolha de palavras. Não vamos morrer! — Disse Lena, tentando convencer o garoto do contrário. Mas se nem ela acreditava em si mesma, quem dirá alguém.

Então a prometida chuva começou a cair. Despencando de nuvens tão escuras quanto carvão.

— Estamos ferrados! — Liberou Lena, desistindo de fingir.

O barulho do tilintar das gotas, caindo sob o teto do Pare & Compre, mais pareciam como pedregulhos. A ventania do lado de fora estava forte. Tão forte que parecia estar prestes a quebrar as janelas do Pare & Compre.

— Quando foi a última vez que vimos ao noticiário? — Perguntou Lena, encarando Adam. Ela não sabia porque havia perguntado aquilo. Ela sabia a resposta. Mas era uma resposta ruim e esperava que o rapaz tivesse outra mais animadora.

— Sei lá.

— Exatamente! — Exclamou Lena, entristecida. Não, Adam não tinha uma resposta mais animadora. E então, ela continuou: — Ficamos tão preocupados em brigar, andar de patins... — Ela parou por um instante, tentando não soar grossa e menosprezar o momento que ambos tinham passado juntos: —..., ficamos tão focados em mergulhar em banheiras que nem nos demos conta da nossa verdadeira obrigação.

— O passeio de patins foi ótimo. — Protestou o garoto, tentando dispersar o sentimento de decepção.

— Não foi isso que eu quis dizer e você sabe disto. É claro que eu gostei do momento em si, mas não era a prioridade.

— É muito bom ver o quão fácil você descarta as pessoas...

Antes que Adam pudesse terminar, Lena levantou-se da cadeira, distanciando-se da mesa. Adam Craig levantou-se e a alcançou. Agarrando-a gentilmente pelos braços, ele a puxou para longe dali; em direção a sala de descanso dos funcionários.

— Oras, se está tão preocupada por ter perdido algum inútil-programa-jornalístico, não seja por isto. Alguma emissora pode estar neste exato momento falando novidades. Vamos até a sala de descanso e checar a televisão. — Sua voz estava baixa, mas tinha raiva e grosseria empregada nela. E fora só ele dar a sugestão, e o Pare & Compre mergulhou-se na mais absoluta escuridão. As lâmpadas, que antes falhavam, desligaram-se quase que ao mesmo tempo, e todos os equipamentos plugados a tomada pararam de funcionar. O ambiente tornou-se trevas, e Deus não estava disposto a criar luz.

Lena e Adam pararam de andar, e a garota desvencilhou-se das grandes mãos do rapaz.

— Tá de brincadeira, né, Jesus? — Reclamou Adam, olhando para cima em direção as lâmpadas fosforescentes. — Faltar energia justo agora?

— Olhe só, Adam! Pensamentos positivos. Está bem? — Choramingou Lena, assustada, semicerrando os olhos. Tentando enxergar na escuridão. — Não temos notícias do tornado desde a minha quase morte. Talvez ele tenha ido embora. E agora só venha um forte e passageiro temporal. Hã?

Lena observou ao redor, tentando situar-se de onde estavam. Eles haviam caminhado bastante e parado na seção de carnes e aves. A garota percebeu que se a luz não voltasse rápido, todos os alimentos do ambiente estragariam num piscar de olhos.

— Já era. Agora sim vamos morrer! — Adam riu, desesperadamente. Uma veia, como se estivesse inflamada, marcando a testa.

— Que pessimismo é este, garoto? Cadê sua esperança?

— Eu sou realista. — Defendeu-se Adam.

Um trovão soou ao fundo. Um trovão forte e surrealmente assustador.

— Droga... droga... droga... — Repetia Lena, fechando os olhos e tentando ter alguma ideia para fugir dali. Alguma ideia para escapar de Birmingham.

— Droga?! Que palavra mais feia, garotinha. Que palavra mais negativa.

— O que é que tem?

— Cadê sua esperança? — Provocou Adam de volta, usando as palavras da garota contra ela mesma.

— Cale a boca! — Mandou Lena, incrivelmente brava.

A Série Stay With Me: Next To You (Livro 1)Where stories live. Discover now